15.5.04

"SEM MEDIDAS"

Não tenho a certeza, mas suspeito que, hoje ou por estes dias, passa o "dia da família". Percebo isso pelas páginas que alguns jornais dedicam ao assunto. E percebo igualmente pela circunstância de haver uma "comissão", presumo que "nacional", para tratar dela, da "família". A sua presidente, aliás, parece que anda descontente com o governo (este) que a nomeou. Há uns meses, o Dr. Barroso e o cristão Félix, anunciaram cem medidas para a "família", coisa que incluia benefícios fiscais e outro tipo de facilidades. Sucede que os apertos orçamentais em curso transformaram aparentemente as "cem medidas" em "sem medidas", segundo a dita presidente. E nem Barroso nem Bagão querem ouvir falar em comemorações, não vá estender-se alguma mão inoportunamente pedinchosa. Este desvelo oficial e oficioso, mesmo que virtual, pela entidade "família" e, particularmente, pela "numerosa", incomoda-me. Julgo até que prejudica o princípio da igualdade, uma velharia constitucional em crescente desuso. Tanto direito têm as famílias a ter uma "comissão", como aqueles para quem esse vocábulo significa estar sozinho, a dois ou a três, e sem "pequenos monstros sem pescoço"(Tennessee Williams)a rondar a casa. Hoje em dia, a "família" não é uma base "sólida" seja para o que for. E muito boa gente prefere de longe a companhia de desconhecidos e de amigos, à de parentes, maridos, mulheres, ascendentes e descendentes que o acaso do sangue lhes pôs no nome e na vida. Celebrar agora a "família" é uma mera mistificação política sem substância. Não admira, pois, que até este piedoso governo a deixe "sem medidas".

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