O secretário geral do PS, exactamente nesta qualidade, vai andar - já andou - pelas secções e pelas federações do partido "a vender" o dr. Mário Soares às bases, na perspectiva de amortecer previsíveis defecções para Manuel Alegre. Tem, e porque já o repetiu, um argumentário curto e curioso. Soares já foi presidente, "em bom", Soares é "útil para o país" e Soares tem "prestígio internacional" pelo que, supôe-se, "vende-nos" melhor lá fora do que os seus putativos concorrentes. Medeiros Ferreira, que partilha o candidato com Sócrates, já pensa de outra maneira. Se atentarmos ao que escreveu sobre o apoio de Ramalho Eanes a Cavaco Silva, temos de concluir que Soares "devia manter-se neutral, porque a República precisa de reservas sérias", arriscando-se "a ficar subalternizado por subalternos". Voltando à visão "soarista" do primeiro-ministro, apenas uns vagos comentários. Soares foi, de facto, presidente, mas com dois mandatos politicamente distintos, como, aliás, os de Eanes. Se lhe "saísse" o Soares do segundo mandato, será que Sócrates continuava a achá-lo "útil" para o país? Quanto ao "prestígio internacional", Soares já tinha algum antes de ser presidente e, por exemplo, Sampaio não tinha nenhum antes de lá chegar. Por esta ordem de ideias, só ex-presidentes poderiam suceder a presidentes, o que nos esgotaria, rapidamente e por exaustão, as tais "reservas sérias" a que alude M. Ferreira, provavelmente já a pensar nos setenta e tal anos de Sampaio e nos oitenta e tal de Eanes. Sócrates tem, de facto, um problema. Desconhece o "efeito" Alegre e, mais preocupante do que esse, conhece o não-efeito Soares. Sócrates pressente - e bem - que o partido não está excitado com Soares e que, desta vez, não vale a pena "teatralizar" excessivamente a coisa. Estes "elogios" ao candidato - perfeitinhos, triviais e muito enxutos - são a consequência deste pathos e um gesto de inteligência política do primeiro-ministro. Sócrates cede a "logística" mas quer deixar tudo nas mãos de Soares. Para o efeito, recorda-lhe todos os dias o "prestígio" que ele tem. Se falhar, a culpa não é dele.
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