5.4.07

UM PRIVILÉGIO

O Filipe Nunes Vicente decerto me perdoará que "poste" aqui, na íntegra", esta pequena maravilha. Acordar para mais um dia lendo isto, é deveras um privilégio.

"Quando fez sessenta anos, Primo Levi escreveu uma pequena nota na imprensa ( Stampa Sera, 15/11/82) sobre a idade-fronteira. Parecia um texto comum ( "ainda tenho isto", "ainda conservo aquilo ") até que Levi termina: Estou consciente da tonalidade grave da palavra que acabo de escrever duas vezes: " ainda ". Delimitar o momento presente, toda a gente sabe, mandava Marco Aurélio. Daí querer-se o futuro como forma de desprendimento de toda e qualquer importância do desejo de um acontecimento específico. O que vem é sempre bom porque vem hoje, e hoje é tudo o que existe ( a boulêsis de Cícero como rectificação do desejo). Uma doença mortal não parece ser uma coisa que se deseje, o que deixa o estoicismo imperial em dificuldades. Nem tanto. Se um homem estiver a pensar no seu cancro, está vivo. E isso é , de certeza, tudo o que conta nesse momento. Ou não é?"

1 comentário:

FNV disse...

Mi casa ( dolor) es su casa ( dolor) .
Um abraço.