16.4.07

DA REPÚBLICA



Não me é simpática a ideia do anonimato. Na blogosfera ele floresce como cogumelos venenosos. Todavia, quando leio muita da javardice que eminências do jornalismo e da nossa risível "academia" escrevem ou debitam nos mais diversos media, percebo melhor a emergência da famosa "maioria silenciosa". Essa "maioria" pode oscilar entre o puro escarro e o sublime. Depois das peripécias dos últimos dias e semanas - com origem bem clara na blogosfera e, depois, num jornal em quem ninguém pegou para depois se tornar o tema "puta da República à portuguesa" - a blogosfera acedeu a um patamar inesperado para o regime e do qual dificilmente já sairá. Isto porque os media tradicionais - quase todos dirigidos, apascentados e comandados à distância pelo dito regime - "vivem" de transformar "questões duras" em "questões moles", e vice-versa. É, uma vez mais, "a puta da República" a funcionar. A pergunta feita um dia por Pacheco Pereira em um outro contexto - "o que é que comunica a comunicação social?" - nunca fez tanto sentido neste Portugal de pequeninos do ano de 2007. Por isso, e apesar da acumulação de jornais com quase uma semana, fenece-me a vontade de os ler porque deixei de ter paciência para "mais do mesmo". Não me apetece encontrar a "linha da beleza marico-poética" lá onde devia estar escrito a bold o nome da vergonha "democrática". Mete-me nojo o sem-razão de tanto "opinador" do regime com direito a fotografia e a esclerose retórica que já contamina alguma blogosfera mais afoita e doce. Não suporto o "encanar a perna à rã" dos cortesãos dependentes. Perdi o respeito pela democracia portuguesa porque ela não se sabe dar ao respeito. Só me preocupo com os direitos humanos - todos - e a democracia, malgré elle e nessa matéria, não me dá garantias nenhumas de ser "mais respeitosa" do que outra coisa qualquer. Não é ela que tem a culpa, nem os seus founding fathers, os da Europa e os dos EUA. São aqueles a quem colámos - pelo voto - a labita de democratas. A maior parte nunca o foi ou julga que o é apenas por exibir um cartão de partido ou por estar montada numa sinecura. A duplicidade e a cumplicidade dentro do mesmo regime, mata a pureza da democracia como quem recorre a um bordel porque já não suporta "virgens". E ninguém escapa a esta sinistra perversão. Eis como, bruscamente numa primavera qualquer, a República pode passar de respeitosa a puta.
Nota: "Edição" simultânea na Grande Loja e nos Braganza Mothers.

8 comentários:

Pedro Nunes disse...

Se o cinismo matasse, o João Gonçalves morreria quando ía a meio deste post.

Risível, risível é «Só me preocupo com os direitos humanos - todos[...]». Aposto que Jean Marie Le Pen escreveria o mesmo.

Anónimo disse...

Leia o país do burro: http://opaisdoburro.blogspot.com Posição parecida.

Anónimo disse...

Continuo a achar, talvez ingenuamente, que a República será tanto mais puta quanto mais amorfos forem os cidadãos no seu conjunto.
Temos é que lhe injectar virtude. Com o quê: com crítica e com vacinas anti-culto da aparência exigido pelo miasma do fast-qualquer coisa...

Mar Arável disse...

Admito que se sinta acima desta respública.Sugiro no entanto que se liberte do fantasma de Pacheco Pereira - por respeito aos bordeis frequentados por muitos e bons republicanos,perversos,sinistros--os chamados da quadratura do círculo -- engenheiros.

Anónimo disse...

A República pode ser isso tudo!

Mas apesar de tudo, ainda vai podendo dormir, sem que lhe entrem pela casa dentro para o Prender por Tempo indeterminado.

Não tem de pedir, de chapelinho na mão, licença a um qualquer funcionário graduado, autorização para publicar o seu post.

Tem direito ao seu espaço, graças a santa internet, a ter o SEU espaço, em que tenho, por sua gentiliza, participado.

Anónimo disse...

Raios, eu quanto mais leio o João Gonçalves a arengar do alto do pulpito, mais gosto desta nossa pobre e defeituosa república em que vivemos. Não consigo evitar.

Anónimo disse...

O anónimo das 11:26 ainda é muito ingénuo!
ESTA democracia (a de Portugal - sui generis) é mesmo para isso que serve: para nos deixar escrever tudo o que nos vai alma! É como quando vamos à sanita com dores de barriga: só sai MERDA mas....ficamos aliviados!! E dirá:
"ainda bem que há sanitas - são cómodas, asseadas, não nos obrigam a estar de cócoras!!!!"

Anónimo disse...

Pois!

Conquistamos o direito inalinável de ir à sanita.

Mas mesmo a merda tem de ser processada nos esgotos, e mais recentemente em ETAR's.

Mas como dantes não se comia, a não ser o que nos autorizavam, só tinhamos direito a um poucoxinho ..., pelo que cagavamos também poucoxinho, pelo que aparentemente o problema não existia.

Agora a sério, vale mais assim, do que a paz podre, cinzenta e arrumadinha a que existia.

O caminho é para a frente, carago!