7.2.04

PUBLICIDADE ENGANADORA

Quando chegou à altura de correr com o comissário da Expo 98, Eng.º Cardoso e Cunha, o então ministro tutelar daquele célebre e chorudo brinquedo, o Dr. António Vitorino, saiu-se com umas graçolas do género "não me peçam para eu andar com o senhor ao colo" ou "vejam lá se é preciso mandar erguer-lhe uma estátua". O tempo passou, Vitorino também passou do governo para a Europa, e agora tornou-se sinal de distinção política interna andar com o referido Vitorino ao colo. E isso é coisa que lhe não falta, desde o Presidente da República ao governo de D. Barroso, passando naturalmente, mas menos, pelo seu próprio partido. Em Portugal, é vulgar a distância e o soberano alheamento das tricas domésticas gerarem mitomanias, excessivas expectativas e uma veneração de circunstância dos meios de comunicação social (ver, a propósito disto, uma nota no Abrupto) . Primeiro, Vitorino começou por ser "bom" para vir pôr em ordem o esfrangalhado Partido Socialista, abandonado à sua pouca sorte por Guterres. Depois, farejando simultaneamente o putativo perigo desse "regresso" e o indiscutível bom papel desempenhado na Comissão Europeia, Barroso manteve o homem em Bruxelas. A seguir, passou pela cabeça de alguns pândegos que Vitorino podia ir a Secretário Geral da NATO, coisa que o Sr. Rumsfeld, entre dois cafés e uma conversa rápida numa descida à Europa, desfez em dois tempos. Para entreter eventuais distraídos, pôs-se para aí a correr que o governo podia manter Vitorino na Comissão ou mesmo alcandorá-lo a presidente da dita. Nem uma coisa nem a outra se vão verificar. Alguma vez os interesses da coligação seriam compatíveis com mais uma "luz verde " dada a Antómio Vitorino para o tão atraente cargo de comissário europeu? Quanto à questão da presidência, tudo fica facilitado pela nossa irremediável pequenez. Com não sei quantos candidatos ao cargo, que já foram chefes de governo, e com a arrogância porventura legítima do PPE, que hipóteses sérias tem Vitorino? Nenhumas. Eu respeito as qualidades e a inteligência viva de António Vitorino, embora me pareça que se pôs demasiadamente em bicos dos pés para se manter, custasse o que custasse, em Bruxelas, empurrando-se a si próprio para a frente, na esperança de que o governo o seguisse. É pacífico que Barroso irá fazer o seu "número" até ao fim e, no momento adequado, lastimar-se-á, acudindo de seguida ao ansioso interesse partidário. Até lá, nesta como em outras matérias, a publicidade enganadora vai continuar.

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