DE BESTAS A BESTIAIS
Uma perigosa euforia percorreu hoje o País. Desde o Presidente da República à segunda figura do Estado, do primeiro-ministro aos anónimos do Bolhão, todos acharam que a vitória de um clube de futebol português, num torneio europeu, é o sinal de que acabou a "depressão" e a "disforia", e de que estamos a entrar num novo ciclo. De acordo com os mais altos dignatários do Estado, o FCP fechou as portas à deprimente situação económica, ao desemprego, ao insinuante perfume dos "interesses" e à mediocridade generalizada da vida pública. Daqui em diante só nos esperam, pois, venturas e sucessos múltiplos. Só o Sr. Mourinho é que não terá percebido esta feliz evidência e, mal acabou o jogo, já estava "noutra", e bem longe daqui, naturalmente. Acontece que o País é o mesmo de há dois dias atrás, sem tirar nem pôr. E não se ganha nada em varrer a realidade para debaixo de efémeras glórias. Estes género de paliativos só ajuda a cavar mais fundo o imenso buraco em que estamos verdadeiramente enredados. Continuamos a ser as mesmas bestas de ontem que, por um passo de mágica, e a bem da Nação, passaram por uns instantes a bestiais.
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