23.11.04

SEM EMENDA

Depois de um belo serão wagneriano proporcionado pela Orquestra da Ópera de Berlim, no Coliseu, o telemóvel traz-me a notícia de mais uma alteração na direcção do nosso único teatro de ópera, o São Carlos. Como de costume, Paolo Pinamonti o director, diria que praticamente eterno, fica inamovível. A senhora que entrou comigo em 2002, certamente num acesso final de inesperado bom senso, demitiu-se. O ministério da Cultura, seguindo os bons exemplos do "chefe", recorreu ao que havia para preencher os lugares. Tirou do D. Maria e pôs na Companhia Nacional de Ballet, tirou desta e pôs no São Carlos e foi ao coro do próprio São Carlos buscar um coralista-jurista de larga polivalência para o colocar na direcção ao lado do inefável Pinamonti. Por causa da sua boa experiência na CNB, pode ser que Carlos Vargas, o homem agora com o "pelouro" financeiro do São Carlos, possa colocar alguns travões a muitas coisas e se olhe finalmente para a "fatia" maior dos dinheiros do Teatro (a do "funcionamento") para a gerir melhor e diferentemente. E passando, sempre que for preciso, por cima de Pinamonti sem que corra o risco de lhe tirarem, como tem sido costume, o tapete. Já nas Farpas, em 1872, Eça e Ramalho alertavam o governo para a circunstãncia de, "no seu saco", não reunir "uma única razão para subsidiar S. Carlos: nem é um elemento de civilização, nem um centro da arte nacional, nem uma escola de artistas, nem um aproveitamento geral do país!" Em suma, como diria Iago, no Otello, "ele é o que é". Provavelmente sem emenda.

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