4.4.07

PÁSCOA


"No cimo da cruz de Jesus – nas duas línguas do mundo de então, o grego e o latim, e na língua do povo eleito, o hebraico – está escrito quem é: o Rei dos Judeus, o Filho prometido a David. Pilatos, o juiz injusto, tornou-se profeta sem querer. Perante a opinião pública mundial é proclamada a realeza de Jesus. O próprio Jesus não tinha aceite o título de Messias, enquanto poderia induzir a uma ideia errada, humana, de poder e de salvação. Mas, agora, o título pode estar escrito ali publicamente sobre o Crucificado. Ele, assim, é verdadeiramente o rei do mundo. Agora foi verdadeiramente «elevado». Na sua descida, Ele subiu. Agora cumpriu radicalmente o mandamento do amor, cumpriu a oferta de Si próprio, e precisamente deste modo Ele é agora a manifestação do verdadeiro Deus, daquele Deus que é amor. Agora sabemos quem é Deus. Agora sabemos como é a verdadeira realeza. Jesus reza o Salmo 22, que começa por estas palavras: «Meu Deus, meu Deus, por que Me abandonaste?» (Sal. 22/21, 2). Assume em Si mesmo todo o Israel, a humanidade inteira, que sofre o drama da escuridão de Deus, e faz com que Deus Se manifeste precisamente onde parece estar definitivamente derrotado e ausente. A cruz de Cristo é um acontecimento cósmico. O mundo fica na escuridão, quando o Filho de Deus sofre a morte. A terra treme. E junto da cruz tem início a Igreja dos pagãos. O centurião romano reconhece, compreende que Jesus é o Filho de Deus. Da cruz, Ele triunfa sem cessar." São palavras de Joseph Ratzinger. Como estas, aliás, da sua primeira e, até agora. única "Encíclica":"Quem procurar salvaguardar a vida, perdê-la-á, e quem a perder, conservá-la-á » (Lc. 17, 33) — disse Jesus, afirmação esta que se encontra nos Evangelhos com diversas variantes (cf. Mt. 10, 39; 16, 25; Mc. 8, 35; Lc. 9, 24; Jo. 12, 25). Assim descreve Jesus o seu caminho pessoal, que O conduz, através da cruz, à ressurreição. É cada vez mais necessária a presença do Filho do Homem, da "parusia". É o Único que verdadeiramente nunca nos abandona, primeira e derradeira esperança do homem num mundo perdido de si para sempre. O martírio do Filho de Deus permanece para os cristãos - mesmos para os maus cristãos e pecadores como eu - o verdadeiro mistério que ilumina a nossa vida desesperada, a nossa razão céptica e a morte certa. Na sua inexpugnável solidão - "Pai, por que me abandonaste?" -, Jesus é o maior monumento de coragem que conheço. Na linearidade luminosa e angustiada da Palavra, Jesus, sem querer, "responde" por antecipação ao "abandono" do Pai, penetrando até ao fim nesse coração de trevas que é o coração do homem.

2 comentários:

Anónimo disse...

não percebo como é que o sofrimento sacrificio dele alivia o meu.
e não percebo, porque não alivia.

não é suposto ser:
senta-te e sofre comigo.

Maria Lua disse...

João,

Com os votos de uma Feliz e Santa Páscoa.

"As coisas grandes o Senhor no-las sussurra. Ele visita-nos em bicos de pés. É o seu estilo. Como uma brisa ligeira que falou a Elias; o sal diluído na comida; o fermento escondido na massa. Se nos visitasse com a plenitude da sua luz ficaríamos ofuscados. É preciso reconhece-lo nos fragmentos do quotidiano. Os compromissos importantes, aqueles que dão sabor, cor, sentido a uma vida, crescem devagar, mas com o tempo damo-nos conta que há um fio que une todo o conjunto. O empenho na construção de um mundo melhor tem momentos de ternura que nos dão força e luz.
(...) A apocalíptica cristã não nos ensina a vencer o inimigo com a força das armas, mas diz-nos para mantermos os olhos abertos e o coração pronto para reconhecer, mesmo no fundo da crise, os sinais do início de um mundo novo. A manhã está próxima. A Páscoa está aqui, amigos. Aquele que estava vencido, crucificado fora das portas da cidade, é agora o Senhor Ressuscitado. A Túnica está ainda ensopada em sangue, os pés descalços, as feridas abertas. Mas sorri para nós e faz-nos sinal para o seguir."

Renato Kizito Sesano (Missionário Comboniano)
Revista Além-Mar - Abril 2006
www.alem-mar.org