Um "contínuo" - carreira de há muito extinta e que a correcção passou a nomear como de "auxiliar" - deu por uns caixotes num lugar tão improvável como o Pendão, em Queluz, onde a Presidência do Conselho de Ministros possui um estaminé. Com tradicional desleixo e proverbial ignorância, foram removidos para o Pendão caixotes e caixotes que o senhor Agostinho, o dito "contínuo", percebeu que continham papéis "do Salazar". E não são coisas de um Salazar qualquer. É documentação dos tempos áureos do Estado Novo, entre 37 e 58, que antecederam a guerra colonial e a degenerescência fatal do regime. Parece que o que mais impressionou os "investigadores" e os "historiadores" que estão a vasculhar a papelada foi a atenção dada pelo então presidente do conselho aos detalhes. Nem o senhor Agostinho, nem o director da Torre do Tombo, nem os mencionados "historiadores" descobriram entretanto a roda. Salazar governou sempre o país assim: mesquinha e minuciosamente. Salazar sabia de tudo e tudo queria saber. A PVDE, depois PIDE, bem como outros organismos públicos tratavam de centralizar isso na sua veneranda pessoa. A diferença para os dias de hoje é que a dimensão da coisa era relativamente pequena e os meios pouco mais seriam do que toscos. Todavia, a sofisticação tecnológica e o relativismo democrático permitem a pessoas menos escrupulosas saber praticamente tudo o que quiserem, sobre o que quiserem e quando quiserem, de preferência em "tempo real". Qualquer polícia democrática, por mais imbecil ou amadora que seja, tem ao seu dispor recursos que, devidamente utilizados, colocam a profissional PIDE muito justamente esquecida no Pendão. Pior, pois, do que Salazar são os "salazarinhos" democráticos que andam por aí à solta. Longe do Pendão.
2 comentários:
Caro João Gonçalves, devo dizer-lhe que agora os auxiliares (vulgo contínuos) passaram a funcionários de acção educativa. E quanto a Salazar...resta saber se os documentos tem ou não, algo de relevante a dizer sobre o antigo Presidente do Conselho. Prógnosticos só no fim, como dizia o outro.
Nasci um ano antes da imposição da ditadura em Portugal. Menino ainda, apercebi-me, pelas conversas de familiares e de amigos desses familiares, que algo neste país lhes era absolutamente desagradável.
Com o decorrer do tempo e o alargamento da minha mente ao conhecimento de tudo o que me rodeava, foi-me possível perceber bem a aversão que meu Pai tinha ao sistema político imposto pelo golpe militar de Maio e que Salazar, em boa hora, continuou.
Por causa da bandalheira protagonizada pela canalha política dos últimos anos da monarquia e de todo o período da primeira república, o país estava de rastos, num caos. Era preciso pulso bem forte para levantar o país, e Salazar teve-o. Eram necessárias Ideias firmes para transformar um país decrépito, quase em ruínas no que respeita às finanças públicas, à segurança, à educação, num país apresentável no século vinte, que também não lhe faltaram.
Salazar não veio para a chefia do governo para adquirir notoriedade, para encher a burra da sua conta bancária, para poder passear no país e no estrangeiro à custa do povo e ser notado. Salazar era um homem trabalhador e dotado de uma inteligência ímpar e preparação académica invulgar, das quais já dera sobejas provas. Não era nenhum paspalho vaidoso à procura de riqueza, notoriedade imbecil e boa vida.
Deve ter cometido erros, como todo o ser humano. Mas aqueles que lhos apontam são perfeitamente insuspeitos? Compare-se, mas com verdadeira isenção, a actuação de Salazar em todo o seu campo de acção, com os seus principais detractores vindos já do tempo da outra senhora e a escumalha que a abrilada pariu.
Veio para o governo pobre e pobre saiu dele. Até na morte deu o exemplo que os seus detractores não seguem.
No período compreendido entre 1939 e 1945, quando a soberba, a sobranceria, a ânsia de predomínio, a estupidez e a cobardia humanas provocaram uma guerra horrorosa, o nosso país atravessou uma crise grave que se prolongou ainda até uns anos depois do fim da guerra. Foi tempo angustioso que vivi com os meus familiares, motivado pela falta de bens de primeira necessidade, falta muito aproveitada por candongueiros sem escrúpulos para darem largas à ambição de enriquecer rapidamente. Na região do Porto, cidade donde sou natural, houve quem passasse muita fome. A tuberculose grassava. Conheci gente do interior do país que chegou a comer sopa, se é que se podia chamar sopa, feita com as ervas que apanhava pelos caminhos, porque não tinham mais nada para pôr na panela. A tanto chegou a miséria.
Quem tem um conhecimento, mínimo que seja, da realidade, sabe muito bem que Portugal nunca teve nem terá, por razões que os agrónomos, os sociólogos honestos e outros da mesma qualidade podem explicar, capacidade para se bastar a si próprio. Havia, normalmente, necessidade de importar trigo, milho, feijão, carne – mesmo hoje, trinta e cinco anos depois das promessas da abrilada, nas grandes superfícies, a quase totalidade dos produtos de primeira necessidade que lá se vende é importada. E sendo um país muito dependente do exterior, não será de estranhar que entre em crise sempre que o mundo onde está inserido entra em convulsão.
Se Portugal, para ter a sua população condignamente alimentada, o que raramente acontece, precisa de importar grande parte dos alimentos que necessita, só por estupidez, espírito vingativo, cretinice ou ignorância, pode alguém afirmar que o período de fome que se teve de suportar foi uma consequência directa da ditadura de Salazar. Os merdas, quer da merda do socialismo, quer do socialismo de merda, e muitos outros, pobrezinhos, que tal afirmam não passam de reles velhacos. A falta de alimentos não foi provocada pela ditadura. Ela existiu também, e pelo mesmo motivo, na Grã-Bretanha, exemplo de democracia. E o motivo foi o bloqueio imposto à Europa pelos alemães. Sei como o faziam, porque tive um familiar, que foi tripulante num barco inglês, que me contava o que passava com os submarinos que os alemães colocaram em alguns mares.
E se, para muita besta ignorante, a fome que houve neste país de 1939 a 1945 foi provocada pela ditadura, legítimo é afirmar que a de agora foi provocada exclusivamente pela democracia.
Ao longo do tempo que me tem sido permitido viver, muitas afirmações de simples rancor e inveja têm chegado ao meu conhecimento. Como era parco nos gastos era avarento; porque gostava de usar botas-de-elástico, aproveitavam tal gosto para afirmar que era antiquado e chamavam-lhe o botas; porque era católico e amigo do Cardeal Cerejeira, espalhavam que Salazar só fazia o que aos padres convinha; porque não meteu os patrões e os ricos na cadeia, como desejavam alguns, nem os pôs perante o pelotão de fuzilamento, como ambicionavam outros, diziam que andava feito com eles.
A acção exercida pela PIDE foi tremenda; muitos erros foram cometidos mas também, foram evitadas muitas diabruras que poderiam ter tido consequências bem nefastas, como a entrega do país ao domínio dos sovietes, sonho maior dos merdas do socialismo. Mas a PIDE pode ser considerada uma necessidade? Julgo que sim. Após o início da sua actividade como Primeiro-ministro, não sei quantos anos haviam decorrido, Salazar escapou a um atentado que lhe foi preparado em Lisboa por merdas do socialismo. Felizmente saiu ileso. Mas como não é conveniente andar-se sempre ao sabor da sorte, tomou medidas para que tal não voltasse a acontecer. Sabia o que aconteceu ao rei D. Carlos; quem foram as pessoas que directa ou indirectamente estiveram envolvidas no regicídio, algumas delas ainda vivas e prontas repetir a façanha; não desconhecia a bandalheira da primeira república, com bombas a ser colocadas em todo o lado e a matar inocentes. Aproveitando os êxitos conseguidos no campo da prevenção por revoluções recentes, criou um serviço de vigilância e defesa que, no final da sua vigência, tinha a designação de PIDE. Para sua defesa pessoal, acabar com bombas e atentados, e para a defesa do país, impedir a subversão do país pelos merdas do socialismo, o que foi conseguido.
Não suporto ditaduras, seja qual for a ideologia que defendam e se escondam ou não sob o manto hipócrita da democracia. Gosto de falar sem peias dos problemas do meu país e chamar os bois pelos respectivos nomes. Se estou certo, óptimo. Se estou errado, que me apontem o erro, para o poder eliminar. Não ficarei a odiar quem me quiser corrigir.
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