
Acentos, de Fernando Gil (Imprensa Nacional- Casa da Moeda, 2005). Reúne textos de diversas proveniências e entrevistas, permitindo obter uma visão lata do pensamento de um dos nossos melhores filósofos contemporâneos, recentemente desaparecido.
«Somos poucos mas vale a pena construir cidades e morrer de pé.» Ruy Cinatti joaogoncalv@gmail.com
A acreditar nos textos de alguns jornais, parece que existe uma luta em surdina entre os dois Costas do governo por causa da Judiciária. Acontece que Costa, António, é tão somente o "número dois" do executivo e uma espécie de predador ministerial. Dá ideia, aliás, que o epíteto de ministro de Estado significa poder mandar livremente, e por delegação directa de Sócrates, nos seus colegas. Isso tem como consequência óbvia mais poder político e mais visibilidade, quase um supra-Sócrates. O que é certo é que Costa, António, manda e que Costa, Alberto, não manda nada. Se mandasse, a direcção da PJ, independentemente da bondade das suas razões e das suas "ameaças", já teria sido sumariamente despedida. Nada pior para uma instituição com as prerrogativas da PJ do que manter por muito mais tempo esta instabilidade larvar propiciada pelos constrangimentos financeiros e pelas estratégias "políticas" de cada um dos "intervenientes". Esta disputa doméstica, entre a Justiça e a Administração Interna, não é politicamente saudável. Entre os dois Costas, é bom que Sócrates se decida rapidamente. É que há mais vida para além deles.
Leio no Independente que Marco António Costa, cacique "laranja" do Porto, "desistiu" de se candidatar à liderança do PSD. Também Luís Filipe Menezes, uma eminência nortenha do partido, não está disponível para se travar de razões com o líder na escolha a efectuar nas "directas" de Maio. Quando pensamos num partido que já foi chefiado por pessoas como Francisco Sá Carneiro, Mota Pinto ou Cavaco Silva, custa a engolir, a não ser a título trágico-cómico, que a estas pequenas figuras de proa da nomenclatura mais básica possa ter ocorrido a ideia de ocuparem o cargo de presidente do maior partido da oposição. É um sinal terrível do que espera o PSD Nos próximos anos. A coisa está de tal maneira que, por mera caridade cristã, é forçoso concluir-se que Marques Mendes ainda é o menos mau, ou seja, o melhor do que não presta. Quem é que, dentro do PSD, tem coragem para dizer que o estilo torrencial de boas novas anunciadas constantemente pelo primeiro-ministro - como se não governasse num país de penúria e de sombras -, é duvidoso, mas de sucesso garantido? Eu sei que não é fácil competir com um Sócrates perfeitamente social-democrata e grande especialista em marketing político, e do bom. De vez em quando Marques Mendes tenta regurgitar umas "propostas temáticas" a quem ninguém, muito justamente, liga. Até quando irá Mendes suportar este calvário, até quando?
Eu não tenho nada contra as "reformas". Aliás, iniciei-me nas coisas públicas ao lado do Manifesto Reformador numa altura em que muitos dos actuais arautos da "modernidade" estavam caladinhos. Digo isto porque vejo os "liberais" e os militantes anti-Estado rebolarem-se de gozo cada vez que se anuncia uma machadada no status quo, sem sequer perceberem o alcance da maior parte dos anúncios. As fusões e as alterações que estão a ser preparadas na orgânica governamental, primeiro, e dos serviços tutelados, depois, não pode ser um mero jogo da cabra-cega. A falada "falência técnica" e financeira da Polícia Judiciária, por um lado, e a "disputa" pela sua tutela, por outro, só têm uma conclusão plausível, o seu progressivo enfraquecimento. É inaceitável que, por causa das vaidades políticas e da crónica falta de dinheiro, se ande a brincar perigosamente aos polícias. Depois não se queixem.
Sobre a queda na venda e na leitura de jornais, José António Barreiros resume o essencial: "Acho que as pessoas não lêem só por uma razão: preferem ver na TV. Ali há uma vantagem, a notícia passa mais depressa e vai-se embora num instante. Além disso, pode-se ir lavando a loiça, gritar com os miúdos ou cortar as unhas dos pés."
Paris "arde". Aqui nunca "arde" nada. Somos uns songamongas. Fomos poupados a todas as guerras, a todo o sangue, a todo o suor. Até o 25/4 foi feito com... flores. Existimos pela graça da nossa etérea bovinidade. Não sabemos dizer "não" a nada, nem que seja só pelo prazer de o dizer. A "massa" só se dá a conhecer nos jogos da bola. Antes assim. Nada pior que matilhas tresmalhadas ou carneiros perdidos pela ruas. Um país de salazarentos, mais do que de Salazar propriamente dito, é uma herança civilizacional pesada na qual não se conhece a força do contraditório e do conflito. Somos apenas isto.
A sra. D. Margarida Rebelo Pinto, que usa o epíteto de "escritora", interpôs uma providência cautelar "com a finalidade de impedir a distribuição e venda da obra Couves & Alforrecas: Os Segredos da Escrita de Margarida Rebelo Pinto", de João Pedro George. Este livro resulta de uma série de posts editados no Esplanar nos quais se analisava, detalhada e criticamente, a "prosa" da senhora recolhida da sua "obra completa". É claro que não falamos de literatura quando falamos de Margarida Rebelo Pinto, mas há muito boa gente equivocada no meio do lixo. A senhora e a sua editora alegam que, depois dos textos de João Pedro George, "as vendas sofreram uma forte quebra" o que constitui manifestamente uma enorme perda para a humanidade, como se calcula. O editor foi mais longe e falou em "ofensas" que não são "próprias de um estado de direito". Vai daí, achou por bem recorrer ao velho esquema da censura por interposta providência cautelar, destinada não só a apreender todos os livros eventualmente já cá fora, como, e sobretudo, a evitar que cheguem a sair. O respeitinho é muito bonito e, para não fugir ao esprit du temps, a sra. D. Margarida também parece estar preocupada com a licenciosidade e com a pouca vergonha. E diz ela que é escritora. Porra.
Uma das almas penadas do "portismo", o dr. Pires de Lima, lembrou-se de dizer que o CDS tinha de ser um partido "sexy", supôe-se que em oposição à sexualidade "branca" imprimida pela linha oficial de Ribeiro e Castro. Acontece que ocorreu a Ribeiro e Castro dar-se a si próprio um arzinho "sexy" e "entalar" a banda resmungona do grupo parlamentar com um congresso extraordinário. E Paulo Portas, o cínico presente-ausente da SIC Notícias, também deu um contributo para a teoria "sexy" do CDS, exibindo não apenas uma retórica adequada ao habitual fatinho às riscas - devidamente secundada por uma subserviente Clara de Sousa -, como umas másculas patilhas à agricultor da CAP que muito devem ter impressionado os seus epígonos. A "direita" está de férias forçadas e isso permite-lhe asneirar à vontade. Cavaco e Sócrates, para já, agradecem.
Li algures que foi aberto um concurso para as universidades e os institutos equiparados fornecerem cursos específicos para os dirigentes da administração pública. De acordo com o governo, aos referidos dirigentes faltar-lhes-á esta "formação" suplementar para aí, sim, poderem exercer as respectivas funções com suposta competência. Desde tempos imemoriais - que precedem a ditadura e a democracia - que o Estado abriga invariavelmente "chefes" de diversa proveniência, com carreira, sem carreira, com mérito pessoal e profissional ou sem ele, distintos "amigos" ou ilustres desconhecidos. Não é à falta de possuírem um curso suplementar que essas almas exercem melhor ou pior os seus cargos. Existe um problema prévio de perfil, para recorrer ao lugar-comum. É tão simples quanto isto. E não adianta enfiar-lhes cursinhos pela cabeça adentro. Convém, aliás, assegurarem-se primeiro de que alguns deles efectivamente a têm.
O João Morgado Fernandes não me vai levar a mal por eu reproduzir aqui na íntegra este seu post. Finalmente alguém se pronuncia contra o desvario anti-francês que tomou conta de tanto "espírito" dito "liberal", neoconservador e modernaço que olha para o mundo com uns binóculos exclusivamente anglo-americanos. Eu estou à vontade porque gosto por igual de ambas as tradições, sendo certo que, tradições, tradições, só mesmo a França as tem já que, mal ou bem, possui uma "história". Chirac, aliás, é irrelevante nela.
Um dos temas mais imbecis que anda no ar é seguramente o da "paridade". O termo, por si só, já é irritante. Lembro-me de Manuel Alegre, na campanha presidencial, com a sua voz tonitruante, invocar a "paridade" contra Cavaco sob o olhar enlevado das mulheres "alegristas", muitas por sinal. Esta é manifestamente uma falsa questão que obriga a dar asas a outra ainda mais ridícula que é a das "quotas". A má consciência política e dos "costumes" produz destas aberrações. A qualidade e a quantidade de mulheres que participam na vida política activa jamais deviam estar dependentes de um critério sexista. Uma mulher - ou um homem - não são melhores "políticas" ou "políticos" por serem mulheres ou homens. Ou são ou não são, independentemente do número e do sexo. A ideia das "quotas" amesquinha as mulheres, embora se comprazam todos e todas nessa falácia. Não é por existirem mais mulheres na vida política activa que a "paridade" vale a pena. Até podia haver mais mulheres do que homens ou mesmo nenhuma, ou vice-versa. A maturidade cívica e política de um agente representativo não se mede nem pelo sexo nem pela "paridade". Não é preciso andar para aí a berrar a diferença e o consequente "direito" à igualdade. Para este peditório, estamos fartinhos de dar.
O governo federal do Canadá decidiu expulsar os imigrantes em situação ilegal. No turbilhão foram "apanhados" centenas, se não milhares, de emigrantes portugueses que não trataram de legalizar a sua presença no Canadá, apesar de lá trabalharem há vários anos. Onde quer que estejamos, tendemos a levar connosco a nossa extrema badalhoquice. Neste caso, nada justifica que os portugueses, sobretudo os que têm família constituída, não tivessem providenciado para, em devido tempo, se legalizarem. Agora choram, fazem abaixo-assinados inúteis e, obviamente, as malas. Parece que há quem goste de passar vergonhas desnecessárias. Admiram-se de quê?
Quase três anos depois de ter começado esta aventura bloguística, decidi convidar dois amigos de diferentes gerações para "enriquecer" o Portugal dos Pequeninos. Este é um blogue livre e "liberal". Eles escreverão o que quiserem e como quiserem. Eu continuarei na mesma, uma espécie de House com uma pequena equipa. Pode ser que venham mais.
O PS, em matéria de regionalização, vai tentar meter pela janela o que não conseguiu fazer passar pela porta. De acordo com o dr. Junqueiro, uma notablidade do grupo parlamentar socialista, a dita regionalização deverá primeiro "avançar no terreno" - cinco regiões em vez das sete chumbadas em 1998 - e seguidamente referenda-se. Esta decisão original daria depois lugar à figura do "governador civil regional" em substituição dos actuais dezoito, a única ideia razoável desta história. O PS quer à viva força "desforrar-se" dos resultados dos dois únicos referendos realizados até hoje. Em Setembro propôe o do aborto e, pelos vistos, seguir-se-á um outro sobre uma regionalização entretanto posta em prática. O país é pouco mais do que uma pequena caixa de fósforos. Não precisa de mais "divisões" sustentadas por mais burocracia. Assim, para além dos caciques autárquicos, teríamos os suseranos regionais, coisa que só de pensar nela me dá arrepios. Esta ideia manhosa do "faz-se agora" e legitima-se depois é perigosa. Para o PS, naturalmente. Arrisca-se a ficar com o mesmo resultado de há oito anos.
O governo parece apostado em controlar todos os nossos passos. Depois do "cartão único", chega a "regulamentação" do Código da Estrada nazi. Entre outras "novidades", prevê-se "a introdução de testes rápidos na fiscalização de condutores sob efeito de substâncias psicotrópicas". Esses "testes rápidos" - realizados, presume-se, em plena estrada e ao ar livre - são realizados "numa amostra de urina, saliva ou suor e só no caso de ser positivo se submeterá o indivíduo a um exame de confirmação em amostra de sangue". Como uma grande maioria de portugueses consome relaxantes, tranquilizantes e anti-depressivos, entre outras coisas, para suportar a arrogância dos "agentes da autoridade" que adoram vasculhar as nossas viaturas e esconder-se atrás das moitas e das árvores, esta "inovação" promete. O Código da Estrada do dr. Costa, agora "regulamentado", não evita o pior. Os condutores assassinos ou suicidas continuarão impávidos e serenos a matar e a matar-se onde calhar. Eu apenas reclamo o meu direito a tomar os Prozac's ou os Lexotan's que me aprouver sem correr o risco de ser incomodado por uma qualquer brigada policial não só de trânsito como de costumes. Mais vale proibirem-me de mexer no carro. Lá chegaremos.
Isto anda assim: aparentemente calmo mas pronto a disparar à primeira provocação. Este rapaz, por exemplo, tem um bar, uma família e serve café americano na maior tranquilidade. E em apenas hora e meia de filme é capaz de "despachar" dez almas sem pestanejar. É obra.
O Bloco de Esquerda, que andava moribundo desde a justa sova que Francisco Louçã levou nas presidenciais, decidiu apresentar uma proposta legislativa que altera o divórcio. Segundo o distinto prof. Rosas, importa "modernizar o casamento" e, consequentemente, acabar com ele de uma forma mais expedita. Os bloquistas entendem que basta a "vontade" de um dos cônjuges para, em três meses e com duas conferências matrimoniais, pôr termo ao contrato. Trivialidades como o património comum ou os filhos são tratados em "processos paralelos". De uma forma sucinta, o prof. Rosas resumiu a lógica da coisa: "Uma pessoa casa-se. Chega à conclusão que foi um erro de casting. Pode requerer a dissolução do casamento. Conclui que se enganou, que não está bem, pede o divórcio". Eu não gosto de casamentos, seja com quem for, e julgo que não há maneira de os "modernizar". Todavia parece-me que fazer deles laboratórios para experiências a dois, como propôe o BE, só contribui para desacreditar ainda mais a provecta instituição. Dá ideia que alguém se casa a pensar de imediato em se divorciar quando lhe der na real gana. Mais vale estar quieto.
Os "agricultores portugueses" andam nas ruas a berrar contra o ministro. Quem os ouvir até pode julgar que existe uma coisa chamada "agricultura portuguesa". Acontece que já não existe e há bastante tempo, aliás. A mudança de "paradigma" - uma expressão utilizada agora a torto e a direito para quase tudo - a favor dos serviços e do betão, por um lado, e a pobreza evangélica e desprovida de imaginação dos nossos "agricultores", por outro, transformaram a paisagem e a produção. Depois a Europa e as importações, que é uma coisa que não entra na cabeça dos ditos "agricultores", fizeram o resto. A mediocridade indígena, como de costume, veio ao de cima e agarrou-se, como uma lapa, à "subsídio-dependência", a nacional e a de Bruxelas, ambas pagas generosamente com o dinheiro dos contribuintes. Os "agricultores" esbracejam em nome de um mundo desaparecido e dos euros que garantem a sua irrisória sobrevivência enquanto tal. Ainda ninguém lhes fez o favor de explicar isso.
De acordo com o Diário de Notícias, o ministério das Finanças, por e-mail, convidou e depois "desconvidou" os respectivos funcionários a participarem na meia e mini-maratonas de Lisboa do próximo domingo. Aparentemente a coisa não passaria de mero folclore se não se atentasse no teor do "convite" e na "oferta" que o acompanhava. Começa-se por aqueles elogios triviais às virtudes de uma vida saudável, algo que supostamente se adquire pela prática do desporto e que corresponde - repare-se na extrema piroseira terminológica - à "demonstração de vontade de vencer o sedentarismo, de amor à vida e de solidário companheirismo com os milhares de participantes que abraçaram estes mesmos ideais". Encerrada a parte propriamente desportiva da mensagem, o convite passa a tratar da política orçamental do governo ("na política orçamental - "consolidar agora para um futuro melhor" foi o lema que inscrevemos no Orçamento do Estado para 2006 - o esforço de consolidação que estamos a prosseguir é absolutamente necessário para assegurar a boa saúde das nossas finanças públicas no longo prazo") e termina de forma sublime apelando a que os funcionários participem "na 16.ª meia-maratona (ou minimaratona) de Lisboa no dia 26 de Março" exibindo "uma camisola com o dístico "Consolidar agora para um futuro melhor" gentilmente fornecida pelo ministério. Num acesso de bom senso, alguém deve ter reparado que esta "iniciativa" avivava as melhores tradições da ex- FNAT do dr. Salazar, para os mais velhinhos, e da falecida Mocidade Portuguesa, para os mais novos, e acabou com ela. Só no PREC é que ao voluntarioso Vasco Gonçalves ocorreu o "dia de trabalho para a nação", em nome da "revolução". A "alegria no trabalho", associada à propaganda de um regime ou de uma política de um regime, não é própria dos costumes alegadamente democráticos. O recurso ao expediente das camisolas e das corridas para efeitos propagandísticos nada subliminares, não lembra ao careca, como diria o prof. Marcelo. As "campanhas" disto e daquilo, aprendidas nas melhores escolas estalinistas ou maoistas, não resultam em democracia onde os homens não se "mudam" contra a sua vontade, nem por artes mais ou menos circenses. Em democracia, para o bem e para o mal, as coisas são mesmo o que elas são. Não adianta mascarar.
Jerónimo de Sousa não gostou de ver o seu partido fora do Conselho de Estado. E, vai daí, acusou o PR de "intolerância" o que, vindo de onde vem, dá direito a, pelo menos, uma semana de riso político. Independentemente do juízo que se possa fazer das escolhas presidenciais - e o meu, como já aqui foi dito, não é dos mais positivos - cabe indiscutivelmente ao presidente pôr no Conselho de Estado quem ele bem entender, já que se trata de um órgão para seu "aconselhamento". A quota dos cinco membros foi, por isso, preenchida segundos os critérios de Cavaco Silva - eleito não apenas à revelia como com a acrimónia total do PC - e não exactamente em consonância com a visão do mundo do sr. Jerónimo de Sousa. O Parlamento também não os escolheu, nem a ninguém do BE, por sinal. Temos pena, mas paciência. E nem sequer o exemplo de Sampaio, que enfiou Carlos Carvalhas na sua quota, deve ser invocado. O PR não é um filantropo politicamente desinteressado ou um benemérito de serviço. Cavaco não tem necessariamente de "seguir" Sampaio nesta matéria como em outras. Se o faz melhor ou pior, logo veremos com o decurso do tempo. Agora invocar "intolerância" a propósito disto, é apenas risível. Não chega sequer a ser um facto.
Via Abrupto, ler este artigo do Village Voice, "The Irresistible Banality of Same-Sex Marriage" . "Gay-rights activists should not underestimate the power of banality. I'm reminded of a friend who wrote his grandfather a 14-page, single-spaced coming-out letter. After saying all the right things, the grandfather added: "And by page eight, I have to say that I was thinking, 'All right, all right, I get it, you're gay". The coming-out story is now a cliché, and we should celebrate that politically, if not aesthetically. Marriage is headed in the same direction, and we should celebrate that as well. For if we cannot persuade our opponents with high-minded argument, we can still bore them into submission with wedding pictures."
O zelo doméstico pelo respeitinho está morto por chegar à blogosfera. Este artigo do Diário de Notícias chama a atenção para o facto de os autores dos blogues- pelo menos os que não são anónimos - estarem, em caso de "injúria" ou de "difamação", sujeitos à lei geral. Traduzido para bom português, "estar sujeito à lei geral" quer muito simplesmente dizer que os autores de blogues não devem ser "licenciosos" e que devem usar a liberdade de expressão com a parcimónia exigida pelos bons costumes e pelo espírito pidesco e inquisitorial que mora dentro de cada um de nós. Os blogues, como eu os entendo, servem precisamente para qualquer cidadão, jornalista ou não, exprimir livremente e, de preferência, com acinte a sua opinião que não tem necessariamente que coincidir com a opinião pública ou com a que se publica. E, sob a capa da "injúria" e da "difamação", é facílimo ao primeiro polícia de opinião sugerir um delito. É claro que um ideal normalizador apontaria para o fim dos blogues, pelo menos daqueles que não se ocupam apenas com as fraldas dos bebés ou com as vicissitudes de uma carreira. Todavia não julgo que isso venha a acontecer, bem pelo contrário. O vazio, que é o lugar e o modo dos nossos tempos, tem de ser ocupado. Os blogues são, nesse sentido, profilácticos. E para serem profilácticos, por vezes devem ser licenciosos no que o adjectivo contém de pureza originária, sem dissimulações. Para estas, basta a vida como ela é.
O comércio decretou que hoje era o "dia do pai". As famílias, sempre obdientes ao credo das montras, arrantam-se para as lojas e para os restaurantes. Os mais velhinhos, remetidos oportunamente para lares sombrios, têm o seu pequeno momento de glória durante umas horas. Vão ser passeados e alimentados de forma diferente, pelo menos ao almoço. Ao final do dia regressam e ficam de novo entregues à sua solidão e à memória, para aqueles que ainda a possuem. A fraternidade merceeira nunca me atraiu. Esta coisa dos "dias" deste ou daquele é uma frivolidade aceite pela pequena burguesia de espírito para poder dormir descansada e para as criancinhas se entreterem. O sentimento não se paga com relógios, gravatas, perfumes ou flores. Está lá ou nunca esteve. Todos os dias.
Está em curso, praticamente na clandestinidade, o congresso do dr. Marques Mendes. Segundo os relatos, o seu discurso inaugural foi recebido com "frieza" pelos acólitos e só houve entusiasmo quando foi proferido o nome de Cavaco. Se nada de extraordinário se passar no país nos próximos tempos - como tudo indica que não se passará - o PSD tem pela frente três anos de melancolia. Gerir a melancolia, apesar das insignificantes bravatas de um ou dois caciques, não atrai ninguém. Marcelo paira sobre isto mas não vai mais longe, até porque teve a sua dose entre 96 e 99. Já deu para o peditório e só voltará a jogo, se voltar, pelo seguro. O país "profundo" ainda não está suficientemente aborrecido com esse homem com sorte que se chama José Sócrates: enterrou todos os seus opositores - Carrilho, Alegre, Soares pai e filho - e não perde um segundo preocupado com Mendes. Mendes ficará, pois, refém da sua própria melancolia, com dois créditos averbados, as autárquicas e as presidenciais. Falará quase sempre sozinho, a partir da oposição, e não deve esperar grande audiência. Afinal, mal ou bem, o que é que Sócrates está a fazer de diferente que o PSD não tivesse que fazer também?
Em algumas mentes mais propícias à interpretação literal e paternalista da Constituição da República, o discurso de posse de Cavaco Silva terá parecido excessivo. Apesar dos elogios, a ideia da “estabilidade dinâmica” e da “exigência” terá ficado a pairar nesses cérebros demasiadamente formatados como um possível aviso. Cavaco, convém afirmá-lo, foi igual nesse dia aos dias que antecederam a sua vitória. Não disse nem mais nem menos do que já tinha dito. Quando esclareceu na campanha que não pretendia ficar sentadinho no cadeirão presidencial a ver passar os comboios, o agora presidente deixou claro que não pretendia banalizar ou trivializar o cargo. O discurso inaugural limitou-se a confirmar esse registo de exigência, em relação a si próprio e aos outros. Cavaco será, com naturalidade, um presidente diferente dos que o antecederam. Os tempos, há que dizê-lo, também lhe facilitam paradoxalmente a tarefa. Lá virá o dia em que a mera propaganda não chegará para fazer uma política e para surpreender um desígnio. Cavaco rege-se por critérios de materialidade e de racionalidade e certamente que a “cooperação estratégica” que defende não deixará de ser aferida a partir deles. Em suma, o presidente também “manda” e é bom que mande. Tem legitimidade e ambição democráticas suficientes para o fazer. Não como um pólo alternativo de poder, mas como um ponderado factor de liderança institucional concertada, aquilo a que bem chama de “estabilidade dinâmica”. O país espera mais deste presidente do que de qualquer anterior. E estará atento ao modo como Cavaco irá agilizar os poderes presidenciais promovidos pela Constituição. Porque é disso que se trata, de agilizar para avançar e não de contemplar para deixar tudo na mesma. Para pior já basta assim.
Bela citação, esta, de Erasmo, tirada ao Elogio da Loucura pelo Anarca Constipado: "Comecemos pelos jurisconsultos. Julgam-se os primeiros de todos os sábios, e nenhum mortal se admira tanto como eles, quando, tal como Sisifo, rolam continuamente para o alto da montanha um enorme rochedo, que torna a cair, mal chega ao cume - isto é, quando entrelaçam quinhentas ou seiscentas leis umas nas outras, sem se preocuparem se se ligam ou não com os assuntos que estão a tratar, quando amontoam glosas sobre glosas, citações sobre citações, e desta maneira fazem com que o vulgo se convença de que a sua ciência é uma coisa muito difícil."
Ler na Grande Loja, "a análise à execução orçamental - Janeiro e Fevereiro de 2006", de António Durte. O dr. Teixeira dos Santos entende que as OPAS são uma prova de "confiança" na economia nacional e, consequentemente, um excelente sinal. A especulação bolsista também. Com estas contas, são um sinal de quê?
Passa-se qualquer coisa de grotesco no CDS/PP. O pequeno partido à direita do PSD, como lhe chamava o dr. Barroso, não tem emenda. O PP de Portas e dos seus amigos não gosta manifestamente do CDS de Ribeiro e Castro. Ribeiro e Castro ainda não percebeu que não pode dirigir o partido apenas aos fins de semana e durante os jantares com as bases. E que o país não lhe passa cartão. O seu irritante grupo parlamentar, a "banda", como com notável felicidade apelidou os discípulos do dr. Nuno Melo, anda à solta e com rédea curta imposta pelo seu patrono ideológico que finge que não é nada com ele. Marques Mendes também tem um problema semelhante - um grupo parlamentar feito à imagem e semelhança de Santana Lopes -, salvaguardadas as devidas distâncias, todavia com a vantagem de ele próprio lá estar. Feitas as contas, a "direita" navega à vista, para o seu umbigo e mal. E Cavaco, para este efeito, não conta. Ribeiro e Castro, se quiser mandar, tem de escolher o partido e o país e esquecer-se de Bruxelas. Mesmo assim, não é seguro que o "portismo" embotado dos srs. Telmo Correia e Pires de Lima lhe dê descanso. A "direita" precisa de um CDS. Com ou sem PP.
Caramba. É um prazer ler um grande escritor, com mais de oitenta anos em cima, sobre a escrita e as suas subtilezas, os outros que também escrevem e meia dúzia de clássicos. "Não existe a rotina de um escritório, apenas a página em branco todas as manhãs, e nunca se sabe de onde vêm as palavras, essas palavras divinas".
Há dias, numa entrevista a uma jornalista da RAI, Silvio Berlusconi deixou a senhora a falar sozinha. A dado momento da conversa, a dita jornalista questionou "il presidente" acerca dos seus negócios e a política, isto numa salganhada em que estiveram quase sempre a falar ao mesmo tempo. Manifestamente a jornalista tinha opinião e entendeu por bem fazer da entrevista um contraponto a Berlusconi que pode ser tudo menos parvo. Sem dar tempo à resposta e continuando a instar o entrevistado, a senhora deu azo a que Berlusconi a conotasse com a "esquerda" e saísse do estúdio. A "esquerda" italiana, algo parecido com uma sopa "minestrone", capitaneada pelo improvável Prodi, merece Berlusconi. A senhora jornalista, na sua inconsciência esquerdina, deve ter prestado um bom serviço ao presidente do Conselho. É natural, pois, que ele fique. E é bem feito.
Paulo Teixeira Pinto, presidente do Millennium BCP, está em directo nas três televisões generalistas para falar da OPA sobre o BPI. Ainda há ilusões ou dúvidas sobre quem manda?
Leio no Acidental e no Caminhante Solitário que "cem mil portugueses estão classificados como "fundamentais para o país", dado os cargos que ocupam, e por isso irão receber anti-virais em caso de pandemia provocada pelo vírus da gripe das aves, anunciou a sub-directora geral da Saúde". Para além da violação do princípio constitucional da igualdade, eu gostava de saber quem é esta gente que deve ser considerada "fundamental" entre nós. É que os cemitérios, com ou sem gripe das aves, estão cheios de "fundamentais" como os que a DGS quer proteger.