Quando preciso de me esquecer do absurdo da minha vida, "viajo" para Marrocos pela mão de Paul Bowles. Imagino uma casa em Tânger onde o meu olhar possa cruzar o mar, o porto e as montanhas de Espanha. Fujo da "marginal" povoada por prédios incaracterísticos e "modernos" e não largo o bulício anónimo das ruas e dos cafés da velha cidade. Há um cheiro de essências e de pó que nos acompanha permanentemente em Marrocos. Existe uma cor ocre por todo o lado e a gentileza curiosa dos muçulmanos faz com que se sinta que nunca deixámos de ali estar. E que ali nos perdemos. Para sempre. Para nunca mais. "Uma pessoa está sempre a mudar e nunca chega a parte nenhuma. Mas chegar a algum lado também não é necessário. Morrer, sim. Tudo o que é inevitável é necessário."
5 comentários:
Entre o autor da post e Nelson Dayar do "Let it Come Down" vai todo um programa...
Chafurde primeiro na terra, na areia, dê umas passas de kif e perca-se, finalmente, não com o Pedro Santana Lopes, o Paulo Portas ou o António de Oliveira Salazar, mas com um Thami de jeito...
Só assim fará a catarse!
Mas essa Tânger de Bowles é uma ilusão (ou então um sonho já há muito perdido). A verdadeira Tânger é buraco imundo, é uma cidade morta sem a mínima centelha de romantismo.
...uma cloaca... e assim continuará.
Haverá sempre o Marrocos que nós quiseremos, cmf e berbere... Deixem lá o João com o dele.
Eu também tenho o meu.
Caro João, o Cesário Verde cantava Lisboa "...com uma contraditória vontade de morrer..." e no entanto ninguem amava mais Lisboa do que ele.Cantava o céu azul,o Tejo, as varinas ao entardecer.A sua vontade de viver a cidade era tanta que antecipava o momento da perda.
Não precisava de se angustiar com isso.Morreu aos 35 anos.
Tivesse ele, vivido em toda a sua plenitude, e nenhum de nós o teria de
chorar.
É assim tamanha a sua vontade viver?
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