4.11.06

O ANIMAL MORIBUNDO


Consume my heart away; sick with desire
And fastened to a dying animal
It knows not what it is
and gather me

Into the artifice of eternity.


W.B. Yeats, Sailing to Byzantium


Ao passar pelos escaparates da FNAC do Colombo, deparou-se-me a tradução, com cinco anos de atraso, do livro de Philip Roth The Dying Animal ("O Animal Moribundo", da Dom Quixote). É um pequeno-grande livro que li na altura e que, por causa desta tradução avistada, reli pela noite adentro. A diferença entre um escritor e um aspirante a escritor está, por exemplo, condensada nestas cento e poucas páginas, da mesma forma que o está em Everyman, o último Roth que, talvez com alguma sorte, pode ser que apareça em português lá para 2010. Não me apetece falar da "história", nem da forma como ela é contada, nem sequer de quem intervém para contá-la. Roth, agora com 73 anos, é, nestes dois livros, o cruel narrador da perda. Todas as suas personagens estão em declínio físico, "moral", afectivo e sexual. American Pastoral, Patrimony e The Human Stain "prepararam", de alguma forma, estas duas últimas grandes sínteses. A prosa de Phlip Roth lê-se como uma epifania da morte. Como se se tratasse de um evangelho pagão no qual se rasurou a esperança de Deus.

"I think you're whole before you begin. And that love fractures you. You're whole, and then you're cracked open. She was a foreign body introduced into your wholeness. And for a year and a half you struggled to incorporate it. But you'll never be whole until you expel it. You either get rid of it or incorporate it through self-distortion. And that's what you did and what drove you mad (...) Attachment is ruinous and your enemy. Joseph Conrad: He who forms a tie is lost. That you should sit there looking like you do is absurd. You tasted it. Isn't that enough? Of what do you ever get more than a taste? That's all we are given in life, that's all we're given of live. A taste. There is no more."

1 comentário:

Anónimo disse...

Eu cheguei até Philip Roth e o seu Animal Moribundo, por sugestão do Mil Folhas. Aconteceu-me o mesmo. Li-o de uma só vez, até já não ser de madrugada, mas mais de manhã... Confesso, que há muito que um livro não mexia assim comigo. Contudo não compartilho da sua opinião. Não achei que as personagens se encontravam num período de declínio em todos os níveis. Não foi mesmo essa a visão com que fiquei, mesmo sem concordar com muito do apresentado. De qualquer forma, é sempre com agrado que descubro alguém que lê algo mais fora do comum.

Beijo