20.12.09

O NOIVISMO DE SANTO ANTÓNIO AO LUX


Tinha jurado não voltar ao assunto*. Porém, uma longa entrevista do "mais cotado designer gráfico português" (é assim que a revista Pública do Público o apresenta), Ricardo Mealha - destinada aparentemente a "explicar" a vileza da sociedade nacional, por um lado, e a equanimidade da figura do casamento, por outro - suscita duas ou três observações. Mealha, o tal maravilhoso e praticamente único designer nacional - o que é que pensas disto? -, é o produto típico da classe média alta lisboeta. Os colégios, as "vivências" (essa expressão medonha), a educação, em suma, tudo fazia de Mealha um bom betinho, destinado a belos voos. Aterrou bem, de facto. O seu talento - pois algum terá - foi devidamente apropriado pelo regime que lhe comprou catálogos para exposições oficiais e símbolos (o do Ministério da Cultura é dele). Deve estar já naquela fase da vida em que podia precocemente aposentar-se. Ficamos a saber (como se isso interessasse a alguém) que Mealha "casa" amanhã na discoteca Lux, em Lisboa, perante uns quinhentos convidados, Sócrates não foi esquecido como a entrevista salienta. "Casa" com o seu namorado David que, evidenciando um bom senso que Mealha manifestamente não tem, não falou. É evidente que Mealha e David não vão casar. O gesto é uma mera manobra publicitária destinada a consagrar uma nova espécie de anti-concurso de "noivas de Santo António" bcbg. Mealha nem sequer tenciona ficar por cá à espera da "nova" lei. Ruma para o Brasil, por um ano, com o seu marido e o seu talento. Convém, pois, registar esta "moda" de "noivismo" chique de capa de revista social em que o Lux - ou seja, a mistificação - substitui com facilidade a Sé de Lisboa. Não releva ser. Importa parecer. Casado. Habituem-se.

*sobre ele, e para variar, este post sereno.

7 comentários:

Lura do Grilo disse...

Isto está a ficar ao nível daquela entrevista na antepenúltima página de uma revista da programação das nossas TVs (todas diferentes mas todas iguais). A entrevista chama-se: "Na cama com .." e tem uma elevação da horizontal onde entram coisas culturais igualmente de extrema elevação como "dois é demais", "brinquedos: sim ou não", etc.

Anónimo disse...

Não faço ideia de quem são estes pombinhos, mas a frase "Ruma para o Brasil, por um ano, com o seu marido e o seu talento" levou-me a ter um abanão mental.

É que nunca tinha pensado que, dentro em breve, vai passara ser a grande confusão com os "maridos" deles e as "mulheres" delas. Será que no Porto eles vão dizer "o meu esposo" ou "o meu homem"? E elas, vão preferir um neologismo ("a minha marida")?

PC

Anónimo disse...

Justificava-se um 6º ponto no post:

http://portugaldospequeninos.blogspot.com/2009/12/nao-ha-homens.html

José Teófilo Duarte disse...

O João Gonçalves pergunta-me o que é que eu penso da classificação atribuida ao meu colega Ricardo Mealha no Público, que, segundo ele, é apresentado como "maravilhoso e praticamente único designer nacional". Não classifico e não penso nada, meu caro João. O que penso do casamento entre pessoas do mesmo sexo está dito e redito. Mas nada tenho a dizer sobre festivais de folclore. Mas cada um é como cada qual. Parabéns aos noivos.

sampy disse...

O post levantou-me uma dúvida colateral: como é que vai ser com o evento "Noivas de Santo António" a partir do próximo ano? Como é que a Câmara de Lisboa vai lidar com a "discriminação", que nem nas bancadas de Alvalade é mais admitida? O António Costa vai ter de aguentar com a Ilga sem tugir.

Anónimo disse...

E será que alguém leva isto a sério? Ninguém dará uma sonora gargalhada? Anda o país ocupado com uma questão que diz respeito a meia-dúzia de lisboetas sodomitas. Não há dúvida de que o ridículo não mata. Se matasse, toda esta gente estaria já no cemitério.

Anónimo disse...

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