30.4.06

O HÁBITO DE DIZER MAL


Retemperado com um banho semi-gelado no Guincho, chego aqui e leio os "comentários" ao post anterior, uma citação - de conteúdo óbvio para quem não é absolutamente destituído - de Vasco Pulido Valente. Há, de facto, muita gente que não suporta ser confrontada com a nossa condição primitiva. Percebo. Tanto percebo que não resisti a ir ler na íntegra o texto de Maria Velho da Costa que é citado no comentário. Velho da Costa, para quem não se lembra, é um milenário expoente "feminista" da "cultura portuguesa", justamente celebrada nos finados do Estado Novo por ter sido uma das co-autoras das "Novas Cartas Portuguesas", um ousado derrame para os tempos, logo, proibido. Depois de a ler agora, fico mais certo da razão de VPV. Repare-se - não sei se o autor do comentário reparou - que o que verdadeiramente interessa a MVC, na sua pequenina acrimónia, é salientar a circunstância de, em tempos idos, ter sido removida como funcionária pública pelo então secretário de Estado da Cultura (VPV) - de quem presuntivamente dependia - de um qualquer lugar que ocupava em regime de destacamento. Ou seja, ele forçou-a, digamos assim, a "regressar à base", um assunto de pura intendência. De resto, as suas considerações farfelu são elucidativas do estado por que passa a nossa literatice contemporânea. Por isso, só mais uma nota, graças ao João Pedro George. Atenção, filistinos: também é (horrivelmente) de VPV. "Os portugueses não gostam que se "diga mal" de nada e desconfiam de quem diz. "Dizer mal" de um livro, de uma escola, de um hotel ou de uma política é sempre considerado um "ataque" de pessoa a pessoa e atribuído aos piores motivos: à inveja, à cobiça, ao ressentimento e por aí fora. Não ocorre a ninguém que "dizer mal" do livro não implica "dizer mal" da pessoa privada do escritor (...). "Dizer mal" é uma condição indispensável para produzir bem e obrigatória para produzir melhor. No hábito de "dizer mal" do que nós fazemos e do que os outros fazem reside a essência da capacidade de aperfeiçoamento e, por conseguinte, de competição."

7 comentários:

Anónimo disse...

e eu que pensava que os portugueses na maioria gostavam é de dizer mal de tudo, queixar-se de tudo e da vidinha, das dores das costas, do barulho do andar de cima, do cachorro da vizinha. Afinal nao gostam que se diga mal de ninguém. Quem diria. Nunca tinha desconfiado. Mal se nota.

james disse...
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james disse...

Desculpe, mas estou em completo desacordo consigo.
E o facto de vir citar o George, é-me, completamente indiferente, mas para si não é, porque o George, como que legitima, este seu poste abonatório de VPV, cuja língua se não chega ao Montijo, chega pelo memos a Chelas....
Esta sua "petite exécution", onde coloca, Maria Velho da Costa, como uma feminista, entre comas, também, revela, da sua parte, uma acrimómia para com a dita, por motivos óbvios...
Duvido, pois, da sua imparcialidade e isenção no que diz respeito a esta matéria.

e-ko disse...

O problema é que se diz mal de tudo e de todos, a torto e e direito, mas pelas costas, no corta casacas, com ou sem vira casacas. Sim, devíamos ser exigentes, ter a coragem de afirmarmos o nosso desagrado, a nossa decepção, ser capazes de pôr o dedo em todas as "fridas" que nos impedem de viver, de pensar de sonhar mesmo. Isso não é dizer mal, é ser justo e exigente. Nem sempre VPV assim age, como até é duvidosa a posição de George em relação a M.R.Pinto, os livros dela não valem nada, nem mereciam um livro que os criticassem, pondo-se e pondo-os em valor. Quando entro numa livraria, nem olho para os destaques... mas é assim que vivem as livrarias, os editores e os autores... e o público é do que come.

Anónimo disse...

O joão p. gerorge parece que escreveu um texto encomendado pelas Selecções do Reader's Digest.

Anónimo disse...

Enviesada análise, esta, onde, de forma grosseira e ostensiva, se comete um apagão (à laia de um “saudável” revisionismo), sobre outros derrames, estes, de correligionárias de partido, como o foram Natália Correia e com as devidas adaptações, Eunice Muñoz (ambas da mesma geração de Maria Velho da Costa, se a memória não me trai).
Assim sendo, sobre o derrame milenar a que se alude neste poste, obra de 3 mulheres, impunha-se que não se olvidasse que, aquelas (suas?) duas últimas divas, esguicharam fluidos mentruais e sucos vaginais para alguidares de matança de bácoro, que, por ironia, se tomam, também, como literatura e teatro nacionais.

Anónimo disse...

Este último comentário é melhor do que a sopa de peixe de mamas, do JRS: eis um verdadeiro sarapatel de bacalhau.