Escrevo sem ler uma linha dos jornais de hoje. Escrevo na ressaca de um Simon Boccanegra, de Verdi, encenado para os dias que correm, os das Ségolènes deste mundo. Também temos os nossos. Chez nous, os "desenvolvimentos" dos derradeiros dias foram a apoteose da derrota do pensamento, para recorrer a um nome conhecido de um livro célebre entre pessimistas. A essa derrota corresponde um triunfo. Nem me atrevo a dar-lhe nome e fico-me pela vulgaridade. Somos crucificados pelos aborrecidos, dizia Cioran, e governados pelos espertos, o oposto de uma elite, digo eu. O Guerra Junqueiro enganou-se. O "fim pàtrio" é uma constante, é tudo menos um acidente de palavra ou melancòlico. Quando muito... melancòmico, nome de outro livro, desta vez nosso. Por isso me agrada passar o fim de semana num sìtio onde o livrinho que descreve uma temporada musical, de òpera e de bailado tem por epìgrafe uma frase de Jean Genet. Genet era, em certo sentido e oficialmente, um marginal que se agigantou. Chez nous, costuma ser ao contràrio. Os que se imaginam grandes possuem a mentalidade de um rato de laboratòrio. Chez nous, a derrota do pensamento, malgré tanto escrevinhador e tanto sabujo democrata nunca chegou a acontecer porque, verdadeiramente, nunca houve um "pensamento". Apenas meia dùzia de gajos que, no dizer de Jorge de Sena, se enganaram no lugar onde nasceram.
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