A RTP1 passa à noite o filme de Robert Benton, A culpa humana, baseado no livro A Mancha Humana (The Human Stain) de Philip Roth (tradução na Dom Quixote). O filme é perfeitamente esquecível, apesar das interpretações de Anthony Hopkins e Nicole Kidman. Roth, no essencial, conta a história de alguém que foi expulso da sua vida. Coleman Silk é um homem perseguido pela cor oculta no seu "rosto branco como a neve" na América racista e "profunda" dos anos 40, 50 e 60, agora pelos vistos em acelerado processo de "compensação" através da "obamomania". É uma palavra ("spook") proferida numa aula por Coleman, já no fim dos anos Clinton - referida a dois estudantes que ele ignorava serem negros - que leva à saída forçada da universidade da qual fora reitor, em nome do "correcto". Com a morte súbita da mulher, Coleman descobre Faunia, a mulher da limpeza da universidade, mais nova, sozinha depois de um marido errado e do desaparecimento dos filhos pequenos. Faunia nunca quer acordar ao lado de Coleman e diz-lhe a toda a hora que ali não há lugar para o "amor". Só no último dia das suas vidas aceita a ideia de "partilhar" o afecto de Coleman. A história é contada pelo vizinho de Coleman, o escritor Zuckerman, um dos alter ego de Philip Roth. A escrita de Roth, adaptada aos diálogos do filme, fala de vergonha - de uma imensa e escondida vergonha "identitária"-, da rejeição, da perda e da solidão final. Como na famosa frase de Hegel, «há uma noite que se descobre quando olhamos um homem nos olhos - mergulha-se então o olhar numa noite que se torna terrível: a noite do mundo que avança ao encontro de cada um de nós.»
7 comentários:
Tem mesmo a certeza que a RTP1 vai transmitir esse filme? É que não o vejo na programação.
numa republica socialista de dirigentes sem vergonha, sem crédito, sem competência; de súbditos rastejantes; a única noite existente é aquela em que mergulhamos e não terá retorno. depois da fase do sempre em festa veio a da depressão com e sem drogas.
vi 10 min do filme. achei deprimente.
prefiro ler.
radical livre
Foi lendo este romance que me apercebi de que Philip Roth está longe de ser o enormíssimo autor que nos tentam impingir. Escreve bem, sem dúvidas, daí ao incenso com que o cobrem...
O que é que o Júlio Isidro tem a ver com a culpa humana? Já é quase uma e meia e ainda não vi o outro canastrão na RTP1.
Por acaso, não tenho grande curiosidade em ler Philip Roth. Para nos dizer que vamos todos morrer que nem umas moscas com sentimentos, bastou-me o Philip Larkin.
Tivessem antes visto o "Sonata de Outono" de Bergman. Para quem ainda não reparou, a RTP2 está a passar filmes de Bergman (ontem foi o quarto), na "Sessão Dupla". Sendo o segundo de dois filmes exibidos, o 2º filme é exibido por volta das 0.45.
(E, nessa altura, o tempo parece suspender-se.)
Tens toda a razão. O romance é fabuloso - um dos grandes livros de ficção americana da última década. Da ficção universal, enfim. O filme, não sendo mau, está muitos furos abaixo.
Abraço
Pedro Correia
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