2.11.06

OUTRA VEZ OUTRA VEZ

1. " (...) Medo de perder o pouco que tenho, medo que o pouco que tenho não me chegue. Medo que se perceba que não tenho capacidade para fazer o que estou a fazer. Medo de ser avaliado com justiça. Medo de ser injustamente avaliado para cumprir qualquer quota, ou fazer qualquer poupança ou para que o "chefe" ajuste as suas contas. Cada ano ganho menos. Nunca fui a uma manifestação, não gosto dos comunistas, sempre fui PS (ou PSD), mas este ano vou. E se não vou à manifestação, porque não gosto dessas coisas, e tenho medo de me mostrar, faço greve. Com medo, mas faço. "Eles", os políticos, não sabem nada disto, nem querem saber, repete-se no Norte nos cafés, no Sul nas pastelarias e snack-bars. Se houvesse um coro como nas tragédias gregas, ele sussurraria avisos para os de cima como o dos Idos de Março, avisaria que cá por baixo os ânimos exaltam-se ou as pessoas se cansam. Pior do que a exaltação, é a resignação. Não vai ser fácil este Inverno. Já ninguém acredita em qualquer luz no fundo do túnel. Nem acredita, nem caminha para o fim do túnel. Tende a caminhar para o princípio, para trás, onde tem a falsa memória de que estava luz. Talvez na Primavera tudo melhore e sempre se podem fazer férias no Algarve outra vez. Corso, ricorso."

2. "(...) Não sei se é possível ganhar eleições falando verdade. Mas suponho que seja possível ganhá-las sem ao menos mentir em excesso. A mentira eleitoral estreou-se entre nós com Durão Barroso e ao que parece veio para ficar. Duvido que compense. A maior parte das dificuldades e apertos do Governo provém única e exclusivamente de na altura devida não ter dito pelo menos uma parte da verdade aos portugueses. Isso obriga-o agora a desdobrar-se em "explicações" que no fundo apenas se destinam a fazer engolir o que na campanha eleitoral nunca foi sugerido e muito menos anunciado. O caminho é por isso muito estreito, e este Governo vai precisar dramaticamente que o estado de graça se prolongue. Com tão curta margem de manobra, poucos mais percalços bastarão para lhe pôr cobro."

Nota: respectivamente (sublinhados meus), José Pacheco Pereira e Maria de Fátima Bonifácio, in Público

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