O DESFAZEDOR
O Opiniondesmaker pariu uma curiosa reflexão sobre os blogues, a escrita e, se calhar, "a vida". Para além disso, está bem escrita. Prova de que há mais vida para além, por exemplo, do filho do Dr. João Bigotte Chorão que também costuma andar acompanhado fora do mundo.
Passo, pois, a citar:
Desta merda. A porcaria de escrever práqui está a tornar-me uma flor estufada; mais instável, mais ao sabor dos humores e das humidades, mais auto-interpelativozinho, mais “e-agora-o-que-é-que-eu-escrevo”, mais “deixa-cá-ver-se-isto-ficou-benzinho”, mais “ai-mas-era-mesmo-preciso-escrever-assim?”,
mais coninha-de-sabão,
mais dependente do tremer da mão
mais amante da especulação mental,
e isto já me está a cheirar mal.
Se escrevo é porque não sei se valeu a pena ter escrito, se não escrevi é porque sou uma merda por não ter conseguido, se escrevi é porque não tinha nada melhor para estoirar a merda do tempo, se não arranjei tempo para escrever é porque sou outra merda ainda maior, se escrevi é porque fico a pensar se não podia antes ter ido comer um arrozinho de lingueirão, se não escrevi é porque bem podia ter escrito dado que o arroz estava uma merda, se escrevo é porque não ligam nenhuma à merda que eu escrevo, se não escrevo é porque assim é que ninguém lê esta merda de certeza; estou a atolar-me de “ses” e mais “ses”, bem acima da conta. E eu detesto ter dúvidas. Aliás, eu até acho que é a primeira vez que estou com dúvidas, vendo bem! Ter dúvidas é mesmo outra grande merda, só superada pela de ter hesitações. E – fim da pica – ainda descobri mais este ignóbil percalço de personalidade: então não é que às vezes, mesmo quando não me apetece escrever uma coisa depois não consigo passar sem a escrever!? Mas que merda é esta! E depois eu nem sou antropólogo, nem sou sociólogo, nem sou psicólogo, nem sou jornalista, nem cientista, nem halterofilista, nem vendedor de alpista
nem colunista, nem clonado,
nem cronista, nem encornado,
nem fadista, nem fadado,
nem de esquerda, nem do outro lado,
nem escritor, nem escriturado
nem esquecido, nem falado,
nem puta, nem deputado,
nem poeta, nem apanascado
Mas que merda é esta pá!? Tenho de aturar os outros, e agora ainda me tenho de aturar a mim mesmo também!? Ao menos mandem-me à merda, que eu não estou a conseguir sozinho.
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