18.11.04

ATÉ QUANDO?

Uma rápida olhadela à secção "cultural" das edições de hoje de alguns jornais, é bem elucidativa da profunda ignorância em que normalmente vegeta o "jornalismo cultural". O director artístico do Teatro Nacional de São Carlos apresentou a "sua" temporada, ladeado por Teresa Caeiro, em representação do governo. Maria João Bustorff faz bem em não se misturar com equívocos. As crónicas anunciam uma "temporada" operática e sinfónica como nada se passasse, ou seja, sem uma interrogação sobre o que é que tem sido, e ameaça continuar a ser, a "gestão Pinamonti". Aos jornalistas basta-lhes que lhes acenem com uns nomes e uns títulos para começarem instantaneamente a babar-se. Ficamos sempre um bocadinho "mais europeus" e "mais civilizados" por termos sido tocados pela graça de um Pinamonti. O orçamento ainda não foi aprovado? A secretária de Estado não sabe que formato jurídico-financeiro o Teatro vai assumir? As obras da "cafetaria" não estão concluídas? O que é que isto tudo interessa desde que Pinamonti possa apresentar-se como o "herói" incompreendido pelo Estado e a quem o São Carlos tudo deve desde 2001? Conviria explicar a estes epígonos que a história do Teatro, a verdadeira, sobreleva em absoluto este recente deslumbramento tipicamente provinciano. Por que será que nunca nenhum destes esclarecidos "jornalistas" se lembrou de perguntar a Pinamonti como é que ele gere a maior "fatia" do dinheiro que o Estado dá ao Teatro todos os anos para o respectivo "funcionamento"? Só se preocupam com os 3 milhões de euros para as "produções artísticas" que permitem escrever umas colunas sofríveis de vez em quando e acrescentar quatro linhas ao currículo do director? E os restantes 10 milhões, como é que funcionam, em quê, para quê e para quem? O governo e Pinamonti continuam a varrer o essencial para debaixo do tapete para que a ilusão continue. Até quando?

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