AUTO-ESTIMA NACIONAL PARA MAIORES DE 18 ANOS
João Ubaldo Ribeiro
Tinha pensado em escrever qualquer coisa sobre o "optimismo", visto através dos olhos do Dr. Barroso e fonte de inomináveis tragédias que a história, a nossa e a dos outros, regista. Porém, a prosa de João Ubaldo Ribeiro, a que aludi em post anterior, A Casa dos Budas Ditosos, inclui uma elogiosa referência aos portugueses que se coaduna perfeitamente com o espírito "ganhador" e com a "auto-estima" que Barroso quer, à viva força, que partilhemos. Na peça representada por Fernanda Torres, não é dita toda a passagem. Não sei se foi por causa disto que, à altura do lançamento do livro em Portugal, houve hipermercados (como sabemos, os locais mais indicados para comprar livros...)que pura e simplesmente o esconderam. Fosse o que fosse, é sempre a mesma atrevida ignorância doméstica que censura. Vejamos, pois, como Ubaldo Ribeiro metaforicamente nos representa pela voz da anónima libertina "CLB", elevando, da melhor maneira possível, a célebre "auto-estima" nacional.
...só me lembra um português, Nuno, um português lindo que foi meu caso uns tempos, José Nuno, lindo. Aliás, fode-se muito bem em Portugal, ao contrário do que eu suponho ser a opinião generalizada. Mas eu quase nunca gozava com o Zé Nuno, porque, no momento culminante, ele urrava "não t'acanhes, não t'acanhes", e o meu ponto G acionava o disjuntor no ato, eu entrava em crises de riso e depois roçava na bunda dele, ele adorava, embora fosse machíssimo como todo português, inclusive os veados - paneleiros, para ficar com a usança portuguesa e emprestar alguma cor local à narrativa -, os paneleiros que se juntam nos arredores do Campo Pequeno, onde se fazem ash curridash d'toirosh em L'shboa e vão trabalhar como forcados, que são uma espécie de veados parrudos que vão enfrentar os touros no peito. Em fila, trenzinho, um encostando a bunda no de trás, naturalmente. E depois vão às tascas, aos copos e à veadagem, são veados machíssimos. Vi muitas belas bundas em Portugal, que lá não são chamadas de bundas, mas de cu mesmo, que lá nem é palavrão, veja como são as coisas, grande país subestimado. Bundas de homens e mulheres. Toda mulher portuguesa dá a bunda, ou pelo menos dava, para manter a santa virgindade vaginal, como aqui. Hoje, com a entrada na Comunidade Européia e outras mudanças - eles hoje detestam o Brasil, sabia? português de-tes-ta o Brasil, com a exceção do Mário Soares, do Saramago, do José Carlos Vasconcelos e dois ou três outros gatos pingados, desprezam mesmo, é uma pena -, não sei mais com estão as coisas. Provavelmente nunca mais será ouvida a pergunta imortal que um amigo meu escutou, depois de enfrentar galhardamente a primeira com uma portuguesa belíssima, ele que antes estava até com medo de broxar. Ele me contou que, satisfeito e aliviadíssimo, estava fumando o tradicional cigarrinho "post coitum", quando ela olhou para ele e falou: "E ao cu, não me vais?". Fantástico, disse ele; emocionante. E fui-lhe ao cu, disse ele, que maravilha. Imagine aqui no Brasil, uma mulher fazer uma pergunta dessas, não faz. Eu morei no bairro de Alvalade, dava para ir andando ao Campo Pequeno, cansei de ir às corridas somente para ver as bundas apertadinhas dos forcados. Sou contra essa teoria segundo a qual os brasileiros têm belas bundas e alimentam uma fixação patológica por bundas somente por causa dos africanos. Isto é preconceito, as belas bundas da nossa gente vêm tanto de África quanto de Portugal, tanto assim que eu não tenho sangue africano nenhum, pelo menos que eu saiba, e sempre portei uma bunda acima de qualquer crítica, até hoje não envergonho. Duvido que, se eu disser a algum homem que me coma e "ao cu, não me vais?", ele não vá imediatamente.
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