A última vez que vi o Cesariny, aconteceu depois da estreia de "Um Auto para Jerusalém", há quatro anos, no D. Maria II. Fui com o José Manuel dos Santos e, já não me lembro bem em que circunstâncias, um pequeno grupo reuniu-se em torno da estátua do António José de Almeida à espera que o homem aparecesse, e lá fomos todos para a casa/atelier arranjada pelo João Soares ao Cesariny, ali para os lados do mausoléu da Caixa Geral de Depósitos. Há já seguramente alguns anos que o Cesariny não fodia nem podia com este pequeno "reino cadaveroso" em que estamos atolados. Fodia-se mais e mais livremente na ditadura, por causa do "interdito" e da polícia, e a tropa dava-se a outros "passeios" pelo Rossio. Havia menos medo do outro, afinal o mesmo. Estar para aqui a debitar palavras bonitas na morte de Cesariny daria direito a que ele me mandasse tranquilamente para o caralho. Lá onde agora repousa, irrequieto e livre para sempre, o Cesariny está melhor do que nós, os seus eunucos, amor-ódio de estimação, sem os quais não valia a pena ter escrito nada. Gloriosa vida eterna a um dos poucos que a merece.
you are welcome to elsinore
Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar
you are welcome to elsinore
Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar
3 comentários:
....e, para falar de um Grande Homem, precisa de utilizar palavras GROSSEIRAS para definir o pensamento do artista????...
Estou de acordo com o vocabulário ordinário. Pensei fossem só os do Norte a saber dizer palavrões. Repito: a "dizer"; quanto a escrevê-los, parece-me que são mais educados, ignorando-os.
Quem notou os palavrões, quem se deteve na sua leitura... não conhece a obra de Cesariny, não pelo menos como eu a conheço.
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