Ainda o Bairro Alto. O JSA do blogue Estação Central - cheguei lá pelo Eduardo Pitta -, nascido depois de 1970, mas aparentemente com um misto de Floribella e de Noddy na cabeça, deu-lhe para escrever que eu "preferia actores" não sei bem para quê. Diz ainda que a "sedução mudou", que "os olhares são diferentes" e que "as calças deixaram de ser à boca de sino". Vamos por partes. Falei aqui de um Bairro Alto que conheci, de amigos com quem privei e que V. não tem nada que conhecer ou deixar de conhecer, e do que penso do actual estado do dito Bairro, estado esse que se tem agravado de há uns bons anos para cá. Também tive e tenho o prazer - noutros casos, o desprazer, mas a vida é mesmo assim, como, com o tempo e se a sua cabeça o permitir, aprenderá - de conhecer alguns actores e actrizes portugueses, da mesma forma que conheço muitos funcionários públicos, alguns jornalistas e políticos, e já tive três excelentes empregadas domésticas e dois cães. Sabe, há pessoas que têm biografia - pequenina ou maior, mas têm uma - e não vem mal ao mundo, mesmo quando o assunto não é a própria pessoa, "circunstanciar" o tema, qualquer tema. Leia as memórias ou a autobiografia de um tipo qualquer e verá que lá aparecem coisas que não interessam a ninguém a não ser ao autor que as viveu. Quando V. for vivo, vai perceber o que estou a dizer. Ao falar do Frágil, por exemplo, só posso mencionar o que lá havia quando lá andei. E, sim, havia actores que serviam bebidas, cantores que cortavam cabelos e actrizes que cantavam em cima de um piano. Da última vez que lá entrei, jurei para nunca mais. Primeiro, porque era difícil entrar. Mesmo em frente, ergue-se uma ex-tasca transformada no "Queen Club dos pequeninos ao ar livre", que entope literalmente a passagem. Depois, porque a frequência - mais estilo "Queen Club dos pequeninos do Barreiro" (não tem "charme para chegar ao Le Palace), agora dentro de portas - não se recomendava. Quanto à sedução ter mudado, é natural. Sempre e em toda a parte, les beaux esprits se rencontrent. Mesmo com copos de plástico na mão e ventosas no lugar das orelhas. Também, escreve V., "os olhares são diferentes". Então com que olhar ou com que olho específico se "olha"? Descreva lá a subtileza desses olhares para ver se me tenta. E leia o poema do Ary dos Santos ao Cesariny que lhe fará certamente melhor que qualquer "shot" instantâneo. Finalmente, o JSA está, afinal, desactualizado. Se existe coisa que regressou aos "modos modernos", foi a calça de ganga à boca de sino. Com um "toque" erótico que porventura escapou ao seu "olhar diferente". Deixa-se normalmente uns centímetros entre a calça e o umbigo, seja para que este se veja - ou algum adorno que ele contenha -, no caso delas, seja para que se pressinta uma masculinidade discutível mas acompanhada por uma boa marca de cuecas, no caso deles. "No meu tempo é que era bom"? Não sei se era. V. tem a certeza que agora é que é? Só sei que agora prefiro ficar em casa a ler livros ou ir à rua passear o cão.
Adenda: A ideia das "memórias", "frappée", é muito estimulante, João. Não se deve tentar o demónio.
Adenda: A ideia das "memórias", "frappée", é muito estimulante, João. Não se deve tentar o demónio.
9 comentários:
"Tiro-lhe o meu chapéu."
:D
Esta polémicazinha tem-me feito rir bastante. Com uns e com outros. Eh. eh!
Caro João Gonçalves, a passagem sobre os actores foi retirada, tal como prometi por intermédio. Acrescentei um pequeno comentário a este seu post, portanto, se tiver qualquer vontade de o ler, poderá fazê-lo. Tomei a liberdade de brincar um pouco, mas espero que não leve a mal e que não se ofenda.
Acerca do comentário sobre os actores, reafirmo aqui o que já disse por lá: ainda que me pareça que foi mal entendido, peço desculpa se o ofendi ou incomodei. Quanto ao resto do meu texto, como iaginará, é uma opinião pessoal e não só será mantido como não vou pedir desculpa por ele (especialmente pelo facto de ter nascido depois de 1970).
Oh JSA, esta porcaria ainda passa por ser um país livre. Esteja à vontade. Ao menos aqui, na blogosfera, por enquanto não aparecem polícias. Um abraço.
Toca a circular, toca a circular!
Realmente tem razão, esqueci-me que assino apenas com iniciais e o meu nome não surge em lado nenhum. Hábito já antigo. JSA é para João Sousa André. João, portanto :).
Quanto a eliminar alguma coisa do texto, tem a ver com o não querer ofender ninguém. Brincar, ironizar ou satirizar parecem-me ferramentas normais, mas pessoalmente, e aqui estou talvez em desacordo, não vejo razão para manter comentários que possam ser considerados ofensivos. A não ser que a pessoa em causa me mereça qualquer desconsideração, o que não é manifestamente o caso.
Uma vez que o texto não ficou afectado pela remoção daquele pedacinho entre aspas não me aborreço em o remover.
Ficamos assim, isto tem sido divertido mas também para polémica (real, inventada ou imaginada :)) já chega.
Abraço.
Passou por aqui uma grande varridela censória! Cadê os outros comentários? Este blog parece-se cada vez mais com uma igreja apenas aberta aos fiéis...
Está enganado. Neste post, em concreto, não foi banido um único comentário.
Para nós, moradores desde sempre deste bairro, verdadeiramente nunca nos interessou nenhuma dessas faunas que o parasitaram. Desde pelo menos os anos 50 que isto está intragável.
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