Os ecos do colóquio sobre a cultura e os seus modelos de financiamento, a que aludi no post anterior, só me chegaram pelo trabalho de uma jornalista da Antena 1 que lá esteve. Segundo ela, foram ouvidos mais toques de telemóvel do que intervenções da "engravatada assistência". Ou seja, palestrantes e comentadores falaram essencialmente uns para os outros, uma má sina crónica deste tipo de coisas. De essencial, a jornalista reteve que Graça Moura é contra os subsídios aos agentes culturais, enquanto Prado Coelho e o secretário de Estado Amaral Lopes entendem que o Estado não pode prescindir da sua "patorra" paternal. Os comentadores - parece- falaram do que lhes interessa, e pronto, arrumou-se o colóquio. Bem mais interessante do que este café alargado a umas conversas, é a entrevista que Ricardo Pais, director do Teatro Nacional de São João, do Porto, dá ao Jornal de Notícias. Pais gosta muito de se ouvir e até tem alguns excelentes motivos para dar ar à sua imensa vaidade, atendendo ao estado pindérico geral. R. Pais sabe muito bem " vender" os seus produtos e, sentindo-se acossado ou em défice de atenção, polemiza qb. Sabemos que saiu quando Carrilho saiu e, como toda a entourage deste último, não suportou o "interregno" Sasportes. Nessa altura, se a memória me não falha, foi ocupar o lugar de assessor para ele criado no Ministério da Cultura por M. M. Carrilho, uns dias antes de partir. Por isso, e porventura por outras razões que ignoro, brindou Sasportes nesta entrevista com uma picardia desnecessária, comparando-o com as "pessoas civilizadas " que são Roseta e Amaral Lopes, embora não me conste que Sasportes seja propriamente um "homem das cavernas". Depois desta passagem da mão pelo "pêlo" dos poderes da Ajuda, Ricardo Pais invoca Durão Barroso para lhes lembrar que, até ao final de 2003 se tinham comprometido - pelos vistos, só com ele... - a recuperar a autonomia financeira perdida pelos teatros com o orçamento do ano passado. E vai mais longe, "ameçando" sair do São João se a dita autonomia não for restaurada, uma vez que já vamos em Fevereiro de 2004. Duvido que Amaral Lopes se resigne a perder a "estrela da companhia", como também duvido que o Ministério das Finanças altere substantivamente a situação nos tempos mais próximos. Numa coisa Pais tem razão. Não é por muito alterar leis orgânicas ou por querer obsessivamente transformar teatros em SA's que "as coisas mudam". O problema do "dinheiro" permanece, a fonte de financiamento é a mesma (OE) e ninguém pode estar certo de que a "agilidade" indispensável ao bom funcionamento destes organismos esteja garantida fora do registo presente do instituto público. Eu ainda gostava de ver um dia Paolo Pinamonti, o director do São Carlos, "encostar" estes actuais poderes um pouco à parede, como o faz, subtilmente na praça pública, Ricardo Pais. Sei no entanto que ele prefere as teclas da "insistência" (quantas vezes eu ouvi esse verbo tão rapidamente aprendido e conjugado por Pinamonti, "insistir, temos que insistir...") e do telemóvel para chegar ao seu "bom porto". Há, porém, uma diferença entre estas duas direcções. Pais, quando está à frente de um teatro nacional, "dirige" efectivamente de alto a baixo a instituição, não se limitando à direcção artística. Em certo sentido, ao regressar ao São João, R. Pais também o "restaurou" internamente, depois de um período de relativa trapalhada. Já a Pinamonti "escapa" a "cultura interna" da casa e o seu funcionamento algo esquizofrénico, que referi na carta de demissão. O que lhe sobra para a direcção artística, falta-lhe amiúde para a direcção tout court, tornando difícil a colaboração na gestão. E falo exclusivamente por mim, a quem não apeteceu "fazer de morto" ou de idiota útil.
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