BAUDELAIRE
A "dor baudelairiana" tem servido para abundantes dissertações. Sartre, aliás, é autor de um belissimo ensaio sobre o poeta de Les Fleurs du Mal, traduzido nas edições Europa-América, na década de 60, por Pedro Bom. Nesse texto, Sartre lembra que, em Baudelaire, a "dor e o seu orgulho são única e exclusivamente a mesma coisa". A atracção pelo sofrimento é bem espelhada na carta que Charles Baudelaire pensou em escrever a Jules Janin e que jamais terá passado da sua cabeça fervilhante e melancólica. Cito-a através do livro de Sartre.
O senhor é um homem feliz. Lamento-o, Senhor, por ser feliz com tanta facilidade. É preciso um homem descer muito para se julgar feliz!...Ah!, o Senhor é feliz. Pois bem! Se dissesse: sou virtuoso, depreenderia que essa afirmação subentendia: sofro menos do que qualquer outro. Mas não, o Senhor é feliz. Quer dizer: fácil de contentar? Lamento-o e considero a minha má disposição mais refinada do que a sua beatitude. Irei até ao ponto de lhe perguntar se os espectáculos da terra lhe bastam. Pois bem! Nunca o Senhor sentiu vontade de se ir embora, mais que não fosse para variar de espectáculo! Tenho razões muito fortes para lamentar aquele que não ama a morte.
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