Outra eterna promessa da "esquerda" portuguesa, Ivan Nunes, brinda-nos com uma prosa justificativa do seu apoio a Soares. Começa por, delicadamente, me considerar um "blogue de direita", num daqueles típicos juízos apressados de quem se acha - por ser de "esquerda" - subtil. Ainda mal deu os primeiros passos na recente conversão "soarista", e já Ivan aprendeu a cartilha da superioridade "moral"... Depois, explica por que é que no passado foi um crítico feroz de Soares - pelo menos uma vez em "letra de forma", num jornal -, ao ponto de o considerar "titubeante", uma coisa que não lembraria a ninguém dizer de Soares. Na altura, não gostava da ideia de que ele possuia um "estatuto de quase impunidade, uma condição de pai-da-pátria, dono-da-república, que quase o punha acima de qualquer crítica". "Esse estatuto era pernicioso", diz o Ivan, "era doentio - e, no entanto, quem não se lembrar dele não pode hoje imaginá-lo, olhando para a imprensa portuguesa dos dias que correm." E conclui melancolicamente que "bastantes soaristas de então estão hoje na primeira fila do cavaquismo." Aqui Ivan Nunes devia interrogar-se por que é assim. Com toda a consideração e estima, eu lembro-lhe que Soares se "lançou" precisamente por achar que é o "pai-da-pátria" e o "dono-da-república" e que goza, por isso mesmo, de um "estatuto de quase impunidade" que, entre outras coisas, lhe permite dizer tudo. Reconheço que no seu gesto, para além da vaidade pessoal, existe um espírito de combate e uma "vertigem de risco" notáveis que devem ser aplaudidos. Agora impôr esta teima a um partido, ficando ambos - o partido e o candidato - reféns um do outro, isso já é uma novidade desagradável. Soares foi duas vezes um brioso chefe de Estado e custa-me, como custa certamente a tantos "soaristas" repartidos por outras candidaturas, vê-lo metido nesta aventura reducionista. Basta ver a "comissão política", onde Ivan Nunes se senta, para perceber a falha.
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