"A nova "modernização"
"Anteontem, na abertura do congresso de Santarém, Sócrates, como se tivesse descoberto a pólvora, não parou de falar em "modernização". Cavaco, quando era primeiro-ministro, também não parava de falar em "modernização" e agora, como Presidente da República, continua impenitentemente a falar em "modernização". Sexta-feira juntou mesmo na Penha Longa 20 e tal empresários "mundiais" (AXA, Ericsson, Telefónica e por aí fora) a vinte e tal empresários portugueses, suponho que para educar e acicatar os portugueses, que já se "modernizaram" ou se querem "modernizar". Desde o século XVIII que Portugal periodicamente descobre com espanto e com terror que precisa de se "modernizar", como quem recebeu uma revelação inesperada e única, sem nunca lhe ocorrer que a segunda, a terceira ou centésima tentativa significa, de facto, que não se "moderniza". "Modernização" é uma palavra equívoca. À primeira vista parece indicar um "coisa boa". A cultura do Ocidente hoje quase não distingue "moderno" e "melhor". Mas, pensando bem, "modernizar" não passa, no fundo, de imitar. Ou seja, muito prosaicamente, de fazer o que se faz "lá fora". Ora fazer o que se faz "lá fora", como política e como programa, equivale por força a fazer pior. A cópia não vale por definição o original e, às vezes, nem copiar se pode. Os "modernizadores" (como Cavaco, por exemplo) acabam inevitavelmente por deixar um Portugal híbrido, "incompleto" e torto, que depressa reverte ao seu "atraso" e que em pouco tempo volta a pedir com desespero ou zelo missionário uma nova "modernização". Anteontem, vendo Sócrates, vi Cavaco e, vendo Cavaco, vi Caetano e, vendo Caetano, vi a longa fila de beneméritos, que tentaram, no ardor da sua inconsciência, transformar Portugal no "modelo" do dia: a Inglaterra ou a França, a Bélgica, a Suécia, a Irlanda, a Finlândia, e até a Espanha. O espantoso é que toda a gente ouve esta idiotia histórica, com a mesma credulidade e assombro com que sempre a ouviu. Num país normal, quem abrisse a boca para dizer "modernização" seria imediatamente corrido e sovado. Aqui, não. Aqui, o indígena gosta dessa velha missa e venera o oficiante. A "modernização" é uma espécie de milagre, que chegará por um caminho ínvio (a educação e a ciência) e que entretanto esconde a triste realidade portuguesa. Não é uma promessa prática, é um sinal de impotência.
por Vasco Pulido Valente, in Público, 12.11.06
6 comentários:
Bom dia,
A moda de citar VPV continua ! Mesmo que diga idiotices como :
"Os "modernizadores" ( como Cavaco , por ex. ) acabam inevitavelmente por deixar um Portugal hibrído, "incompleto" e torto, que depressa reveert ao seu "atraso" e que ...".
As aspas em modernizadores, incompleto e atraso servem para quê ?
E oq ue será um Portugal completo ?
Mas se após estas tentativas de modernizar ( sem aspas ) se volta para o anterior "atraso" ( com aspas ) esse atraso seria atarso ou não?
Cumprimentos
Já não há cu que aguente tanto VPV.
Este pateta de Oxford, inútil, bronco e alarve ao menos poderia ter mais estilo para apanhar azeitona em vez de andar a oficiar em jornais desonestos ou em universidades de duvidosa reputação.
"A cópia não vale por definição o original e, às vezes, nem copiar se pode"
Pense nisso, caro JG...pense lá nessa frase... estude-a...
Do Blasfémias:
"O nosso terceiro mundo
Ao ler certos opinion makers portugueses anos a fio, com o Vasco Pulido Valente à cabeça, nós corremos o risco de acreditar que eles estão a falar de um país do terceiro mundo, constituído por uma população generalizadamente pobre, irremediavelmente estulta e radicalmente irreformável. Mas não. Eles estão a falar de um dos países - e de uma das populações - mais desenvolvidos do mundo, na realidade, no top 15%.
Pedro Arroja às 22:40 | Muitas heresias (3)"
A rejeição a VPV é a rejeição da realidade. Porque é incómoda. Algo muito português. À esquerda e à direita.
Ó anónimo de cima, vá-se foder com a psicanálise.
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