6.9.06

A NATUREZA DO ARGUMENTO

Nuno Severiano Teixeira foi um mediano ministro da Administração Interna. Mal tinha chegado a Washington, em Setembro de 2000, já o telefone tocava para rumar à Praça do Comércio. Sem praticamente desfazer as malas, disse prontamente que sim. Quando entrou, para substituir um equívoco chamado Fernando Gomes, já estava em marcha a desgraça guterrista. Serviu como se estivesse a cumprir o serviço militar. Depois de várias incursões televisivas para "comentar" as desgraças internacionais, as costas do Prof. Freitas do Amaral fizeram-no regressar ao governo, anos volvidos, para a pasta da Defesa. Severiano Teixeira é daquelas criaturas aprumadinhas que ficam bem em qualquer lugar, menos em porta-voz de um político a sério como Mário Soares. Até num governo PSD não destoava. Sobre a "missão portuguesa" no Líbano, o distinto académico tem dito coisas extraordinárias que o Paulo Gorjão se tem dedicado a acompanhar com manifesta caridade cristã. Por exemplo, fica-se a saber que "o problema ["o planeamento das forças"] está a ser planeado" em Nova Iorque. Eu pensava que o que se "planeava" era a "solução" e não o "problema". E, remata Severiano, "é um serviço que Portugal tem que prestar". Lá virá o dia em que o país reconhecerá a Severiano Teixeira os relevantes serviços prestados à pátria, entre os quais este. Como historiador, o melhor mesmo é deixar falar Vasco Pulido Valente. "Houve quem negasse que a República não tinha sido na essência um fenómeno urbano e, sobretudo, lisboeta. Para "provar" esta peregrina tese, um jovem historiador (muito enamorado de si próprio) [num "livro pouco respeitador da propriedade intelectual"] resolveu esclarecer que, na realidade, a República se resignara ao conservadorismo do Portugal provinciano ou estabelecera com ele um modus vivendi, que por vezes não excluía a colaboração. Não lhe ocorreu decerto a natureza contraditória do argumento." (in prefácio a "A "República Velha" (1910-1917), ensaio, Gradiva, 1997). Está visto. Nuno Severiano Teixeira gosta mesmo da "natureza contraditória do argumento" onde quer que se encontre. Na cátedra ou num ministério qualquer.

Adenda: Um leitor que assina "alcoólico anónimo" - e Deus sabe quantas prosas e poesia das boas se teriam perdido se não fosse o absinto - "completa", por assim dizer, o "retrato" do actual MDN. Como me pude esquecer do "kit republicano"? "Um cérebro este Teixeira. Da primeira vez que passou pelo ministério inventou o "kit republicano". A esta gente sem ideias salta-lhes sempre o pé para o cinco de outubro."

1 comentário:

Anónimo disse...

Um cérebro este Teixeira. Da primeira vez que passou pelo ministério inventou o "kit republicano".
A esta gente sem ideias salta-lhes sempre o pé para o cinco de outubro.


alcoólico-anónimo