7.12.06

EM MINÚSCULA -2

Esclareço já. Fátima, filha de Maomé, é tida por muitos muçulmanos como a nossa "Virgem Maria" e muitos deles crêem que a Nossa Senhora de Fátima que surgiu na Cova de Iria seria Fátima, descendente do Profeta. Para nós, católicos, não existem dúvidas acerca da "natureza" da Mãe do Filho do Homem, Jesus, um profeta ao lado de outros no Islão e Deus vivo para nós. Para qualquer explicação adicional, bastam os dois livros de entrevistas de Joseph Ratzinger com um jornalista alemão, traduzidos em bom português. Quanto às obrigações da Teresa sem aspas como ser humano, limito-me a congratular-me com isso. É que nem sempre a condição de mãe ou de pai coincide com condição humana. Não preciso explicar a pessoas de "causas" ao que me estou a referir. Manifestamente esse não é o caso da Teresa sem aspas a quem calhou uma mãe que, ao contrário do que julgava, é uma péssima católica. Percebo que isso tivesse "traumatizado" a Teresa sem aspas, todavia tal não justifica a referência à "imaculada conceição de Maria", para sermos claros, da forma citada. Só faltou vestir-lhe uma t-shirt a dizer "aqui não mando eu". Ao contrário da Teresa sem aspas, da Fernanda Câncio e de muitos apoiantes do "não", não faço da questão do aborto uma questão religiosa, nem uso a religião para defender os meus argumentos ou contrariar os dos outros com "imagens" de mau gosto. Como "ser humano" - respondendo directamente à Fernanda Câncio - cumpro pessimamente as minhas obrigações. De vez em quando sou mais "humano" do que o habitual e faço festas ao meu cão. Estamos conversados, como diria a avó da Teresa sem aspas.

4 comentários:

Ricardo Alves disse...

«Fátima, filha de Maomé, é tida por muitos muçulmanos como a nossa "Virgem Maria"»

Ahn?! Não será, quando muito, ao contrário?

«muitos deles crêem que a Nossa Senhora de Fátima que surgiu na Cova de Iria seria Fátima, descendente do Profeta»

A sério? Isso não seria um bocadinho herético, de um ponto de vista islâmico? E, já agora, a dita «aparição» não se anunciou sob um nome distinto, pelo menos segundo os primeiros relatos?

Anónimo disse...

Carlota Cambalhota.
Não sei porquê, mas lembrei-me desta boneca de que você tanto gostou.
Quanto aos meus possiveis traumas deixe-me explicar-lhe uma coisa - e vou tentar manter-me longe de qualquer alusão a qualquer religião. Oxalá consiga. Nem adeus direi.
Voltando aos meus traumas. O que percebo, compreendo, explico não me traumatiza de todo. O que me traumatiza é a desonestidade intelectual. Fico completamente vulnerável porque não consigo argumentar. Para o fazer tenho de jogar o mesmo jogo e aí, como dizia o outro, ganham-me pela experiência.
Assim sendo, I rest my case.

Miguel Marujo disse...

«Para nós, católicos, não existem dúvidas acerca da "natureza" da Mãe do Filho do Homem, Jesus, um profeta ao lado de outros no Islão e Deus vivo para nós.» Caro João, perdoe-se-me a ignorância de muitas catequeses e leituras, mas o dogma da Imaculada Conceição é do século XIX e muito sinceramente não foi a chave máxima para a verdadeira Revelação que é a vinda de Jesus Cristo, Filho de Deus, ao nosso mundo durante dezanove séculos. Aquilo que sempre me importuna nestes debates, como católico assumido e com percurso sério e crítico nesta Igreja que somos todos (antes que alguém atire a pedra errada, de um lado ou de outro), é a infalibilidade destas nossas certezas humanas, enquanto esquecemos que há algo de mais radical na Boa Nova dos Evangelhos - a opção preferencial pelos pobres.
Do aborto, noto (como já o fiz em tantos locais e mesmo em espaços eclesiais) como a Igreja Católica é bem mais afirmativa “nesta” defesa da vida do que em outros momentos, que nos exigem muito. Além de que, no caso do aborto, a defesa da vida deve sempre ser formulada no plural.

João Gonçalves disse...

Sei do dogma. Antes de Pio IX o ter decretado, já os Evangelhos se referiam, como na oração, a Maria "cheia de graça". A presença de Jesus tem tantos séculos com os séculos têm anos. O escândalo da Cruz está aí, no quotidiano, para o provar. João e Maria, sua Mãe, a imaculada, estavam aos pés da cruz no momento final, afinal, o momento paradoxalmente redentor. Há muitos católicos do lado do "sim" e muitos agnósticos do lado do "não". Rejeito, pois, fazer do aborto uma questão religiosa. O direito à vida é um "prius" não é uma consequência. Levado ao limite, obstaria a que a lei em vigor fosse cumprida e eu penso que deve ser. Não mais do que isso, nem menos do que isso.Rejeito, sim, a liberdade total da mulher ou de quem quer que seja de dispôr da possibilidade de uma vida quando não há nada que justifique (para além da supremacia da vontade)que essa vida não passe de uma possibilidade, isto é, que existem elementos clínicos suficientemente explicitados que essa possibilidade, a concretizar-se, será uma não-vida, para quem vem ou para concebe.