1.12.09

UM PORTUGAL RASURADO


Li - atrasado- no suplemento dito cultural do Expresso que Paulo Teixeira Pinto vai editar a Mensagem "tal e qual" o dactiloscrito de Fernando Pessoa existente na Biblioteca Nacional. A Mensagem deve ser das coisas mais mediocremente patrioteiras que Pessoa escreveu. Pessoa não precisava daquilo para se estabelecer, sem favores críticos, académicos ou dos seus mais modestos leitores, como poeta. Devo ter lido a Mensagem uma vez na vida. Em compensação, releio o Pessoa e demais encarnações poéticas vezes sem conta. Tal como tento ler o que sobre ele - do mau ao muito bom - se escreve. A propósito, convinha esclarecer o prolixo editor que a frase "não há factos, apenas interpretações" não é do nosso Pessoa mas antes de Nietzsche. «Nein, gerade Tatsachen gibt es nicht, nur Interpretationen. Wir können kein Faktum «an sich» feststellen: vielleicht ist es ein Unsinn, so etwas zu wollen.» (Friedrich Nietzsche, Nachlass) É apenas um pormenor. Tal como a Mensagem (aka Portugal na "primeira" versão) o é no meio desse turbilhão denominado Pessoa.

9 comentários:

Anónimo disse...

Porém, "A Mensagem" contém algumas linhas que, relidas nestes tempos, parecem contemporâneas - por exemplo, nos "Colombos" refere "(...) E por isso a sua glória, é justa auréola dada por uma luz emprestada". Perante tanto personagem "desfocado", para usar o termo de W. Allen, acho que estas linhas são uma pertinente síntese de tanto dos tempos de hoje.

radical livre disse...

os agentes das postrimerias
podiam dedicar-se ao passado glorioso e esquecido
para levantar a auto-estima

preferem morte, julgamento, inferno (para os outros)
, glória (para eles)

para seu aperfeiçoamento pessoal:
cave, cave Deus videt

António Bettencourt disse...

Desculpe mas só uma leitura simplista e pouco informada pode chamar patrioteira a uma obra como a Mensagem.

Sem dúvida que foi escrita para um concurso literário de índole patrioteira mas está muito além dessa leitura.

Leia o último poema da mesma e diga-me se aquilo é patrioteirinsmo.

Tenho pena que o João saiba pouco de Literatura e que depois diga coisas deste género, como o costuma fazer, por exemplo, em relação a António Lobo Antunes ou outros.

Não está em causa o gosto pessoal ou direito de cada um de gostar ou não gostar deste ou daquele escritor ou desta ou daquela obra.

Mas dizer que não presta literariamente é outra coisa completamente diferente.

Infelizmente todos se acham habilitados a falar de literatura.

Se para se falar de Zoologia ou de Física Nuclear as pessoas acham que têm que estudar sobre o assunto e têm que estar informadas, já sobre Literatura, qualquer Zé que tenha feito o liceu e lido umas coisas se acha habilitado a criticar.

Como se a Literatura, embora uma arte e embora sobre a qual se possa fazer um juízo subjectivo, não fosse também uma área de saber especializado.

Anónimo disse...

http://viverseixal.blogspot.com/2009/12/hino-da-restauracao-sociedade-1-de.html

Carlos disse...

Penso que já editou. Deve ser uma coisa estranhíssima que vi ontem numa Fnac, um livro embrulhado numa embalagem de plástico lacrada, que impossibilita que o vejamos. Marketing puro e duro.

Nuno C. disse...

...A Mensagem deve ser das coisas mais mediocremente patrioteiras que Pessoa escreveu. Pessoa não precisava daquilo...
Podia esclarecer melhor? Nomeadamente a mediocridade?!!

Anónimo disse...

É cultura comó caralho! Foda-se!

Alves Pimenta disse...

Isso é que é literatura, Anónimo das 7:AM.
Por que não cria um blogue a propósito? Lá porque já há um com título da área - e que tresanda a socretinismo... -, não vejo razão para que não tente.

www.angeloochoa.net disse...

Tu outra vez, fatal Pessoa?
Nacional obsessão, contumaz pilhéria,
a que nos reduz teu vicioso ciclo alcoolizado.
Era só o que vias este sol?
Ou, mais pra lá do que disseste,
ou nos subscritos selados nos deixaste,
não haverá rua, lua, alma, sonho, praia,
monte, voo, luz, quid, imensidade?
Que o hoje não é só essa Lisboa.
(Sonhadas Palavras)