22.5.04

O PARTIDO III

Até ao momento, o primeiro-ministro ainda não fez nenhuma remodelação do governo. Ou, pelo menos, uma que dependesse da sua suposta soberana vontade. Mudou sempre de pessoas por motivos claramente alheios a ela. Fosse porque uma mentira, uma "cunha", uma ambição de parvenu ou um "negócio" falassem mais alto, o certo é que Barroso jamais comandou verdadeiramente as alterações no seu governo. A sua margem de manobra também não é das maiores. De facto, para quem, como eu, assistiu à "convenção" do partido, em Fevereiro de 2002, antes das eleições, onde desfilaram criaturas com um mínimo de qualidade em apoio de Barroso, o governo de coligação que se seguiu foi, desde os primórdios, uma desilusão. Começou mal em muitos ministérios, piorou significativamente nos secretários de Estado e, daqui em diante, só poderá oscilar entre os resquícios cavaquistas e o rebotalho. Para um governo de "maioria", é paupérrimo. Curiosamente, é este homem um tanto ou quanto despistado que, na abertura do congresso, pediu aos militantes para "confiarem nele". "Confiem em mim, confiem em mim", gritou Barroso aos congressistas a propósito da escolha de um candidato presidencial. A "confiança" é tanta que personagens irrelevantes como Guilherme Silva ou "sábios", como Morais Sarmento, desvalorizam a "coligação" para o futuro, apesar de ela ir a votos daqui a três semanas... De Santana Lopes falar-se-á depois. Não é saudável para nenhum partido democrático qualquer tipo de falso unanimismo albanês em torno do líder. Barroso vai ficar na história do partido como "o líder da aliança com o PP", cuja primeira avaliação real está prestes a ocorrer, mesmo sendo no contexto de eleições europeias. E a sua "Força Portugal" pouco mais deverá merecer do País do que desprezo.

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