1. O PS ainda não percebeu o que lhe aconteceu nas eleições de 20 de Fevereiro. Não percebeu que não ganhou a "esquerda", nem percebeu que ganhou, sim, um aliado meramente circunstancial chamado "centro". Toda a "esquerda", nesse dia, subiu, como ontem, pelo menos o PC, subiu. Um PC que subiu, aliás, "à conta" da sua bem orquestrada campanha contra o PS e contra o governo. O Bloco contou pouco nestas autárquicas, apesar de todo o folclore. Em Lisboa, na hora da despedida, Carrilho esteve quase tão mal como durante toda a campanha. Mais do que ter perdido, ele próprio acabou perdendo-se pelo caminho, encarnando a candidatura indesculpavelmente mais pífia de todas. A Jorge Coelho, o "coordenador" derrotado, teria ficado bem ter aparecido ao lado de um duplamente abandonado João Soares, em Sintra: à sua pouca sorte e à sua condição de "menino grande" que o pai não deixa "crescer".
2. O eleitorado, uma vez resolvida tranquilamente a crise governativa há cerca de seis meses, "recompôs-se" com naturalidade e sem dramas, nas autárquicas, sobretudo em redor dos chamados grandes centros urbanos e decisores. Nada, em geral, que deva perturbar a "estabilidade socrática", recomendada, entre outros, por Cavaco Silva. Nem mesmo o sucesso claro de Marques Mendes. As vitórias dos "independentes" populistas - lamentáveis e democraticamente sombrias - vêm no "pacote" democrático, pelo seu lado perverso e malsão.
3. A "esquerda" que escapou à supervisão do PS, logo em Fevereiro e ontem reforçada, veio para ficar. O pretexto vai ser a eleição presidencial que hoje começa. Há dois dias, no Diário de Notícias, Vitor Ramalho, um valente apoiante de Mário Soares, publicava um risível artigo encomiástico que deve ter feito corar de vergonha o seu candidato. Soares, no lastro do lançamento precipitado e tosco da sua recandidatura, por um lado, e do resultado das autárquicas, por outro - alguém lembrou outro dia que M. Soares pediu ao partido para "lhe ganhar" Lisboa e Sintra, pelo menos -, passa a precisar da "esquerda" como de pão para a boca. Acontece que, nem Louçã, o pregador eterno, nem Jerónimo de Sousa, o combatente feroz pelo seu "território", estão interessados na escolástica soarista. Quem sabe se Manuel Alegre não se vem a revelar mais "tentador" para esta gente do que o "fundador". Ou mesmo, sabendo de antemão que muito do seu eleitorado poderá "perder-se" para Cavaco, apostar apenas na "luta que continua" e que, pelos vistos, dá votos.
4. Voltando ao início da conversa, a "não esquerda" que votou PS para se livrar de Santana Lopes, quer basicamente duas coisas. Que o governo, em estabilidade, governe, entre o "razoavelmente" e o "bem". E que, governando, o faça com crediblidade, sem desvios paroquiais ou incontinências "familiares". O resto virá por si.
Sem comentários:
Enviar um comentário