18.12.09

QUEM BEBE PELO GARGALO COMPRA A GARRAFA

Os defensores do casamento que ontem foi, digamos assim, "governamentalizado", incorrem num tropismo hipócrita que revela a natureza meramente política - e, dentro da política, politicamente correcta - do objectivo enquanto cartaz. O cartaz é giro, já pode ser afixado e não se fala mais nisso. Porém, devia falar-se. Na adopção. Defendo, sem hesitações, a adopção seja por quem for que prove ter condições para melhorar a vida de crianças que estariam bem pior sem essa possibilidade. Os conceitos de "pai" e de mãe" estão há muito destruídos nos arquivos dos tribunais de família. Seria cruel impedir a hipótese de felicidade de uma criança por causa de falácias intelectuais e de oportunismos políticos. Esta "revolução" legislativa parou onde não devia ter parado porque não passa de um cartaz. O argumento expresso no post anterior - que se resume, em caricatura, ao "faz, faz mas devagarinho para não doer" - denota precisamente este ethos original e retórico. Nunca há coragem para levar uma narrativa destas até ao fim. Ou seja, ainda não aprenderam que quem bebe pelo gargalo compra a garrafa.

9 comentários:

JB disse...

Concordo com o post. Se querem o casamento, presume-se que querem a adopção.

Ora, se assim é, o mínimo que se exige ao governo é que não se prenda com a mercearia dos votos que a adopção lhe pode fazer perder. As meias tintas não são possíveis neste caso, nem em termos jurídicos, nem em termos puramente lógicos. Uma coisa implica a outra. Donde, ou estamos perante uma farsa do governo que sob a capa do casamento aprova a adopção ou então estamos perante a maior discriminação até agora sofrida pelos homossexuais. Em ambos os casos, o governo e todos os que defendem a sua posição ficam mal na fotografia.

Anónimo disse...

Certo. Confesso que me irrita bastante os gajos e as gajas que se querem casar quando ninguém os chateia se viverem juntos, com os direitos sociais garantidos pela actual legislação. Acho até uma foleirice parola, patética e folclórica! Mas nem por sombras isso poderia, em circunstância nenhuma, levar-me a pensar que a esmagadora maioria das crianças abandonadas em lares miseráveis estão melhor ali que no aconchego de uma casa "normal", sejam os futuros pais paneleiros, lésbicas ou, como "Deus mandou", gajo-com-gaja. E tenho poucas dúvidas de que a maioria dos casais homossexuais vão dar mais atenção aos "filhos" que os adoptantes "normais". E irritante ao ponto da bengalada possível, é ver estes criaturinhos virem agora dizer que sim ao casamento gay mas não à adoção. Se fossem mas é apanhar nos entrefolhos!!!
Rita

Edgar Alain Prost disse...

Estaria de acordo, não se desse o facto de, neste caso, as consequências não se limitarão a uma garrafa, mas a uma adega inteira que ninguém tem capacidade de comprar.

fado alexandrino. disse...

Quando me apresentarem um casal, dos verdadeiros, nascidos criados e casados nas Fontainhas, sócios do F.C. do Porto e que mal nasça o primeiro filho vão a correr fazê-lo sócio do Benfica eu passo a acreditar na bondade de adopção destes novos casais.

Anónimo disse...

trata-se de uma injustiça. O contrato de casamento permite regalias sociais conferidas pelo Estado, como por ex. beneficios fiscais, heranças, o direito a receber pensões, salários, etc... por viúvez... Não é só a adopção. Presumo que doravante, se dois irmãos ou irmãs, ou quem quer que viva em comunhão de habitação e queira usufruir destes benefícios, poderá, com toda a propriedade, aceder ao direito de casamento. Não é obrigatório haver um exercício efectivo da conjugalidade ou é ? E, se é, quem vai ao leito conjugal fiscalizar a conformidade da situação ? Abriu-se uma caixa de pandora. O seu fim, se a Contituição não for entretanto mudada, será provavelmente a concessão do direito de casamento a toda e qualquer pessoa ou então (hipotese que defendo) o fim do casamento enquanto instituição sancionada pelo Estado e das regalias que confere.

GAVIÃO DOS MARES disse...

Os hetero já pouco se casam.
Agora só os homo se casam!
Qualquer dia os homo querem que os hetero juntos sejam obrigados casar.

Nuno Oliveira disse...

Tento ultrapassar um conceito que não entendo: casar! Mas quem é que no seu perfeito juízo quer casar? Que ideia tão idiota. Excepto no que toca ao copo-de-água é claro...
De qualquer modo, se é o que querem então que seja. Quanto ao leito conjugal, tenho a certeza que isso não é razão para um casamento, se não ninguém permanecia por muito tempo...
Melhores condições nos impostos? Cá em Portugal é quase ridículo... Nem sei porque é que 2 pessoas a viver na mesma casa têm direito a melhores condições do que 1 sozinha. Esta não partilha despesas logo deveria ter mais "ajudas". E a ajuda que se dá pelos filhos apenas encoraja o fim da espécie...
Eu acho que vou mudar de opinião: já não quero que seja permitido o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Nem de sexo oposto. Pronto! Acabei com a diferenciação! E agora? Não estão todos contentes com o meu brilhantismo?

P.S.:Agora podemos discutir o direito a todos se casarem!

Anónimo disse...

Se o casamento dos homossexuais for aprovado, vou no dia seguinte ao registo civil pedir que me descasem. Não quero ser confundido com um sodomita ou com uma lésbica.

hajapachorra disse...

É tudo tão sem importância, não é?, tudo tão blasé, tão a ver só com os outros desde-que-não-me-chateiem-a-moca, não é? Pensar custa. E não basta ter sempre Bento XVI na tecla para parecer que se pratica a modalidade. O direito, essa porcaria que nos impede de ser completamente selvagens, começou quando se começou a regular o casamento (Leges XII Tabularum) e não quando o inventou. O direito, essa modernaça e maçadora disciplina da sociologia, acaba quando se põe a inventar casais impossíveis e casamentos ainda mais absurdos. Como uma meia dúzia de mariolas ganha tanto poder a ponto de poder chamar preto ao que é branco só se compreende pelo alcance civilizacional da coisa. Eles sabem o que estão a fazer e têm muitos idiotas úteis ao seu serviço. Mas vão trilhar-se nos dedos, ai vão, é só uma questão de tempo. A vida não é como o menino quiser. A vida é fodida, pá.