17.9.06

"NÃO TENHAIS MEDO"


João Paulo II assentou o seu longo pontificado numa simples frase proferida na Praça de São Pedro, há quase 30 anos: "não tenhais medo, abri [escancarai, para ser mais preciso] as portas e o vosso coração a Cristo". Foi o bastante para, em poucos anos, o Papa polaco ter tido um contributo essencial para se acabar de vez com os falsos "amanhãs" que nunca cantaram no Leste da Europa. Raztinger juntou-se-lhe quase de seguida, e até ao fim, como prefeito para a congregação da Fé. Esta manhã, debaixo de uma chuva impiedosa, Bento XVI recitou o habitual "Angelus" e remeteu para o que tinha dito na véspera o "MNE" do Vaticano, lamentando "profundamente as reacções em alguns países a algumas passagens do [seu] discurso na universidade de Ratisbona, que foram consideradas ofensivas à sensibilidade dos muçulmanos". Depois falou do escândalo da Cruz e citou João, o único apóstolo que permaneceu aos pés do Senhor agonizante e de Maria, sua Mãe. Não se pode pedir ao Islão, que considera Jesus "apenas" mais um profeta, que entenda isto. O martírio do Filho de Deus permanece, para nós, cristãos - mesmos para os maus e pecadores como eu - o verdadeiro mistério que ilumina a nossa vida desesperada, a nossa razão céptica e a nossa morte certa. Não se pode pedir ao Islão que compreenda a angústia e o sofrimento redentor de um mero "profeta" que perguntou ao Seu Pai, antes de perecer misericordiamente por nós, "por que me abandonaste?". Raztinger, afinal, não pediu desculpa. Nem podia. Só lamentou o disparate. Como escreve Vasco Pulido Valente no Público:

"O papa já lamentou o equívoco, mas não pediu desculpa. Não podia pedir. Nem pelo incidente, fabricado pelo fanatismo e a ignorância, nem pelo teor geral da conferência de Ratisbona. Ratzinger insistiu que a fé não é separável da razão e que agir irracionalmente "contraria" a natureza de Deus. Não vale a pena entrar nas complexidades do assunto. Basta lembrar que desde o princípio (desde Orígenes, por exemplo) se construiu sobre a fé cristã um dos mais sublimes monumentos à razão humana e que o Ocidente, apesar da "Europa", não existiria sem ele. A fé muçulmana não produziu nada de remotamente comparável e, durante quinze séculos, sustentou uma civilização frustre e parada. A conferência de Ratisbona reafirmou a essência do cristianismo. Se o islão se ofendeu, pior para ele."

7 comentários:

joshua disse...

Concordo com a lusitânea. Tenho conversado sobre essa evidência, esse braço dado recente, último reduto do quanto pior, melhor, esquerda-islão-fanático.

Para além disto, subscrevo inteiramente este post, mas permito-me acrescentar que hoje em dia há duas vertentes convergentes de irracionalidade: a irracionalidade fanática e hiper-susceptível islâmica, sempre pronta a indignar-se com alguma coisa; e a irracionalidade do mundo da razão, da ciência, impermeável à consistência humanística dos valores que recebemos e cujo húmus é o Cristianismo. Há certo tipo de tábua rasa que desperdiça e dispersa.

E a Europa política está a ser, nesse aspecto, negligente, ingrata e sobretudo ignorante.

Anónimo disse...

Pois é, mas veja a leitura que das palavras que transcreve(dei por mim a dizer um "muito bem" para a "caixa") fazem os media anglo- saxónicos.

Anónimo disse...

«E a Europa política...»
Pois é meu caro, porque
aquilo a que se chama Europa, que é na realidade uma colónia americana, já teve o seu tempo.
Esgotou-se em meados do século XX, com a IIGM.
Z

António Viriato disse...

Há medo, incoerência e indignidade, na Europa, sobretudo.
E hoje Bento XVI ficou aquém do Ratzinger que lhe conhecíamos. Nem toda a falada subtileza da Diplomacia do Vaticano justifica este notório recuo do Papa. Se foi sincero nas suas anteriores afirmações, deve tomar as críticas muçulmanas por aquilo que elas, na verdade, são para todos, religiosos e laicos, aqui no Ocidente : uma intolerável tentativa de condicionamento da liberdade de pensamento. Mais uma, de resto, a servir de pretexto a nova revoada de tumultos e depredações de símbolos ocidentais, numa preocupante expressão de ódio continuado a este demasiado compassivo Ocidente. Os Cristãos estarão sempre obrigados a oferecer a outra face ? Como dialogar assim ?

Anónimo disse...

No Ocidente, os cristãos vão continuar a oferecer a outra face:

- Complexos das cruzadas?
- Medo?
- "Pai perdoai-lhes porque não sabem o que fazem"?
- Forma subtil de exprimirem a sua superioridade moral e cultural?

A cada um a sua resposta.

Anónimo disse...

olha filho, escancarou tanto as portas que o cardeal Marcincus o tal do banco ambrosiano ligado à loja maçónican P2 ficou lá exilado até morrer mesmo procurado pela interpol.
são todos uns valentes filhos de puta os papas e os imãs. nem deus nem chefes.
fodam-se uns aos outros.

Anónimo disse...

... De facto ...