11.12.09

MODERNIDADE OCA

As aventuras tecnológicas de José Sócrates, que olha os computadores como brinquedinhos fofos, levam a situações que, se não fossem tão dramáticas, permitiriam uma gargalhada sonora por parte da nação que é a nossa. Conto-vos o caso de uma escola, não interessa qual, que recebeu mais de trezentos computadores portáteis neste ano lectivo. Sim, leitor: trezentos. A escola tem perto de mil alunos, o que dá um rácio de um computador por cada três alunos. Ao mesmo tempo, nenhuma das mais de quarenta salas da escola tem falta de um projector fixo, colado ao tecto. Quadros interactivos ainda os há poucos, mas não tardarão muito. Com todo este potencial tecnológico, a instalação eléctrica não aguenta e (que engraçado) a escola vê-se obrigada a gastar vinte mil euros (até ver) em obras.
Claro que ao mesmo tempo que esta orgia gastadeira e irreflectida se vai dando, para que o povo se rejubile e o líder se possa vangloriar por ter feito tanto com o dinheiro dos outros, boa parte dos professores continua sem saber o que é um rato, sem imaginar como funciona o powerpoint e sem sequer querer saber o que é aquela coisa pendurada no tecto. E são estas as reformas da educação. Atira-se umas notas de quinhentos, uns computadores para a criançada e os programas continuam miseráveis e concebidos por gente incapaz, os professores desactualizados e os quadros eléctricos pouco potentes. Uns chamam-lhe modernidade. Eu não lhe chamo nada, que é para não ser mal-educado.

14 comentários:

Nuno Castelo-Branco disse...

Sinceramente, não convém exagerar. É claro que há muita gente que preferiria a renovação dos quadros de lousa e a oferta de giz e ardósias às crianças. Não sei se a ter sido o PSD a oferecer os Magalhães, a reacção fosse a mesma, Tiago. Se o governo - seja ele qual for, pouco me interessa - seguir aquilo que é neste momento o mais indicado para leccionar de forma mais eficaz, tal não deve ser arrasado em nome da paixão clubista. Muito há para fazer e devemos começar pela autoridade e consistência de conteúdos da escola primária, liquidada após o 25 de Abril. Daí podemos passar ao liceu e à "faculdade" que temos. Sem pais interessados a ensinar em casa, a escola é apenas o que vemos. Poços de estatísticas e um simples passatempo, sucessoras dos jardins infantis.
A quantidade de gente formada em mitologia, filosofias várias, sociologias, sexologias, nutricionismos desportivos e outras coisas tais, é exactamente tão numerosa como aquela que em Singapura se forma em engenharia, matemática,informática ou física. Grande diferença. Pois é, mas aqui no "Portugal Moderno", o títulozinho de "doutor"- quando somos quase todos simples licenciados - pesa muito. É uma nova forma de nobreza que por vezes é comendadorizada no 10 de Junho. Que tristeza.

Anónimo disse...

Quando eu era pequeno chamava-se "banha da cobra", no mínimo.

Nunca mais ouvi esta expressão, e lembrei-me a propósito.

PC

Tiago Moreira Ramalho disse...

Nuno,

Peço-lhe o favor de não me chamar desonesto. Eu não pertenço ao PSD e não tenho paixões clubísticas. Uns estão no poder e outros não, apenas isso.
Quanto ao que escreve, não lhe entendo o ponto. Acaso defendi distribuição de ardósias e giz? Não me parece. Entendo que o exercício de estilo tenha alguma graça, mas não me apetece uma discussão de surdos.


O problema da Educação não está na falta de computadores, na falta de projectores ou o que seja. O problema está na fraca qualidade dos programas que apenas vigoram durante pouquíssimos anos, impedindo qualquer tipo de estabilidade e melhoria no ensino; está na constante alteração das disciplinas (nomeadamente no ensino básico), acrescentando-se novas áreas acessórias sem que as fulcrais tenham a devida atenção. Basicamente o problema não é de todo financeiro. O problema vem de algo que não se «quantifica». Daí que ninguém lhe ligue nenhuma.

Gerónimo Cão disse...

Sem esquecer, presumo que não esqueça, os professores desempregados, ou empregados em part-time, estejam ou não actualizados e percebam ou não da cepa; sempre podem, e não há problema algum, dar umas explicações praticamente à borla, fazer os trabalhos de casa dos meninos universitários (não me digam que mesmo sendo fáceis, pensavam que eram eles que os faziam?) por tuta e meia; e fazer umas horitas nocturnas numa tasca ou estação de serviço. É tudo fancaria. Menos a falta de comidinha. Bons part-times…

www.desempregadoempart-time.blogspot.com

Anónimo disse...

Raramente uma tv/vídeo numa escola funciona ou está disponível. Ter tinteiro numa impressora é um luxo.
Numa escola com 800 alunos existe uma fotocopiadora na repografia. Imagine-se o que acontece quando a "dita" avaria. E em dia de testes?
Máquina de filmar ou fotográfica? Só se for a de professor!
Etc. Etc. Etc.

prof.

Lura do Grilo disse...

Para ensinar basta um quadro branco, umas canetas, um projector, algum talento e sobretudo um grande domínio das matérias.

Os quadros interactivos nas escolas que conheço estão a apanhar pó. Tudo o resto ... é paisagem!

Anónimo disse...

No actual ensino muitos não sabem sequer conjugar verbos na 2ªa pessoa do plural com "vocês" porque o "vós" continua a imperar. Isto não é bom para aqueles que não querem seguir a carreira de Padre.

Anónimo disse...

boa parte dos professores continua

www.angeloochoa.net disse...

Querem meninos sadios?
Atirem-lhes com magalhães, preservativos, contas bancárias, a render lá para calendas... e ensinem-nos a masturbarem-se em espaço escolar... e a descriminar os 3 tipos de «novas famílias...» Que chorem e chorem as mãezinhas...
Se calarão com popotas!

Anónimo disse...

"boa parte dos professores continua sem saber o que é um rato, sem imaginar como funciona o powerpoint e sem sequer querer saber o que é aquela coisa pendurada no tecto. "
que exagero!...
não é esta a realidade que vivo e conheço,todos os dias ,nas escolas.
maria antunes

Joaquim Amado Lopes disse...

O Nuno Castelo-Branco sabe que utilização está a ser dada aos Magalhães nas escolas?
Sabe quantos ainda funcionam?
Sabe quantos foram vendidos por quem os recebeu?
Sabe que há professores que pedem aos alunos para não levarem os Magalhães para a escola?
Sabe que um computador, um projector e um quadro multimedia são apenas ferramentas e que as ferramentas apenas valem pelo que se sabe fazer com elas?
Sabe quão difícil é controlar uma turma de crianças cada uma com o seu computador ligado à Internet?
Sabe que pouquíssimos professores estão habilitados a resolver problemas técnicos nos computadores?

O programa de distribuição de Magalhães é uma parolice sem pés nem cabeça, com o único objectivo de fingir que Portugal está na vanguarda no uso das tecnologias na Educação.
Na realidade está-se simplesmente a desperdiçar centenas de milhões de euros a distribuir computadores pelas famílias, dinheiro que seria muito melhor aproveitado a melhorar as condições das escolas, a formar os professores e a melhorar os programas.

O Governo PS tem o mérito de ter melhorado em muito o acesso a serviços públicos através da Internet. Mas, no caso do Magalhães, demonstrou até onde vai a sua parolice.

Nuno Castelo-Branco disse...

Seria indecente acusá-lo de desonestidade. O que quis dizer, referia-se à necessidade de por vezes tentarmos olhar as coisas com alguma objectividade. A inércia não nos conduz a sítio algum e não me parece que o PSD + Cavaco sirvam para alguma coisa. Estiveram muito tempo no poder, quando existiam possibilidades reais e a generalizada aceitação para medidas reformistas ´solidas e credíveis. Ou querem agora começar um "novo regime" com um jovenzinho de 72 anos que ainda para mais, é uma das pedras do sistema?
É certo que o problema da educação ultrapassa em muito, a falta de computadores, reprografias, etc. Bem sei. Podiam até começar pelo fundamental, aquela coisa perfeitamente "negligenciável" que é a disciplina que não ofereça qualquer tipo de dúvidas. Outro caminho a seguir, é o fim da patetice da escola à força. O Estado não tem dinheiro para quem não quer estudar. É simples e mais honesto para a totalidade dos contribuintes. Daí, podemos passar às matérias curriculares e logo desde a Primária.
Há muito para fazer. O regime que fique de lado, se não quiser assumir a tarefa.

j. manuel cordeiro disse...

Concordo com o diagnóstico que o Tiago faz no comentário das 8:04 PM. Atirar com computadores e demais geringonças é como acreditar que a bela da enciclopédia na sala de jantar tornará a família mais culta. O Magalhães foi um golpe de aliciamento com brinquedos para os pais das crianças na primária.
Cumprimentos,
Jorge

Alexandre Poço disse...

Muito bom, adoro a sua versão à Medina Carreira do que se vai fazendo na Educação, pela Educação e com a Educação. É certo que exagera um pouco, mas a verdada está lá toda.

Abraço