O admirável líder não desiludiu. Sobretudo os fiéis, como teremos ocasião de ler nalguns jornais e blogues - de reter o extraordinário elogio a João Marcelino do DN - e de ouvir das costumeiras bocas. De resto, a sua boa imagem televisiva, treinada na mesma RTP com Santana Lopes, ajuda a passar uma "mensagem" que já nem massagem de um pequeno SPA do Cacém consegue ser. Sócrates pretende "responder aos problemas do momento mas sempre com os olhos no futuro", com "mais investimento público", designadamente a maravilhosa banda larga. TGV? Com certeza, consultem o site do engenheiro Lino, se fizerem favor, e vejam como nos preocupamos com a "análise custo/benefício em todos os investimentos públicos." Aliás, "por estarmos em crise devemos fazer aquilo que não podemos adiar mais", uma fantástica tese que "dá emprego" (só se for sazonal e lá bem mais para diante) tal como "os painéis solares, as escolas" e outra vez "a banda larga", tudo com "impacto no investimento, no emprego e na economia". Nada que Santos Silva, Pinho ou Lino não dissessem também. Quanto a Cavaco, Sócrates não pode estar mais de acordo com o Chefe de Estado apesar dos "recados" que deixou para "cada um pedalar a sua bicicleta". Ele "não está a responder a estatísticas", está a governar. Sem se rir, afirmou que "as divergências são transparentes, com respeito e cooperação institucional«" e que "não temos os valores políticos, a mesma mundividência" (qual será a mundividência de um homem sem mundo como Sócrates?). Para o admirável líder, as palavras de Cavaco (designadamente de há uns dias atrás) "não têm a ver com o governo, está a perceber?", pergunta directamente a um dos entrevistadores. Para mais, "tem sido uma constante na minha carreira política lutar contra o pessimismo" e contra "a promoção do pessimismo" (será isso que justifica a obsessão pelas corridinhas e pela saúde?). Tal tem como consequência, na cabeça do mundividente Sócrates, que "não compete a um 1º ministro anunciar previsões catastrofistas se não tiver elementos para isso:" Dito com mundividência: "há países que estão melhor que Portugal e países que estão muito pior." Sim senhor. Esqueceu-se, todavia, que a crise só começou em 2008 e que ele já cá anda desde 2005. Apesar de tudo, estava a criar "134 mil novos postos de trabalho" e olha "para a crise com humildade" (deve ser a única coisa para onde ele olha com humildade). "Não quer ouvir estes números?", insiste de novo para o entrevistador. Só "metade do nosso plano anti-crise são medidas dirigidas ao emprego." É provável. E o sucesso delas? Nada. E,mais adiante: "já viram a diferença que 87 euros fazem na vida das pessoas?" "Não quer ouvir estes números?" Chegam os três ao Freeport. O admirável líder manifesta o seu "respeito pela seriedade da investigação" porém alerta que é "tema que envenena". O quê, em concreto, não explica. Depois vem a campanha negra: "tentativa de assassinato político", "literatura da América Latina", "qualquer referência ao meu nome é um insulto e uma difamação", "sou vítima de um processo kafkiano", "a Judite de Sousa estava com imensa vontade de repetir o que se diz naquele vídeo, isso é apenas um insulto", como quem diz "ainda levas um processo em cima". O fundo da questão? "O licenciamento ambiental do projecto não só cumpriu todos os aspectos legais, como defendeu todos os aspectos de protecção ambiental relativos à ZPE«" e até a "queixa em Bruxelas foi arquivada". E as "mãos no fogo" por outros? "Não sei o que quer dizer com o pôr as mãos no fogo". Em suma, "eu confio na investigação", sobretudo para "identificar e punir alguém que tenha invocado o meu nome para obter vantagem ilegítima ou criminosa, se isso tiver acontecido." Sobre o Freeport, era esta a frase nuclear que era preciso deixar já que tudo o mais corresponde a "uma tentativa de esconder a motivação política de quem escreve a casa anónima." Quanto aos processos já intentados por ele - nove ou dez deles contra jornalistas - Sócrates explica: "não movi processos judiciais contra jornalistas mas contra indivíduos que me difamaram." Liberdade de imprensa? "A liberdade deve ter um limite" e não se fala mais nisso. Deu, até, um exemplo colorido. "O Jornal Nacional das Sextas na TVI é uma caça ao homem, um telejornal travestido." O homem vive "uma provação, uma cruz" e assegura que "não é assim que me vencem" porque "já fui vítima de várias campanhas negras". Judite de Sousa e Alberto de Carvalho não moveram entretanto os lábios para perguntar a Sócrates o que é que ele pensava do estado do rendimento nacional bruto, do estado das receitas públicas ou do spread decadente de um país que se endivida à razão de mais de dois milhões de euros, fora os juros, por hora. Terminaram os três - sempre era a RTP, a nossa, a dele - com um bocadinho de pura propaganda de borla para as europeias. Sócrates virou o disco e tocou o mesmo em uma hora. Boa noite e boa sorte.
19 comentários:
Vou aproveitar para ver nessa altura um DVD do Cristiano Rónaldo que alguém teve a infeliz ideia de dar ao meu filho mais novo há uns meses e que, desde essa altura, ele me tem tentado convencer a ver com ele. Vai ser hoje!
É desta que eu acabo "A Condição Humana" de Malraux. É capaz de ser menos aborrecido.
Vou mas é fazer ginástica, para esquecer o buraco em que estamos enfiados. Alguem quer saber das respostas às "perguntas" que o pessoal da RTP, bem amestrado, vai fazer ao rei da vigarolândia? Na volta, aquilo não é directo nenhum, está bem gravado com toda a montagem para se tornar um programa de sucesso...
PC
Vou ser mais trivial: vou passear o meu "labrador"...
Eu estou a ver!
Não me posso alhear!
Típico dos Portugueses e depois queixam-se...
monólogo da barca do inferno:
-de que morreste?
-samicas de caganeira!
2 milhões morrem de inanição
não assisto a "momentos chavez"
PQP
radical livre
O mestre compara o antes e o depois do défice público, e como os entrevistadores são o que são, não lhe perguntam qual é exactamente o valor do défice externo, e qual era antes. Também não lhe perguntam se o défice público causa ou não danos às empresas.
O JN já está a fazer propaganda com base na entrevista e esta nem acabou. É so ir a "www.jn.pt".
Um discurso é um discurso (trucidador, cilindrador de quem pergunta). Outra coisa é uma entrevista.
O PM adora controlar o tempo de antena à sua maneira, impositivo e monologante, e sabe que na RTP a sua versão lava mais branco. É mais um púlpito, o melhor. O seu. O primo está na China. O tio organizou o tal encontro, mas só a âncora de Marinho Pinto lhe serve de bóia. Está pesporrente, tenso e feroz, mexe-se muito, gesticula e declara sofrer uma cruz e ser vítima de um processo kafkiano, quando é ele o autor do enredo. Diz que o Governo já negou qualquer pressão. Negar resolve tudo. Apaga os e-mails. Nove processos judiciais contra jornalistas que o difamaram são afinal contra 'indivíduos que o difamaram'. Enfim, política de sarjeta. Está no seu palco e engole a Judite de cebolada e o José Alberto Carvalho. Ataca a TVI. E a seguir? Atacará também o Público, o Correio da Manhã?! Será que vai bater-se contra milhares de murmuradores que lhe apanharam o víciozinho de boca para urdir relatórios da OCDE que o não são?! Fripór, Fripór! E chamaram-lhe 'entrevista' sem se rirem. O homem lavou o fígado. Fez o seu discurso. Contou a sua história. Monologou e como aquilo é dele, para poviléu simplório deve bastar ou não fosse ele providencial.
Será que o querido líder irá processar também a Judite de Sousa pelas perguntas que lhe fez sobre o Freeport, citando as palavras do Charles Smith?
Imperdoável ninguém me ter avisado do "importantíssimo" facto; assim, não me passou ao lado, mas a milhas a perder de vista.
Será que perdi um "bom programa"?
Brevemente, irei saber nas próximas «isentas» sondagens.
Pela cara da Judite, ela já percebeu quem ali tem, ou então estava constipada.
O grande momento, mesmo a terminar, foi o comovente elogio ao director do DN, no seguimento do artigo que João Marcelino escreveu a "malhar" no telejornal das sextas-feiras da TVI. O tal noticiário que Sócrates chama de «telejornal travestido». Um «presente envenenado» para quem escreve no DN. Processa um jornalista do jornal da Avenida da Liberdade, que alegadamente o difama e, logo a seguir, elogia perante milhões de portugueses o director do mesmo jornal. Desconcertante.
http://civilizacaodoespectaculo.blogspot.com
NDS
1.Posso estar enganado, mas o que é público e notório, é que o nosso Admirável Kerido Líder tem processos contra nove jornalistas e não consta que tenha processado o súbdito de Sua Majestade, o clone da Maximiana da Quinta do Lago...
Por que será?
2.Neste momento na SIC-Notícias, os paineleiros do costume (um até estreou lacinho novo!)estão a dissertar (partindo pedra granítica!) sobre o vácuo, a insignificância e a irrelevância da prestação televisa do Sr.Inginheiro da Treta (isto fazendo fé nos blogues não doutrinários...), na tentativa vã de branquear a acção devastadora de tão diabólica criatura.
3.O meu cão, depois dum passeio à beira mar, está a implorar por um um "osso" e uma malga bem cheia...
Com a cruz para carregar
como sinal de provação,
há quem goste de propagar
uma repelente vitimização!
A bicicleta é para pedalar
exigindo alguma habilidade,
muitos gostam de veicular
uma tremenda falsidade!
O mexilhão desportista
também gosta de ciclismo,
uma imoralidade elitista
caracteriza o socialismo.
Foi uma peça de teatro bem encenada e melhor representada.
Faltou música de fundo, talvez o dono do blog tenha uma ideia.
ELE BEM NOS AVISOU QUE ERA UM ANIMAL FEROZ...........
Já se esqueceram?
Zé povinho
Pelo texto do João Gonçalves e pelos comentários, não perdi nada. Tudo velho, tudo na mesma:
- eu fiz, faço e farei mais e melhor do que alguém fez, faz e fará;
- vamos pagar a "pequena" dívida que temos (só 62% da riqueza gerada pelo país!) pedindo mais dinheiro emprestado para fazer umas coisas cujos custos de construção e manutenção serão muito maiores que os proveitos;
- os "recados" do PR para indefinidos e indiferenciados, S.Exa. não só os compreende, como os apoia e os secunda;
- sobre investigação criminal, parece que S.Exa. pensa que se alguém tiver conhecimento de factos que podem indiciar crimes ou ilícitos deve ser punido se, de alguma forma, alertar as autoridades para esses factos. Para S.Exa. isso é muito mais grave do que apurar se de facto algum crime ou ilícito foi praticado;
- sobre a liberdade de imprensa, S.Exa. acha que ela é necessária se for escrita automaticamente pelos computadores controlados remotamente pelos seus ministérios. Tudo o que não for assim pode ser obra de difamadores que devem ser punidos.
Tudo velho, nada de novo. Ainda bem que não dei tempo de antena nem contribuí para o presumível interesse nacional em ouvir o que S.Exa. tem a dizer. Para comícios que sejam pagos pelo PS e não pelo orçamento de Estado.
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