Por sete votos a favor e seis contra, os juízes do Tribunal Constitucional deram "luz verde" à abstrusa pergunta sobre o aborto que aparecerá nos boletins de voto. Dou de barato que, desta vez, o "sim" pode ganhar. Tal como escrevi outro dia a propósito da adesão de Agustina e Lídia Jorge à causa liberalizadora - a verdadeira questão consiste em concordar ou não com a liberalização total do aborto se praticado até às 10 semanas de gestação pela exclusiva vontade da mulher - essa vitória anunciada não muda a natureza das coisas. Não muda nem a natureza da vida, nem a natureza da morte enquanto parte essencial dessa mesma vida. Neste caso, porém, ao travar-se a gestação por um meio legal transformado num contraceptivo mais eficiente do que os habituais, para além do "direito à vida" é igualmente o direito a uma morte digna que desaparece. É evidente que subsiste a "consciência" - de quem a tem - e o crime quando o método ultrapassa o limite temporal ou não se encaixa nas excepções em vigor. De qualquer forma, foi dado mais um passo no nosso (português e do mundo) glorioso caminho para a "modernidade". Força.
11 comentários:
"Neste caso, porém, ao travar-se a gestação por um meio legal transformado num contraceptivo mais eficiente do que os habituais,(...)".
"Contraceptivo" parece, por definição, pressupor o impedimento da concepção. Aqui, no aborto, já há concepção. E pratica-se, já que se anda no reino dos eufemismos, a cessação deliberada de uma vida.
Admita-se que casos há em que o aborto se justifica. Seja. Mas não se lhe chame "contracepção".
Isso é fazer um belíssimo frete de branqueamento do que é, na verdade, uma morte provocada por dolosa acção humana.
Se puser o seu nome, respondo-lhe com direito a post.
Desculpe-me. Costa. Rui Costa.
Nota-se bem que os intervenientes nada percebem de períodos menstruais, falhas menstruais, ovulações, zigotos, embriões e fetos.
Limitam-se a filosofar canhestramente, do alto da burra, à velhos inquisidores e a falar TORPEMENTE em "vida".
Vida, meus caros -mais as pobres e mentecaptas pamóias, que vos apoiam - é a que habita uma MENTE e um corpo feminino, que não pode mais, HOJE, deixar de tomar o leme do seu próprio projecto reprodutivo.
Como diz o Mário Cesariny e uma vez que este é um blog muito literário:
"Já cansa a cona"
Calma, por favor... Afinal só tive a ousadia de achar que o aborto não era um contraceptivo. Pela prosaica razão de actuar sobre algo já concebido, sendo que por contracepção se entenderá (dos dicionários) o acto ou efeito de evitar a concepção.
Coisa, presumo, que nenhum "projecto reprodutivo" negará.
Claro que me entristece saber que por uma questão de género (saí macho, por culpa do meu pai, de acordo com a ciência - outro macho, pois claro! - que fazer?) não sou dotado de vida, pois que esta "habita uma mente e um corpo feminino".
Mas enfim...
Rui
Rui... não estou a branquear nada e muito menos a fazer fretes a pessoas que pensam com a parte de baixo. Acontece que, para mim, o recurso ao aborto, fora dos casos previstos na lei, é um método anti-conceptivo como os outros, com a diferença que V. explicou e que é objecto de discussões em que não me apetece entrar. Chama-lhe o que quiser, mas não deixa de ser aquilo. Eu sou favorável à legislação em vigor, o que me distingue de quem é radicalmente anti-aborto e de quem é radicalmente abortista.
Algo então que temos em comum.
já somos três.
Esta defesa do homem que por aqui se tem travado, parece-me nova e com pernas para andar se for bem explorada.
Não me recordo de a ver explorada aquando do primeiro referendo.
Porque na verdade a questão é simples:
A mulher e o homem são responsáveis pelo feto, logo, devem responder os dois pelo seu futuro.
No limito, proponho este caso para reflexão:
Um homem engravida uma mulher. Ele tem escassez de espermatozoides (como cada vez mais acontece, como sabemos) e por isso aquela gravidez foi uma sorte num milhão de tentativas.
Ela decide abortar (ok, interromper voluntariamente a gravidez), por razões que não interessam, sejam elas compreensíveis ou não.
Não deveria o homem (pai) ter a possibilidade de participar nessa escolha?
Julgo que neste momento, por razões que poderão estar nos séculos de opressão feminina, tudo se justifica para fazer o inverso, ou seja, a mulher tem todo o domínio da situação e o homem nada pode fazer.
Se vivessemos num país civilizado, esta questão já estaria ultrapassada há muito.
Já não estamos no tempo da "Severa". Não venham falar em paizinhos e mãezinhas, que não é disso que se trata.
Somos seres racionais ou servos de "santas fecundações"?
Como são inteligentes para tanta coisa e uma espécie de lobotimizados para esta questão?
E onde está um comentário com bom senso, onde se punha o dedo na ferida?
"Uma questão de cidadania, opção própria ou de casal - conforme a mulher ou a adolescente foi ou não abandonada - que não condiciona ninguém, só alivia sofrimentos e práticas arqueológicas.
À Fogueira! À Fogueira, minha adorada Eminência, com essas assassinas abortistas!!!
Ou então, nas masmorras para sempre!
Adios, que me voy a Badajóz...
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