30.4.07

NÃO É FÁCIL DIZER BEM - 16

Deste ex-frei, li em tempos um belo livro intitulado "Identificação de um país", em dois volumes. Nessa altura - meados dos anos oitenta - Mattoso estava, por assim dizer, na moda como medievalista, ao mesmo tempo que o "positivista" Oliveira Marques ia deixando de estar sem nunca verdadeiramente ter perdido o prestígio como um dos melhores analistas do período. A sua "Sociedade Medieval Portuguesa " aí está para o comprovar e a reunião de uns quantos ensaios do ex-frei sob o título "Portugal Medieval", da IN-CM, não passa disso mesmo, de um conjunto de razoáveis prosas sobre a matéria. Parece que se apaixonou por Timor e, entretanto, já se deve ter "desapaixonado", um "clássico" em personalidades como as dele. Da última vez que deu notícias, escrevinhou a sua assinatura num "protesto" contra o programa da D. Elisa, o tal que recuperou o maior medievalista "prático" português do século XX, o Doutor Oliveira Salazar. Mattoso é filho de outro Mattoso, mais conforme aos desígnios "intelectuais" do regime deste último. Não houve cão nem gato que não estudasse história pelos seus "manuais". Desde que Mattoso, o José, começou a publicar, felizmente já existiam termos de comparação. À excepção do original "Identificação", não me parece que Mattoso tenha voado muito alto. Nem ao cliché de uma "História de Portugal" (a enésima) ele escapou. O prémio que agora lhe atribuem pode ser que o traga de volta aos escaparates. Se não trouxer, francamente não se perde grande coisa.

9 comentários:

Pedro Picoito disse...

João, não posso estar mais em desacordo. O Mattoso não só voou bem alto como é hoje o maior medievalista português (e talvez o maior desde o Herculano). Sei do que falo. Um dia podemos ter uma conversa mais pausada em que posso explicar porque digo isto. Este homem revolucionou por completo a historiografia medieval portuguesa: mudou todos os campos em que tocou - e tocou muitos.
Não te deixes enganar sua genuína humildade pessoal e pela simplicidade da prosa... Há ali muita erudição, uma capacidade de se actualizar permanentemente que muitas vezes os consagrados perdem com a idade e sobretudo uma enorme sensibilidade pessoal e científica que lhe permite estar atento ao pulsar da vida nos documentos (a característica que, na minha opinião, melhor define os historiadores verdadeiramente grandes).
Eu sei que não é fácil dizer bem, mas às vezes é demasaidao fácil dizer mal.

Anónimo disse...

Não sei porquê, tenho um profundo feeling que o João Gonçalves não gosta do Mattoso. Mas, repito, não sei porquê, e ele próprio não explica. Qualquer coisa a ver com Timor. Ou com a Fernanda Cancio, talvez.

Anónimo disse...

Não deixa de ter razão o Sr. João Gonçalves na crítica que faz ao Professor José Matoso, embora não agrade ao Sr.Pedro Picoito de quem, com o devido respeito, me permito discordar. Concerteza, o Sr. Pedro Picoito desconhece, ou conhece mal, a História Medieval Portuguesa e os Historiadores, posteriores a Herculano, que mais têm contribuído para a sua desmistificação e clarificação, muito em desgosto dos da “Historiografia Oficial.” Sr. Pedro Picoito não leia esse período da nossa História; estude-o, se quer compreender além daquilo que o Professor Matoso teoriza. Se não quer recuar mais no tempo, comece em Herculano e continue com Rui de Azevedo, Torquato de Sousa Soares, Almeida Fernandes, este sim, talvez o maior medievalista português posterior a Herculano, e H. de Oliveira Marques. Com isto não quero dizer que o Professor José Matoso não seja importante medievalista, embora muitos dos assuntos que abordou ou estejam eivados de preconceitos ou de incorrecções. Um historiador que defende que foi o castelo da Feira que esteve ao lado de D. Afonso Henriques, quando toda a gente sabe que foi o castelo de Faria e que não tem a humildade de reconhecer o tremendo erro em que continua a persistir, só para agradar a quem o incumbiu de escrever a obra “O Castelo e a Feira”, não pode ser considerado grande medievalista e muito menos o maior depois de Herculano. Esperemos que não siga as pisadas do Sr. V. Moreira.

Pedro Picoito disse...

Anónimo, fico a saber que há quem resuma a história medieval portuguesa ao castelo de Faria (ou da Feira?). Assim sendo, só posso responder-lhe que lhe falta uma letra no nome de A.H. Oliveira Marques. Preconceitos e incorrecções? Mas está a referir-se a quem, afinal?

Anónimo disse...

Senhor Pedro Picoito seria bom que o Senhor estudasse a História Medieval Portuguesa, em vez de ler dela somente os pontos de vista do Sr. professor J. Matoso, conforme lhe sugerira. Se assim fosse não diria ser insignificante o erro monstruoso e persistente em que aquele Historiador insiste, para justificar uma obra encomendada. Todavia, acredito que o Sr. Pedro Picoito, que me parece pessoa interessada sobre os assuntos dos primórdios da História Pátria, quando estudá-los, logo verá que as razões que me assistem, não se resumem ao fiasco de trocar Faria por Feira, mas, isso sim, a muitos outros aspectos desse período da História de Portugal.
Quanto à questão de não ter mencionado o nome completo do ilustre Historiador recentemente falecido, foi unicamente por lapso que isso aconteceu, assim como aconteceu ao Senhor que também se esqueceu de acrescentar “de” visto o nome completo ser A. H. de Oliveira Marques.
Em relação aos preconceitos de que fala, pelo texto, qualquer pessoa percebe que não se referem ao Sr. Pedro Picoito.

Pedro Picoito disse...

Ah, mas eu estudo a história medieval portuguesa... Imagine que até faço disso a minha profissão...

Anónimo disse...

Senhor Dr. Pedro Picoito, com o devido respeito, tenho a dizer-lhe que, embora acreditando no que diz no seu último comentário, reduzir a História Medieval Portuguesa ao que vem teorizando o Senhor Professor J. Matoso, é ficar com um conhecimento limitado e distorcido. Estude, também, outros autores, faça comparações, e não fique prisioneiro dos Senhores que comandam a “historiografia oficial”. Claro que são estudos pacientes e morosos com que irá gastar muito tempo, mas outros, também, já por isso passaram. Se tiver dificuldade em encontrar bibliografia compatível, com tempo, talvez lhe possa fornecer alguma.

Pedro Picoito disse...

Rendo-me! Vou fugir para o castelo de Faria (ou da Feira, se estiver mais perto)...

Anónimo disse...

Ter uma conversa elevada com o sr. Picoto é tempo perdido. É muito frequente ver gente pseudo-progressista que, quando não têm argumentos para contrapor, finge troçar de coisas sérias!