O dr. Jorge Coelho, num "especial" da "Quadratura do Círculo" da SIC-Notícias, com Jorge Sampaio como convidado - em excelente forma, mais solto e menos redondo -, afirma que a política, os políticos, devem dar-se ao respeito para poderem ser respeitados. Conseguiu dizer isto sem se rir.
«Somos poucos mas vale a pena construir cidades e morrer de pé.» Ruy Cinatti joaogoncalv@gmail.com
30.9.06
O CASO ROCHA
O sr. Rocha ataca de novo, desta vez no Convento do Carmo, com o Francisco José Viegas a abençoar. Este Francisco é mesmo uma jóia de pessoa, já que o caso mental do sr. Rocha inspira mais piedade do que propriamente cuidados. Imagine-se que ele até falou com o assassino de João Paulo I, coisa que guarda no silêncio da sua excelsa cabeça. Para dar o "tom" ao lançamento do livro "O Último Papa", do sr. Rocha, tocava-se a música da saga "O Padrinho". É preciso dizer mais alguma coisa?
O OURO AO BANDIDO
Misturar dois rematados pantomineiros com uma excelente editora de livros, que cometeu o pecado de ter ido para a "direita" sem passar pela depuração socialista que entretém alguns membos do actual governo, não podia dar bom resultado. O assunto - a interrupção voluntária da gravidez - é demasiado sério para ser tratado por vulgares intriguistas. É por estas e por outras que a "direita" não vai a lado nenhum e o engº Sócrates está, segundo o próprio, "para as curvas". Chama-se a isto entregar o ouro ao bandido.
UMA PERGUNTINHA
.... à f. A menina é adepta do aborto livre. Faz muito bem. É evidente que o mundo não "acaba no dia em que uma mulher puder decidir por si se leva uma gravidez a termo ou não". Todavia, isso significa que coloca a IVG ao lado do preservativo, do dispositivo intra-uterino e das pílulas para o "day after", ou seja, como um vulgar método anti-conceptivo à disposição de quem, muito legitimamente, se quer dar à paródia?
A RECTA INTENÇÃO
Por falar em "esquerda" e em "direita", apenas duas observações rápidas. Ando a ler, com o vagar que o livro exige, as "crónicas" e as entrevistas de António José Saraiva reunidas num calhamaço da Quidnovi. Lá pelo meio, há uma série de textos que AJS escreveu para a revista Vida Mundial, nos idos de setenta, em pleno "fascismo-marcelismo", como diriam aqueles patuscos do "não apaguem a memória". AJS é insuspeito. Foi demitido da função pública pelo regime e esteve exilado em França. Quando regressou, depois do "4/25", não apreciou o que viu, sobretudo naquilo a que metaforicamente se chama "universidade". As crónicas da Vida Mundial são um exemplo de lucidez e de coragem cívicas que tomara muitos dos "cronistas" do actual regime possuírem. Ninguém as censurou, enquanto agora se encontram formas mais subtis de calar quem não come da gamela "democrática". Já em plena "democracia", por exemplo, no Diário de Notícias, em Maio de 1979, a propósito de "cultura e bibliotecas", AJS escrevia: "O antigo regime era acusado de fazer "obras de fachada"; pelo menos fez o actual edifício da Biblioteca Nacional. Mas nunca se viu, como hoje, tanta fachada sem obras". Querem melhor descrição do que esta para os "investimentos" do dr. Pinho e para as "grandes obras" do dr. Lino? Finalmente, o Sol anuncia que o presidente da Câmara de Santa Comba Dão quer fazer um museu da casa onde nasceu António de Oliveira Salazar. O museu recolheria objectos pessoais do antigo Presidente do Conselho, teria um auditório e serviria de centro de estudos do Estado Novo. Há cinco anos visitei o local e a campa rasa do antigo Chefe do Governo, no Vimieiro. A degradação, a destruição propositada e o abandono podiam ser comparados com o que o governo da democracia espanhola - trinta vezes mais madura e segura do que a nossa - fez com os locais de residência do Generalíssimo, como ainda agora se pôde constatar aquando da presença de Cavaco Silva em Madrid, no Palácio do Pardo, onde a ala onde residia Franco está conservada e interditada aos visitantes oficiais. O complexo com que encaramos o século XX português, marcado indelevelmente pela personalidade de Salazar, não serve os propósitos da história, nem ajuda a democracia portuguesa a fortalecer-se. Salazar não foi um mero fantasma que passou pelos ares de Portugal. É a sua sombra - pelo menos no seu lance autoritário e mesquinho - que se perpetua no actual regime, particularmente com este governo dito socialista. No resto, e como escreveu António José Saraiva em 1989, no Expresso, "Salazar foi, sem dúvida, um dos homens mais notáveis da história de Portugal e possuia uma qualidade que os homens notáveis nem sempre possuem - a recta intenção". Não merece um museu. Merece dez.
TENHAM MEDO
Numa mini-entrevista a Margarida Marante, no Sol, o senhor conselheiro Noronha do Nascimento, presidente-eleito do Supremo Tribunal de Justiça e futura quarta figura do Estado - de acordo com o "protocolo" do mesmo Estado aprovado pelo Parlamento - , declara que "sempre foi de esquerda". Era só o que estava a faltar à "justiça". Mais um messias.
29.9.06
AGITPROP
Este tipo tirou-me as palavras da boca. Nada pior do que querer ser "mais papista que o Papa", que o Santo Padre me perdoe a despropositada lembrança. Caramba, professor, o governo já tem os drs. Pereira, Lourtie (parece que é assim) e Filipe Baptista para lhe tratar da propaganda. Esqueça lá essa "agitprop" reciclada.
TODO UM PROGRAMA
É sintomático que o post "escrito" por José Manuel Fernandes esteja a ser "comentado" como está. A justiça, ao contrário do que se supunha, preocupa as pessoas. Preocupam-se os seus agentes, por vezes da forma mais inconsequente, disparatada e corporativa que se possa imaginar - a culpa só indirectamente é deles, já que foi o regime instituído pelo "4/25" o principal responsável pela aquiescência às reivindicações "progressistas" dos sindicatos entretanto criados, como se a justiça pudesse desfilar folcloricamente pela Avenida da Liberdade - e preocupam-se, pelos vistos, os cidadãos lúcidos que têm medo (o termo é mesmo este, medo, três décadas volvidas sobre a alegada restituição das liberdades e da dignidade institucional e cívica) de cair nela. Eu próprio, nesta fase de recolha de textos para o livro "Portugal dos Pequeninos", dei por mim com n posts escritos sobre o tema que obrigam a um capítulo autónomo. Ninguém coerentemente pode acreditar na justiça portuguesa. Os dezoito anos - 18... - do processo da UGT fariam rir se não fossem trágicos. A modorra do julgamento do processo "Casa Pia" , com quinhentas e tal testemunhas, é obra. O processo "Apito Dourado", que ora faz de caranguejo, ora faz de caracol, é outra obra. O "envelope 9", com a cena caricata do sr. jornalista a "abrir" a embalagem com o computador, à porta do DCIAP, é outra. Não penso apenas nestes processos por causa da sua veia mediática. Também penso no dinheiro que falta ao DCIAP e à PJ para prosseguirem investigações em sede de delito económico-financeiro. Quanto mais o sistema vai à falência, mais cresce a economia paralela e a corrupção que sempre a acompanha. Vamos ver até onde chega- ou pode chegar -, por exemplo, a recente investigação na Marinha. Uma justiça de bagatelas e de flashs- arrastada, baça, incongruente - não é uma verdadeira justiça democrática. É, por isso, bom que haja polémica e debate sobre o tema. Quem, como eu, viu ontem debaixo das arcadas da Praça do Comércio as venerandas figuras que elegeram o conselheiro Noronha do Nascimento para presidente do STJ, percebeu perfeitamente que ali residia, de fato escuro, gravata e chapéu na cabeça, todo um programa. E, a este programa, não há nenhum "pacto" que possa responder.
O REGALO E OS ESCOMBROS
O senhor ministro Lino, das obras públicas, e a sra. dra. Vitorino, que é ajudante, passearam-se pelos escombros - eles chamam-lhe "metro" e "túnel" desde os tempos do sr. engº Ferreira do Amaral - que ligam subterraneamente o Chiado ao Terreiro da Paço. Fazem-no com a mesma falta de vergonha que, desde o sr. eng.º Cravinho e do dr. João Soares (desculpa lá, Tomás), respectivamente ministro e presidente de Câmara, todos exibem quando lá vão. É só contar os ministros que sucederam a Amaral e a Cravinho, mais os dois presidentes de Câmara que vieram depois de Soares e os "presidentes" do Metro. Esta obra é um monumento à ineficácia e à ineficiência, para ser brando. E um regalo para as empresas de construção civil envolvidas. Não sei como, mas o dinheiro - falamos aqui de milhões - aparece sempre. Que tal o eng.º Cravinho começar a sua "cruzada" por aqui mesmo?
LER OS OUTROS
Isto é o género de coisa que eu gostava de ter escrito.
"Querem um símbolo, um expoente, um sinónimo, dos males da justiça portuguesa? É fácil: basta citar o nome da Noronha de Nascimento e tudo o que de mal se pensa sobre corporativismo, conservadorismo, atavismo, manipulação, jogos de sombras e de influências, vem-nos imediatamente à cabeça. O juiz - porque é de um juiz de que se trata - é um homem tão inteligente como maquiavélico. Anos a fio, primeiro na Associação Sindical dos Juízes, depois no Conselho Superior da Magistratura, por fim no Supremo Tribunal de Justiça, esta figura de que a maioria dos portugueses nunca ouviu falar foi tecendo uma teia de ligações, de promiscuidades, de favores e de empenhos (há um nome mais feio, mas evito-o) que lhe assegurou que ontem conseguisse espetar na sua melena algo desgrenhada a pena de pavão que lhe faltava: ser presidente do Supremo Tribunal de Justiça. O lugar pouco vale (quem, entre os leitores, sabe dizer quem é o actual presidente daquele tribunal, formalmente a terceira figura do Estado?). Dá umas prebendas, porventura algumas mordomias, acrescenta uns galões, mas pouco poder efectivo tem. O problema, contudo, reside neste ponto: tem, ou terá? Os senhores juízes, que aqui há uns tempos se empenharam na disputa com o Tribunal Constitucional para saber quem era hierarquicamente mais importante (ganharam os do Supremo a cadeira do protocolo, deram aos do Constitucional a consolação de terem ao seu dispor um automóvel topo de gama...), nem sequer são muito respeitados. Por sua culpa, pois sabe-se que alguns passam pela cadeira do Supremo apenas uns meses e para engordar a sua reforma. O presidente daquele agigantado colégio de reverendíssimos juízes pouco poder tem tido, só que Noronha de Nascimento apresentou-se aos eleitores - ou seja, aos seus pares, aos que ajudou a subir até ao lugar onde um dia o elegeriam - com uma espécie de programa que arrepia os cabelos do mais pacato cidadão. O homem não fez a coisa por pouco: ao mesmo tempo que vestiu a pele do sindicalista (pediu que lhe aumentassem o salário e que dessem menos trabalhos aos juízes...), pôs a sobrecasaca de subversor do regime (ao querer sentar-se no Conselho de Estado) e acrescentou o lustroso (pela quantidade de sebo acumulado) chapéu do "resistente" às reformas no sector da justiça. Se era aconselhável que um presidente do Supremo Tribunal desse mais atenção a Montesquieu e ao princípio da separação de poderes do que à cartilha da CGTP, Noronha de Nascimento fez exactamente o contrário. Reivindicou como um metalúrgico capaz de ser fixado para a posteridade numa pintura do "realismo socialista" e, esquecendo-se de que é juiz e representante máximo do "terceiro poder", o judicial, pediu assento à mesa do "primeiro poder", o executivo. É certo que o poder do Conselho de Estado é tão inócuo como o penacho de ser presidente do Supremo Tribunal, só que a reivindicação contém em si duas perversidades. A primeira é ser sinal de que Noronha de Nascimento se preocupa mais com o seu protagonismo público do que com os problema da justiça. A segunda, bem mais grave, é que o homem se disponibiliza para ser o rosto de uma fronda dos juízes contra as decisões reformistas do poder político, neste momento objecto de um consenso alargado entre o partido do Governo e a principal força da oposição. É tão patético que daria para rir, não estivéssemos em Portugal e não entendêssemos como funcionam as estratégias das aranhas. O homem, creio sem receio de me enganar, é tão inteligente e habilidoso como é perigoso. Até porque tem já um adversário assumido: o novo procurador-geral da República, Pinto Monteiro, um dos raros que tiveram a coragem de lhe fazer frente."
José Manuel Fernandes, in Público, 29-9-06
"Querem um símbolo, um expoente, um sinónimo, dos males da justiça portuguesa? É fácil: basta citar o nome da Noronha de Nascimento e tudo o que de mal se pensa sobre corporativismo, conservadorismo, atavismo, manipulação, jogos de sombras e de influências, vem-nos imediatamente à cabeça. O juiz - porque é de um juiz de que se trata - é um homem tão inteligente como maquiavélico. Anos a fio, primeiro na Associação Sindical dos Juízes, depois no Conselho Superior da Magistratura, por fim no Supremo Tribunal de Justiça, esta figura de que a maioria dos portugueses nunca ouviu falar foi tecendo uma teia de ligações, de promiscuidades, de favores e de empenhos (há um nome mais feio, mas evito-o) que lhe assegurou que ontem conseguisse espetar na sua melena algo desgrenhada a pena de pavão que lhe faltava: ser presidente do Supremo Tribunal de Justiça. O lugar pouco vale (quem, entre os leitores, sabe dizer quem é o actual presidente daquele tribunal, formalmente a terceira figura do Estado?). Dá umas prebendas, porventura algumas mordomias, acrescenta uns galões, mas pouco poder efectivo tem. O problema, contudo, reside neste ponto: tem, ou terá? Os senhores juízes, que aqui há uns tempos se empenharam na disputa com o Tribunal Constitucional para saber quem era hierarquicamente mais importante (ganharam os do Supremo a cadeira do protocolo, deram aos do Constitucional a consolação de terem ao seu dispor um automóvel topo de gama...), nem sequer são muito respeitados. Por sua culpa, pois sabe-se que alguns passam pela cadeira do Supremo apenas uns meses e para engordar a sua reforma. O presidente daquele agigantado colégio de reverendíssimos juízes pouco poder tem tido, só que Noronha de Nascimento apresentou-se aos eleitores - ou seja, aos seus pares, aos que ajudou a subir até ao lugar onde um dia o elegeriam - com uma espécie de programa que arrepia os cabelos do mais pacato cidadão. O homem não fez a coisa por pouco: ao mesmo tempo que vestiu a pele do sindicalista (pediu que lhe aumentassem o salário e que dessem menos trabalhos aos juízes...), pôs a sobrecasaca de subversor do regime (ao querer sentar-se no Conselho de Estado) e acrescentou o lustroso (pela quantidade de sebo acumulado) chapéu do "resistente" às reformas no sector da justiça. Se era aconselhável que um presidente do Supremo Tribunal desse mais atenção a Montesquieu e ao princípio da separação de poderes do que à cartilha da CGTP, Noronha de Nascimento fez exactamente o contrário. Reivindicou como um metalúrgico capaz de ser fixado para a posteridade numa pintura do "realismo socialista" e, esquecendo-se de que é juiz e representante máximo do "terceiro poder", o judicial, pediu assento à mesa do "primeiro poder", o executivo. É certo que o poder do Conselho de Estado é tão inócuo como o penacho de ser presidente do Supremo Tribunal, só que a reivindicação contém em si duas perversidades. A primeira é ser sinal de que Noronha de Nascimento se preocupa mais com o seu protagonismo público do que com os problema da justiça. A segunda, bem mais grave, é que o homem se disponibiliza para ser o rosto de uma fronda dos juízes contra as decisões reformistas do poder político, neste momento objecto de um consenso alargado entre o partido do Governo e a principal força da oposição. É tão patético que daria para rir, não estivéssemos em Portugal e não entendêssemos como funcionam as estratégias das aranhas. O homem, creio sem receio de me enganar, é tão inteligente e habilidoso como é perigoso. Até porque tem já um adversário assumido: o novo procurador-geral da República, Pinto Monteiro, um dos raros que tiveram a coragem de lhe fazer frente."
José Manuel Fernandes, in Público, 29-9-06
Adenda: O homem que corresponde a este "perfil" será em breve a "quarta figura do Estado". Do estado a que isto chegou, naturalmente.
"LIDERANÇA E POPULARIDADE"
Salazar tinha "liderança e popularidade". Para além disso, tinha esbirros, censura e diversa parafernália que "reforçavam" todos os dias a sua "liderança" e a sua "popularidade". A partir de certa altura, também tinha a RTP. Só não tinha "teleponto". Mesmo assim, estatelou-se, coitado.
MODERNOS COM PÉS DE BARRO
Estes vasos singulares, tipicamente portugueses, constituíram, durante anos, os contentores de água utilizados pelos funcionários para lavarem as mãos numa casa de banho do edifício que abriga dois ministros de Estado do Portugal do "progresso", o das Finanças e o da Administração Interna. De manhã, as "senhoras da limpeza" enchiam-os de água, e pronto. Depois das obras, em 2005, os vasos ficaram ali, esquecidos e "em exposição", para nos recordarem a nossa verdadeira essência de "modernos" com pés-de-barro.
ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA
"Sobre a polémica provocada pelo recente discurso do Papa considerado por muitos muçulmanos insultuoso para o profeta Maomé e para o islão, o escritor considerou que se alguém escreveu esse discurso e Bento XVI não o leu antes foi "imprudente", e se o leu e não retirou a passagem referente a Maomé foi "ainda pior". Vem no Público, sem link. O "escritor" que "considerou" é José Saramago, o nosso infeliz Nobel da Literatura. É por estas e por outras que o Nobel cada vez mais só vale pelo dinheiro dado aos escribas a quem é entregue. Saramago, cuja "prudência" enquanto director do Diário de Notícias durante o PREC ficou famosa, vem agora armar-se em moralista - sim, ele não passa de um vulgar e ressequido moralista - contra o Papa, sugerindo, supõe-se que para ter graça, que Ratzinger não escreve nem pensa. Deve ser influência da ex-jornalista espanhola com quem vive a qual, aliás, já fala por ele há muito tempo. Saramago ainda não percebeu, embora tenha idade para isso, que é uma caricatura pública de si próprio enquanto escritor. Se eu fosse dado a penas, estaria cheio de comiseração por este velho comunista empedernido, confinado à volúpia da sua celebridade volátil. É que a Igreja a que preside Ratzinger estará ainda de pé no dia em que Saramago for apenas uma nota de fim de página num qualquer esquecível "manual de literatura" para crianças.
28.9.06
A IMODERADA MODERAÇÃO
O Augusto M. Seabra, com quem tantas vezes estou de acordo, escreveu no Público (sem link) um texto estimulante sobre "a emancipação da liberdade", a propósito da encenação "censurada" de Idomeneo na Ópera de Berlim. Ao tentar escapar ao jargão "islamofóbico", o Augusto, sensivelmente a meio do texto, dá-lhe para o jargão "ratzingerfóbico", mais vendível entre nós. "Roma não desistiu de ser a autoridade no mundo. O aggiornamento democrático da Igreja Católica está de há muito feito. Mas acho deveras extraordinário que se queira confundir a Igreja com liberalismo, quando ela enquanto corpo doutrinário e institucional lhe é por natureza estranha", escreve o Augusto. Apesar do tom, tem razão. Bento XVI tem sido muito claro em relação ao que vem. A uma Igreja vulgarizada e globalizada, Ratzinger preferirá sempre a Igreja das comunidades, de maior ou de menor dimensão, mas portadora de uma enorme e bem concentrada fé. Uma fé que permita entender racionalmente a natureza de Deus , e não à bomba ou pela intimidação. Nesse sentido, não pode prescindir de ser "a autoridade no mundo". Se o fizesse - se "cedesse" - claudicava e, quer queira o Augusto, quer não, com ele, mais tarde ou mais cedo, claudicava todo o "Ocidente". Por isso, a Igreja não tem de ser "liberal" e muito menos "democrática". Nós, crentes ou não crentes, é que devemos ser. Por isso estamos "deste" lado. Que não haja ilusões. Existe um "nós" e um "eles". O resto são tretas "imoderadas" que vêem "moderados" onde eles não existem.
A VIDA DELAS
O Tomás Vasques elogia duas séries televisivas que também acompanho: House e The L World. Do primeiro, do respectivo script e do excelente mau-feitio do protagonista, estou farto de falar. A segunda série - que vi praticamente toda no canal Fox Life e não na 2: -, tal como Nip Tuck, por exemplo, passa-se em Los Angeles e os protagonistas são praticamente todos mulheres. É a história das suas relações - as afectivas e as sexuais - e, se bem me lembro, em nenhum episódio detectei aquela "veia maricas" com que tantas vezes se aborda os imbróglios entre same sexers. Como qualquer espectador pode verificar, se tiver pachorra, as relações entre same sexers são iguais, em luz, sombra, alegria e violência, a qualquer outra relação. Apenas coisas entre pessoas, no caso, entre mulheres da classe média norte-americana. Por vezes - e isso é provavelmente inevitável numa série- a "conversa" cansa e a as obsessões também. Entre nós, domina a esquizofrenia das "associações G&L". O "não natural" é acentuado pela mania da "diferença" pindérica e folclórica. E não adianta meter explicador que as pobres cabecinhas "activistas" não percebem. The L World revela-nos personagens maduras nas suas fragilidades, seguras nas suas incertezas e felizes no seu meio profissional, desprovidas de complexos. Oxalá a sociedade portuguesa fosse tão adulta como a daquelas burguesinhas. Elas não se "associam". Limitam-se a viver, alegre ou dramaticamente, a vida delas.
A NATUREZA DAS COISAS
Na sua proverbial ingenuidade, a "esquerda" do PS - o senhor engenheiro, com infinita misericórdia, consente estas extravagâncias - vai montar um "grupo de trabalho parlamentar" para que se legisle acerca do "enriquecimento ilícito". Presumindo que os autores da iniciativa não querem que meio-país paralise, não se enxerga que a ideia possa ir demasiado longe e fundo. As coisas, tal como o regime permitiu que elas fossem, são o que são. Não adianta, por isso, contrariá-las e à sua natureza.
NOVIDADES ?
O senhor conselheiro Nascimento foi eleito - não havia mais candidatos - presidente do Supremo Tribunal de Justiça. O senhor conselheiro Monteiro foi escolhido pelo poder político para ser o próximo PGR. O senhor dr. Rogério Alves é bastonário da Ordem dos Advogados e um profissional dos media. Finalmente, o PSD e o PS assinaram um "pacto" para a justiça. Estão, pois, criadas as condições para o "sistema" ser posto definitivamente à prova. O miserável episódio de mais um adiamento do julgamento do processo "Fundo Social Europeu"/UGT - que é praticamente do tempo em que o sr. Torres Couto andava de bibe e João Proença era um ilustre desconhecido - e que esteve a "pastar" cinco anos na PGR, é um exemplo do que não pode acontecer, partindo do vaguíssimo princípio que somos civilizados e "modernos". Outra coisa que deve parar é o espectáculo indigente das entradas e saídas dos tribunais de instrução criminal, dado pelas televisões, como se fosse uma extravagância a lei estar a ser cumprida. A menos que se entenda que tudo isto, as "novidades", afinal, não passam de mero show off.
NEO-REALISMOS
"Os filhos crescem, têm autonomia e podem seguir por si", disse ontem Fragateiro em relação à saída da direcção do Trindade, cargo que acumulava com o D. Maria desde Fevereiro. "A existência deste filho estava a perturbar a criação de um projecto identitário para o D. Maria. As pessoas não estavam a conseguir separar aquilo que estava separado na minha cabeça", justificou numa entrevista por telefone. O momento da demissão, segundo Fragateiro, foi escolhido para coincidir com a apresentação da programação do D. Maria II, que será em breve, mas ainda não tem dia marcado." Eu não disse que o homem tinha a cabeça de director teatral amador de um filme de António Lopes Ribeiro? É uma mistura interessante, a desta cabeça com a do "neo-realista" secretário de Estado Vieira de Carvalho. Será que este também pensa como Helena Vieira que verbera Paolo Pinamonti, o director do São Carlos, por causa dos "cantores portugueses"? Que mal lhe pergunte, Helena, acha que o São Carlos, em 2006, é o lugar certo para uma "companhia portuguesa de ópera"? Só se for de uma ópera bufa. Posso não concordar com Pinamonti em muita coisa, mas prefiro uma ópera cosmopolita a uma ópera "neo-realista", de província. Para maus exemplos, já basta o "neo-realismo" embotado que o acompanha na gestão do Teatro.
BORGES EM INTELECTUAL? - 2
Um amável leitor, na sequência desta minha questão, esclareceu que "António Borges é Doutorado (EUA) e foi Reitor do INSEAD (uma das melhores escolas do Mundo para MBA) antes de ser Chairman da Goldman Sachs" e que "hoje não se sabe ao certo o que aqui faz em Londres...". Obrigadinho. Sucede que estes paramentos não fazem necessariamente dele um "intelectual". Há mais "filosofia" em meia hora de tretas de um taxista ou de um canalizador do que nas boutades desse farto proprietário alentejano. Agrada ao homem do laço do Expresso e aos seus jovenzinhos clones da "especialidade", e depois? É que "não se sabe ao certo o que aqui faz". O dr. Mendes dispensa-o. E o país também.
27.9.06
A ARTE DO ESTADO
Dizem-me que o governo se prepara para criar mais um instituto público. Desta vez trata-se de um acrónimo do INATEL: um "instituto para a mobilidade dos funcionários públicos". Terá certamente presidente, vice-presidentes ou vogais e, naturalmente, funcionários. De acordo com o PRACE, extingue-se a Direcção-Geral da Administração Pública, porém "abre-se" o instituto. Ou seja, fecha-se uma janela e abre-se um portão para muita coisa. Nada como "reformar" o Estado com "mais" Estado. E com "comissões" com tempo para tudo e mais alguma coisa. Como explicava o primeiro-ministro no Parlamento, nós pagamos aos nossos pais, os nossos filhos pagam-nos a nós e alguém há-de pagar tudo junto. Está tudo bem assim e não podia ser de outra maneira.
AS COMISSÕES
A praga das "comissões" atacou definitivamente o governo. Só hoje, foram duas. Uma, constituída por criaturas como José Miguel Júdice, Eduardo Catroga ou Rui Machete que passam a ser designados por "árbitros do trabalho". Outra, "interministerial", para apurar as "fragilidades do sistema" - um eufemismo patético - que terão permitido as perigosíssimas passagens de aviões da CIA por cá. Quanto à segunda, é meramente folclórica. Já a primeira - tudo o indica - não servirá para nada. Os ilustres membros, à semelhança dos da "comissão de revisão das carreiras e remunerações" do Estado, têm as vidas deles para tratar. Alguém os imagina a "arbitrar" greves e requisições civis? Por amor de Deus.
OS DONOS
Não consigo "assimilar" a dra. Ana Gomes. Daí à senhora ser "controlada" e censurada por esse modelo de virtude política que é a sra. professora de português Edite Estrela, vai uma grande distância. A sra. D. Edite faz isso por iniciativa dela ou a mando do senhor engenheiro de quem é devota convicta dentro da seita? Seja lá como for, é mais um passo no controlo geral em vigor. Se dentro da seita há controleiros - e, ainda por cima, do gabarito da sra. D. Edite -, imagine-se em relação ao país. Ana Gomes é um bocado "pró" destrambelhada, mas tem direito à palavra. Se não a queriam, removessem-na das listas e do Parlamento Europeu. Agora ter de a aturar a ela e à sra. D. Edite, armada em polícia de costumes, é um bocadinho de mais.
O COMPROMISSO NO BECO
Ainda não decorreu uma semana sobre a "convenção" dos betinhos do "compromisso Portugal" e dois dias sobre a oferta de um telemóvel com casa de banho ao Rei de Espanha, e eis que a mediocridade do "empreendedorismo" nacional volta à tona. Razão tem António José Saraiva. Descobrimos o mundo, mas vivemos num beco. Sem saída.
BORGES EM INTELECTUAL?
A Fernanda Câncio, jornalista, diz ela, de algumas causas, deu-lhe para reproduzir uma entrevista remota com o - espero não errar na toponímia - professor doutor Pedro Arroja, ao que consta, guru dos "liberais" portugueses. Já agora, gostava que a Fernanda - a quem me anda a apetecer convidar para almoçar - o distinguisse do preclaro dr. (acho que este é só dr.) António Borges. É, por assim dizer, Borges em intelectual?
AI TIMOR ?
O dr. Costa, António, está em Timor, presume-se que para visitar as gloriosas tropas da GNR que andam por lá aos caídos, a fazer de "guardas-nocturnos". De acordo com "fontes", os habituais e recorrentes incidentes entre os autoctónes "desenvolveram-se" à aproximação do nosso estadista. É assim que se agradece o luso "esforço" para o bem-estar de tão remota ilha? É interessante ir analisando estas peripécias. Estou farto de aqui escrever que, salvo Fátima e o Menino Jesus, os timorenses não querem saber de nós para nada. Não há meio da Austrália tomar conta daquele desvario a que preside o improvável Xanana. Quando isso acontecer, não se esqueçam de ir outra vez para a rua, todos de branco e de mãozinhas dadas, gritar "ai, Timor".
26.9.06
LER OS OUTROS
Talvez valha a pena seguir a "saga da corrupção" a que O Jumento está a dar início. Pode ter graça. O gado asinino sabe muita coisa. É como o ouriço de Isaiah Berlin.
"OS TEATROS DO PODER" - 2
Leio no Melhor Anjo que o sr. Fragateiro, director em simultâneo do Teatro Nacional D. Maria II e do Teatro da Trindade/INATEL/FNAT, vai ter de largar este último por manifesta e legal incompatibilidade. A lei orgânica do TNDMII ainda não foi alterada e, consequentemente, Fragateiro não pode acumular. Não sendo propriamente ilegal, existe uma situação paralela no Teatro Nacional de São Carlos e na Companhia Nacional de Bailado que referi aqui. A futura fusão das duas entidades não justifica tudo e, salvo o devido respeito pela pessoa em causa, o "bi-gestor" nem sequer em nenhum deles deveria estar. Temo, pois, que a nova entidade nasça torta. E não, não me "estou a fazer" a nada. Já dei para o peditório. Apenas sou intolerante para com a falta de elementar bom senso e para com a displicência na gestão dos dinheiros públicos. É "antigo" e "reaccionário", eu sei. Todavia, Deus me livre de ser "moderno", pelo menos "moderno" como estes "modernos".
A QUEDA
Portugal "caiu" três lugares num ranking mundial de competitividade. Ficou atrás da Tunísia, da República Checa e da Estónia. Mais uma multinacional pretende abandonar a pátria e deixar cerca de mil trabalhadores a "olhar para o boneco". No meio disto, só Manuel Pinho, o ministro da Economia e da Inovação, é que não cai nem sai. Não haverá ninguém que o empurre?
A CARTA
No verão do ano passado, quando fui ao bruxo electrónico que me "construiu" uma péssima carta astrológica para os próximos anos, lembro-me de me ter sido dito que eu tinha sido educado para uma coisa que, pelos vistos, já não existe. Se eu tivesse dúvidas, a chamada de atenção deste blasfemo ajudou-me finalmente a entender o sentido da "carta". Deixei de entender o mundo em que fui criado.
CARTA ABERTA A UM SECRETÁRIO DE ESTADO
Caríssimo dr. João Figueiredo,
Com a consideração e a estima pessoais do,
João Gonçalves
V.Exa. desilude-me. Não que eu possua qualquer tipo de ilusões acerca do país e do regime. Sou um niilista social e não acredito no progresso. V.Exa. acredita, embora o seu rosto e os seus olhos me lembrem "a noite do mundo" que vai ao encontro de todos os homens, aquela de que falava Hegel. Mas para quê a filosofia quando ela é banida dos currículos escolares por inútil para o tal progresso em que V.Exa. confia? E para quê a filosofia quando um empresário notoriamente bimbo, que acompanha Sua Excelência o Presidente da República na visita de Estado, afirma a plenos pulmões que o que é preciso é estudar economia, gestão e "qualidade"? Será que ele lava os dentes? Ainda ontem V. Exa. permitiu que a opinião que se publica e o audiovisual envacalhassem a função pública sem distinções, nem dó, nem piedade. Parece que servir o Estado se tornou subitamente um pecado capital. Ou acha V. Exa. que se nos entregarmos nas mãos da "sociedade civil" e das empresas que vivem do Estado e dos impostos que os funcionários públicos e os trabalhadores por conta de outrem pagam (porque não têm outro remédio), empresas essas que declaram consecutivamente prejuízos fiscais e honorários dos seus administradores inferiores aos que eu pago à minha empregada doméstica, o país, digamos assim, "neoliberalizado" a partir da Expo e de Matosinhos, era mais próspero? Supõe ainda V. Exa. que precisamos de heróis avençados para nos explicarem o que já todos nós sabemos e que, por razões de oportunidade política, passaram hoje a vilões? Eles sempre foram assim, dr. Figueiredo, ou não sabia? O senhor "fixou" metas e imaginou que eles, os sábios, as iam cumprir. Então e a vidinha deles? Não são as presenças em "comissões" salvadoras da pátria que os safam. O senhor queria "resultados" em Novembro de 2005 e eles só lhe deram uma parte agora. O senhor queria outra parte dos resultados em Abril de 2006, e eles ainda nem sequer a começaram. Ah, dr. Figueiredo, desconfie sempre dos demasiado engravatados que, depois, acabam sempre a assoar-se à sua gravata. Finalmente os seus sábios querem que V. Exa. reduza para 45 dias o prazo para a conclusão dos concursos públicos. Concordo e ajudo-o com uns exemplos. Por mero desporto, em Maio último concorri democratica e legitimamente a três ou quatro lugares das chamadas "direcções intermédias". Entreguei o que me pediram e cumpri o que me exigiram ou, pelo menos, ninguém me notificou para adendas. Num deles, o método de selecção era a entrevista pública. Compareci. Um dos membros do júri era professor universitário, externo ao organismo. Só soube que o concurso já estava encerrado num corredor, por mero acaso e há poucos dias, e a pessoa escolhida- por sinal da "casa" - já enfiada no lugar. Consta que me calhou um honroso "bronze". Então e a lei e "Código de Procedimento Administrativo", perguntará V. Exa? Pergunte-lhes a eles, que são um organismo de "controlo". Claro que existem tribunais, mas não tenho a certeza se me apetece confiar-lhes os papéis para "administrarem a justiça" porque também não tenho a certeza se ela é bem "administrada". Para mau, já basta assim. Depois, entreguei mais três papeletas, se a memória me não falha, noutros organismos. Em cinco meses - 150 dias -, nem um murmúrio ou lista de admitidos ou excluídos. Nada. Um desses organismos foi dirigido por V. Exa. e agora tem uma magistrada do Ministério Público à frente. Naturalmente não espero dela outra coisa senão o cumprimento da legalidade. Quando é que a vai cumprir, é que, pelos vistos, não sei. Do meu, nem vale a pena falar. O "pecado" de ter estado fora uns anos redime-se, como V. Exa. bem sabe, com a eternização no mesmo lugar da carreira. Não gosto de falar de mim, mas também não aprecio falar do que não sei. Disto tenho a certeza. Mais, aliás, do que V. Exa. tem em relação ao que pediu à sua "comissão". Desculpe que lhe diga, mas é bem feito. V.Exa. tem no Estado pessoas com formação e experiência que o poderiam ter ajudado a não levar tudo tão insensatamente para o fundo e para a presente trapalhada do "trás-para-diante". Descanse que não sou eu, que, por não acreditar, seria sempre um mau elemento. Um "complicado", por assim dizer. Todavia, o que não falta por aí são "perfis de competência". Esta carta é uma forma delicada de lhe tentar fazer ver que, com o devido respeito, V. Exa. não vai a lado nenhum. Nem V. Exa., nem o governo de que V. Exa. faz parte. Nem, graças a Deus, o país que tem um dia glorioso dedicado exlusivamente à bola. Isto só é bom para safados e V. Exa. é um homem de bem e de recta intenção. Não perceba isso demasiado tarde.
Com a consideração e a estima pessoais do,
João Gonçalves
UM PROGRAMA PORTUGUÊS
Depois de uma sessão dupla de Sexo e a Cidade, passo pela RTP, onde peroram os drs. Aznar, Ernâni Lopes e Dias Loureiro. Parece que o tema consiste nas relações Portugal/Espanha por ocasião da visita do Chefe de Estado aqui ao lado. Aznar, como Barroso e Guterres, pertence ao petit comité dos políticos sem vergonha na cara. O bem que fez pela Espanha desvaneceu-se naquele lance manhoso a propósito do atentado terrorista de 11 de Março, em Madrid, dias antes das eleições, o que lhe mereceu uma valente derrota por interposto Rajoy. Revelou um carácter. Agora, como não podia deixar de ser, é "administrador de empresa" do Grupo Murdoch. Ernâni Lopes é uma intermitência do regime que tem a mania da originalidade: consegue falar de "empresas portuguesas" sem se rir. E Dias Loureiro é o regime em permanência, no poder ou nas empresas. Na plateia está o resto. Babando-se provincianamente para o pequeno espanhol. Deputados, jornalistas, "empresários", sociedades de advogados, corporações, etc., e, mais uma vez, o outsider Medeiros Ferreira. A sra. D. Fátima "modera", com a sua proverbial ligeireza amaneirada e saloia (virou-se para os dois portugueses para se certificar se "isto" é uma das mais antigas nações da Europa e eles, significativamente, entreolharam-se no mesmo vazio). As "elites" deste regime estão praticamente todas reunidas naquela plateia da Casa do Artista. Alguém de boa-fé e com um módico de juízo pode rever-se nesta gente? Espero que os espanhóis, nos séculos XVI e XVII, tenham percebido definitivamente com quem se vieram meter. Se não perceberam, basta-lhes gravar este "Prós e Contras". A plateia é todo um programa.
LER OS OUTROS
O Jorge Ferreira. "Como parece que para o sistema o que é importante não é a gravidade da coisa [ fuga de informação no interior da PJ a favor de Pinto da Costa] ter acontecido, mas sim o seu conhecimento pelos leitores dos jornais, deduzam já a acusação contra o jornalista..." Já lá diz o anarca (felizmente recuperado): neste país é carnaval todos os dias.
25.9.06
POR QUE CORREM?
O dr. João Figueiredo carrega a pesada cruz de ter de dar a cara - pálida - pela "reforma do Estado" e pelos "estudos" encomendados a sábias "comissões". É que, quando a coisa aquece, apesar da experiência no "terreno" com as altas temperaturas, o dr. António Costa, ministro de Estado, desaparece. Os cagões das várias "comissões" nomeadas pelo governo- este ou outro qualquer- para "estudarem" tudo e mais alguma coisa, deviam começar por se estudar a si próprios. Quantos professores universitários dessas "comissões", quantos altos funcionários dessas "comissões", quantos "moralistas do sistema" acumulam a "função pública" com tantas outras coisas, umas declaráveis e outras nem tanto? Eu não os invejo porque gosto de ler, de ir à praia, de comer bem e de beber melhor, de escrever aqui e de outros prazeres inerentes à carne, ao sol e à vida de que dias soturnos e engravatados, de 28 a 30 horas, me privariam. E, assim como assim, acabamos todos mortos. Neste caso, por que correm o dr. Figueiredo e os cagões das "comissões"? Não vale a pena.
A LEI QUE EXISTE
A horrorosa "associação portuguesa das famílias numerosas" - cujos membros têm direito a uma "reportagem" semanal no suplemento Tabu do Sol - quer a cabeça de Correia de Campos por ele defender a despenalização do aborto. Ligam isto à "taxa de natalidade" (já de si diminuta e a descer se a interrupção voluntária da gravidez for para a frente, dizem eles), insistindo que o ministro não quer que a referida taxa desça, antes prefere que a do aborto aumente. Com o devido respeito, que é nenhum, a "associação" não tem razão a não ser quando afirma que o ministro tem "falta de senso". Ele terá, de facto, mas não é por isto. Ao falar na realização da IVG nos hospitais públicos, o ministro limita-se a dizer que a lei a permite em três casos perfeitamente identificados mas que, quer médicos, quer enfermeiros, quer as condições objectivas de funcionamento do SNS, não a cumprem, depois de ter sido alterada há mais de vinte anos. Também pesa a "vergonha" cultural e social de recorrer ao hospital público. Por isso, quem pode dá um salto até aqui ao lado ou a uma choruda "privada", e quem não pode - outro tipo de "famílias numerosas" que não cabe no corpo de "betinhos" da APFN - recorre a um expediente mais fácil e inseguro. Se os "activistas" pró-aborto - tipo "não te prives" e agremiações folclóricas congéneres - acham que a despenalização total da IVG altera este estado de coisas, estão muito enganados. Dito de outra forma, a IVG é, há anos, facultada no SNS que, por inexplicáveis "razões de Estado", jamais viu cumprir-se a lei. Sou contra a utilização da IVG como meio anti-concepcional, porém sou favorável ao cumprimento da lei. Da que existe e não da que as "associações" - as "pró" e as "contra" - queriam que existisse.
MATEMÁTICA FUNCIONÁRIA
Num simples post, o Eduardo Pitta resume o fundamental e a respectiva "história". Pena é que a "central de comunicações" do governo - explicada no Sol pelo Jerónimo Pimentel - esteja permanentemente a excitar a opinião pública contra os funcionários do Estado, enfiando tudo e todos no mesmo saco de gatos. Antes de expelir os resultados das suas "comissões" de sábios - nas quais estão funcionários públicos, a menos que os professores universitários e outras luminárias que eu bem conheço sejam da "sociedade civil" -, conviria ao executivo explicar (como se isso lhe interessasse...) a diversidade do conceito de "funcionário público". A gente sabe que, quer os membros do governo, quer os seus assessores e os seus sábios, não apreciam misturar-se com as porteiras das escolas secundárias ou com os coveiros municipais. A designação de "funcionário" ou de "servidor do Estado" arrepia estas almas democráticas. Vai daí, lança-se um anátema geral, sabendo de antemão o governo que, dado o Estado napoleónico em que sempre vivemos, se o "funcionário" e respectiva família se irritarem muito, na altura certa não há votos para ninguém. Oxalá me engane, mas convém estar atento ao "discurso" da "central" sobre a administração pública mais perto de 2009. Setecentos e tal mil votos, fora as mulheres, os maridos, os avós, os pais, os filhos, os netos, os amantes e as amantes, podem dar cabo de uma maioria absoluta. Pelo andar da carruagem, não se perdia grande coisa.
NÃO HÁ PACHORRA
Dois conhecidos "reformadores" da Educação do Portugal "democrático", os drs. Marçal Grilo e Roberto Carneiro, encontraram-se para explicar ao país que, afinal, do que a Educação menos precisa é de mais "reformas". É o mesmo que pedir a incendiários que expliquem como é que se combatem os fogos. Não há pachorra.
ARGOLAS E ALGÁLIAS
Paulo: eu acrescentaria o dr. Pinho. Não por falar de mais, nem por se meter em apuros. Apenas porque é incompreensível e irrelevante. Lembrava a alguém "meter" na conversa dos investimentos que ele diz que arranja todos os dias, os 212 km/h? Correia de Campos é outro caso. É, digamos assim, um caso de senilidade política precoce. Quer o SNS e o seu contrário, o contrário e o SNS. É simultaneamente "liberal" e "socialista". Parece, pelos sorrisos, que aprecia brincar com a saúde. Ora sempre me ensinaram que, se há coisa com que não se deve brincar, é com a saúde. Não vai acabar bem.
24.9.06
UM NEGÓCIO
No telejornal da RTP apareceu um sujeito, de nome Rocha, que escreveu um livro intitulado "O Último Papa". De acordo com o próprio, o livro "revela", em versão romanceada, uma "conspiração" dentro do Vaticano que terminou na morte do Papa João Paulo I, em 1978. Não contente com a aparição simultânea do livro em dois ou três países, o nosso autor já sonha com Hollywood e até anunciou o nome dos putativos actores. Rocha - e outros como ele por esse mundo fora - anda a explorar a ignorância e a insuficiência espiritual das gentes do nosso tempo. Com sucesso, diga-se de passagem. Se repararmos na parte das livrarias que atrai mais público, ficamos esclarecidos. "Esoterismo"," espiritualidades" e "religião" têm sempre clientes. A "era do vazio" gera subprodutos mitómanos e miméticos como este Rocha. Apesar de mitómano, não é parvo. "O Último Papa" é apenas mais de um mesmo negócio que, dadas as circunstãncias, vende bem. Entre "Os Possessos" e um livro que se pode ler tranquilamente no cabeleireiro, quem é que hesita?
O RENEGADO BARROSO
Anda para aí uma manobra encapotada - ou descaradamente encapotada - para "recuperar" o dr. Barroso para a política nacional, da mesma maneira que os chineses, de vez em quando, recuperam "renegados". A seu tempo surgirá outra para o bonzinho Guterres. Nunca é de mais lembrar que estes dois homens foram uma maldição para Portugal. Cuidado.
A ESQUERDA NO DIVÃ
Não havia "esquerda" devidamente apessoada que não visse em Lula da Silva uma radiosa esperança para a definitiva consagração mundial da dita. Também já tinha acontecido isso, embora mais ligeiramente, com Blair em 97, e com Clinton em 92. Blair, entretanto, é o que se vê. E Clinton, não fosse ter dado a cara por um charuto e por uma mancha no vestido de uma histérica oportunista - algo que o humanizou - teria acabado da mesma maneira, como homem e como político. Foi o único que saiu em grande nas duas vertentes, deixando uns EUA prósperos e credíveis que W. Bush tem vindo paulatinamente a enterrar. Lula parece que vai ser reeleito. Em vez de ter tomado conta da política brasileira e da sua congénita venalidade, Lula permitiu que estas tomassem conta dele. O operário ficou refém do seu próprio deslumbramento, da corrupção, em suma, do poder. E a "esquerda" com mais um "pai" para "matar". Não há divã que resista.
ONDE É QUE ELES VIVEM?
A sra. D. São José Almeida, também do Público, é uma devota do "pai natal" e dos extraterrestres. Nos seus "sobes e desces" desta semana, colocou o secretário de Estado da Administração Pública nos píncaros por três motivos: a "reforma da administração pública", as "contas" que fez aos funcionários públicos e os atestados médicos passados pelo SNS. Também nos suplementos de economia dos semanários e dos diários, João Figueiredo foi muito louvado. Na certa, será o convidado especial da 3ª Convenção do "Compromisso Portugal". Esta estranha "aliança" entre uma entusiasta do "Não apaguem a memória" e os empresários do "Silicon Valley" da Buraca, muitos dos quais já passaram por governos e gabinetes da democracia, não deixa de ter a sua piada. Sobretudo quando a seguir elogia João Cravinho, o novo campeão nacional na luta contra a corrupção que, coitado, imagina encostar o seu grupo parlamentar à parede. Em que país é que esta gente vive?
"OS TEATROS DO PODER"
A entrada de António Botto no post anterior não se deveu a nenhum desatino melancólico de que tivesse sido acometido. Vem a propósito do que li e escrevi nos últimos dois dias. Com o habitual atraso, só hoje, domingo, passei pelo Público de ontem e pelo artigo do Augusto M. Seabra sobre os "teatros do poder". Batem muito no Augusto - EPC e Cia. - porque alegadamente o homem não tem "uma obra" e não é brando a zurzir. Para que é que ele havia de ter "uma obra" quando os escaparates já estão inundados com tanta bosta ilegível? E por que é que ele devia deixar de zurzir tudo aquilo que é eminentemente zurzível - quase tudo - no plano da chamada "cultura"? Explico-me. A dado passo do seu artigo, AMS, que não tenho por ingénuo, pergunta o seguinte: "Como é admissível que seja director de um teatro nacional quem, como Fragateiro, declara não gostar de ler teatro (PÚBLICO de 06/04)? Como é possível a pusilanimidade de declarar que "se o Teatro Nacional fosse só dirigido pelo José Manuel [Castanheira, o adjunto] isto era um desastre nas contas, se fosse só dirigido por mim era desastre na estética!" (Visão de 06/04)? Mas então que qualificações tem para o cargo? É só um comissário político?" Quem ler isto ainda pode pensar que as pessoas são nomeadas para os cargos porque são "competentes", "idóneas", movidas pela "recta intenção" ou, nos casos mais patológicos, para defender o "interesse público". E que, consequentemente, a direcção actual do Teatro Nacional D. Maria II seria uma "excepção". Naturalmente que a dupla Fragateiro-Castanheira é dada à paródia, um "tique" que lhe advém da gerência do Trindade - que Fragateiro acumula ilegalmente - e que é aquele produto híbrido entre a FNAT do dr. Salazar e o "aproveitamento dos tempos livres" da democracia. Fragateiro tem a cabeça de um director de companhia teatral dos filmes do Lopes Ribeiro e já não consegue meter mais nada lá dentro. Para além disso, serve os propósitos da actual gestão política do ministério da Cultura, dirigido por dois amáveis ex-comunistas, daqueles que ainda o eram nos anos 80. Escrevo "propósitos" por mero acaso, já que, na realidade, dois anos quase volvidos, não lhes descortino nenhum. Daí que, desde a saída de Carrilho da Ajuda, a decadência do MC tenha sido irreversível, podendo perfeitamente extinguir-se, a bem da nação, por manifesta inutilidade pública. Para não sairmos dos teatros e equiparados, o panorama não muda muito nos outros. Ricardo Pais - à semelhança de Luís Miguel Cintra que dirige uma espécie de "nacional" na Cornucópia, graças à generosidade das receitas fiscais - , tornou-se num encenador do regime. Trocou a sua iconoclastia imaginativa por um confortável lugar de cortesão, uma coisa que advém normalmente com a idade. Na ópera, Paolo Pinamonti deve continuar a espremer-se por todos os lados para obter dinheiro para as suas produções as quais, apesar de tudo, evidenciam um módico de qualidade apreciável, coadjuvado por duas extravagâncias. Uma, acumula - não há mais ninguém, dr. Vieira de Carvalho? - a condição de jurista, de ex-coralista e de membro da direcção do São Carlos com a de membro da direcção da Companhia Nacional de Bailado, desempenhando ambas - só pode - em part-time. A outra, engenheiro mecânico desprovido do talento de Álvaro de Campos, e em tempos "gestor" de um estabelecimento de automóveis para as bandas de Santarém, tem no currículo uma assessoria "técnica" ao gabinete de Carrilho, na Ajuda, provavelmente naquela que é uma das suas muitas "especialidades", para além da mecânica: a construção civil. Foi ainda subdirector da Companhia Nacional de Bailado, durante cerca de nove anos, e deixou literalmente Ana Pereira Caldas - a directora - entregue a si própria quando o Tribunal de Contas recentemente lá foi auditar uma gestão pela qual ele tinha sido co-responsável. Nem um murmúrio se lhe ouviu - mas isso não são coisas de contas, são coisas de carácter - e continua "premiado" com a co-gestão do nosso único teatro de ópera. Finalmente o CCB, que está entregue a um verdadeiro imã do regime, o dr. Mega Ferreira, e a uma senhora que, à falta de outros, tem o mérito de saber gerir muito bem a sua carreira e que, pelos vistos, "cai" bem a qualquer poder. Por isso, Augusto, há mais Fragateiros no céu e na terra do que na tua "filosofia". É só ires atrás deles.
O MESMO ARREMELGADO IDIOTISMO
À memória de Fernando Pessoa
Se eu pudesse fazer com que viesses
Todos os dias, como antigamente,
Falar-me nessa lúcida visão -
Estranha, sensualíssima, mordente;
Se eu pudesse contar-te e tu me ouvisses,
Meu pobre e grande e genial artista,
O que tem sido a vida - esta boémia
Coberta de farrapos e de estrelas,
Tristíssima, pedante, e contrafeita,
Desde que estes meus olhos numa névoa
De lágrimas te viram num caixão;
Se eu pudesse, Fernando, e tu me ouvisses,
Voltávamos à mesma: Tu, lá onde
Os astros e as divinas madrugadas
Noivam na luz eterna de um sorriso;
E eu, por aqui, vadio de descrença
Tirando o meu chapéu aos homens de juízo...
Isto por cá vai indo como dantes;
O mesmo arremelgado idiotismo
Nuns senhores que tu já conhecias -
Autênticos patifes bem falantes...
E a mesma intriga: as horas, os minutos,
As noites sempre iguais, os mesmos dias,
Tudo igual! Acordando e adormecendo
Na mesma cor, do mesmo lado, sempre
O mesmo ar e em tudo a mesma posição
De condenados, hirtos, a viver -
Sem estímulo, sem fé, sem convicção..
António Botto
23.9.06
OS PASSOS EM VOLTA
O Carlos "deu por ele" a concordar com o sr. Daniel Oliveira, do Bloco de Esquerda, por causa de Souto Moura. Isso lembrou-me uma coisa que só há pouco tempo realizei. Oliveira é filho de Herberto Helder, embora tivesse sido "criado" por Manuel Gusmão, do PC, que lhe deve ter ensinado o "abc" do marxismo-leninismo-estalinismo. Oliveira passa por ser uma cabeça "moderna" e "divertida", mas tem uma praticamente tão antiga como a do director do "Diário da Manhã" , o dr. Dutra Faria, ilustre porta-voz do "Estado Novo", que fez a pergunta que deu origem à mais famosa resposta do ex-director-geral de Aviação do dr. Salazar: "obviamente, demito-o". Também ele, ao contrário do que alardeia, faz parte do regime que hoje, quase unanimemente, condena o dr. Souto Moura, um produto, voluntaria ou involuntariamente, do mesmo regime. O resto é retórica e sandálias nos pés.
A MECÂNICA DOS FLUÍDOS
Por falar em mesa de café, o Eduardo Prado Coelho escreveu há dias uma lamentável crónica em defesa do indefensável Expresso (vide este link). Nada mais o moveu senão a lógica da capela (ou deveria dizer antes, de capelinha?). O Actual (link) - que ele incensa de uma maneira que parece que está a falar do suplemento literário do Times ou da New York Review of Books - é uma pepineira praticamente ilegível onde pontifica um amigo dele, o António Guerreiro. Mais nada. Também lá escreve um amigo meu, o José Manuel dos Santos e, nem por isso, entorto os olhos. Aliás, Guerreiro pontifica ali apesar de ter suspirado por uma outra morada mais, digamos assim, à luz do dia. Como o sol não nasceu para o Guerreiro, o Actual, segundo EPC, é bestial. É a chamada "mecânica dos fluídos".
O CONSOLO DA FILOSOFIA
Ainda só li um jornal, à mesa do café, a torradas, tosta mista e sumo de laranja. A pior notícia do Sol diz-me que a filosofia deixa de ser obrigatória até para aceder, na universidade, ao curso da dita. Formei-me em direito mas não saberia sobreviver - já nem sequer digo viver - sem aquilo a que Boécio chamava "o consolo da filosofia". Aliás, foi nas masmorras que Boécio escreveu o livrinho, só, torturado e votado a uma morte prematura por causa da "política". As "modernas" gerações estão a ser criadas para a facilidade e para o não pensamento ou, quando muito, apenas para o "pensamento que calcula", de acordo com a fórmula de Heidegger. Daí a reprodução em série de licenciados analfabetos. Um amigo meu, que ensina física na universidade, mal consegue ler os testes dos seus alunos, apesar da "matéria". Outros desistem, noutros cursos, logo aos primeiros parágrafos. A filosofia ajuda a pensar e pensar não consta da "agenda" do dia. Quando entrei para a universidade, a faculdade onde se incluía o direito, era chamada de "faculdade de ciências humanas". Agora é mais uma "faculdade de direito". Não poder aceder, por causa da estúpida burocracia da "educação" democrática, a uma das mais belas realizações do espírito humano, diz tudo dos tempos que vivemos. Ou melhor, que não vivemos.
LER OS OUTROS
João: escrevi aquilo antes do homem ir ao Gerês. E hoje estou demasiado nauseado para escalar montanhas ou assistir a escaladas alheias. A isso preferirei sempre a mais famosa descida de uma montanha de que há memória: a da Julie Andrews a cantar a caminho do convento em Salzburgo.
A ESCRITA MARICAS
"O meu Verão passou-se em fervorosa releitura dos meus dois autores preferidos: o divino Marcel e o divino Thomas". Podia começar assim uma redacção da antiga quarta classe de um menino sobre-dotado. Nada mais enganador. A frase pertence a Frederico Lourenço, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, escritor e tradutor de clássicos. Vem na sua coluna habitual no suplemento "6ª" do Diário de Notícias. Lourenço adquiriu notoriedade com as suas traduções da Odisseia e da Ilíada- parece que, afinal, discutíveis - e com a sua trilogia "Pode um desejo imenso" ("Pode um desejo imenso", "O curso das estrelas" e "À beira do mundo"), tudo dos Livros Cotovia. De tal maneira que a editora pôs cá fora recentemente estes "romances" em forma de um, com o título do primeiro. Lourenço, graças à referida trilogia, a uma "autobiografia" - "Amar não acaba" - e à sua idade, tornou-se numa espécie de ícone de uma geração homossexual chique, geralmente mal resolvida e mal fodida, que se revê nos delíquios insuportáveis da sua escrita. Verdadeiramente, Lourenço integra uma categoria de escritores que praticam aquilo a que eu chamo "a escrita maricas". Esta "escola" inclui vários tipos de escrita - poesia, romance ou ensaio - e não deve a toponímia às opções sexuais de quem a pratica. Releva antes da forma como os autores e as autoras expõem as suas "ideias" (quando as têm), tornando muitas vezes rísivel ou soporífera a respectiva leitura. Aliás, e como escreve o Eduardo Pitta no único texto sério que conheço sobre a matéria, "literatura homossexual é um pleonasmo". E continua. "O que sempre houve é literatura feita por homossexuais, a qual, com carga erótica ou sem ela, não tem sido coutada de escritores homosssexuais. Jorge de Sena era heterossexual. Henry James e Evelyn Waugh são notoriamente ambíguos (a despeito da juventude sparkling do segundo). E Luiz Pacheco? Discurso directo: "Gostas de broche? - pergunto e encaro-o [...] e pela primeira vez noto como me apetecia aquele corpo, ser dono ou servo daquele aparato movediço de carne, pele, ossos, pêlos, força". Não vale a pena extrapolar, mas a figura do magala é com certeza um fantasma português." (in "Fractura, A condição homossexual na literatura portuguesa contemporânea", Angelus Novus Editora, 2003). Ou seja, tal como eventualmente a sexualidade é indivisa e só o objecto a quem ela se dirige pode ser de uma ou de várias naturezas, também não me parece que subsista uma "escrita" marcadamente sexista enquanto tal. Basta ler os romances autobiográficos de Henry Miller para entender o que pretendo exprimir ou mesmo a prosa violenta e "anti-maricas" de Jean Genet. Entre nós, onde normalmente se vive de leve, se escreve de leve e se morre de leve, como Eça dizia de Júlio Dinis, a tendência é sempre a mesma: afastar a vida e a realidade de tudo o que possa perturbar a pequena cabeça do putativo leitor. Ora a verdadeira literatura - mesmo, ou sobretudo, a de Proust que Lourenço refere - é um parto doloroso e uma morte mais do que anunciada. Não existe literatura inocente, a tal da "arcádia" a que alude Lourenço. Sem querer repetir clichés conhecidos - de Bukowski a Pasolini - toda a grande literatura tem de passar pelos "ciclos" que simultaneamente a redimem e a perdem: o do sangue, o do esperma e o da merda. Proust, que uma passagem da sua Recherche fez rir Frederico Lourenço na Meia-Praia de Lagos, fechou-se num quarto para escrever o que escreveu. Por assim dizer, saiu-lhe do coiro, da forma mais dolorosa que possamos imaginar. Não se pode falar da vida que emerge da verdadeira literatura com entrefolhos, punhos de renda ou lápis-de-cor. Frederico Lourenço podia ter terminado a sua "autobiografia" com a frase "tudo na vida tem o estigma da caducidade". Só que não resistiu à "arcádia" e perpetrou uma vulgaridade: "só amar não acaba". Um "escritor" que não entende que "amar" pode nem chegar a acontecer, é porque não sabe ler os seus "divinos" Marcel Proust e Thomas Mann.
CULPA DELE? - 2
Queria dedicar-me neste fim-de-semana à "cultura" e aos jornais que, sem ofensa, são uma saudável - quando são - manifestação da dita. Todavia, o post anterior suscitou comentários que merecem ser comentados em duas linhas. Para mim, o mandato deste PGR foi indigente e mal explicado. Em nenhum lugar ponho em causa a seriedade e a integridade intelectuais de Souto Moura. Apenas não tinha jeito e, a partir de certa altura, não deve ter assimilado bem por que caminhos estava a entrar. Se tivesse entrado, se o tivessem deixado entrar, provavelmente o regime teria de fechar as portas. O mal dele foi, justamente, ter aquela mania de falar à saída das portas. Por outro lado, não soube pôr ordem nos seus hierarquizados e, por tabela, deu lastro a infantilidades que, na justiça, se pagam demasiado caras. Quando refiro "mal explicado", penso nele e na política. Existiu uma complacência mútua entre a PGR, a política e outras "forças vivas da nação"- tem existido sempre, aliás, e não é por acaso que as musas do governo para a justiça, Rui Pereira e outros, queriam uma "justiça especial" para os "especiais" e foi assinado um "pacto"- que lá mais para diante, em memórias sérias, talvez alguém possa explicar. Agora não porque o regime tem de continuar.
22.9.06
CULPA DELE?
Antes de recolher ao jazigo de família - a PGR - o dr. Souto Moura revelou ao país o resultado do inquérito ao chamado "envelope 9". Deu numa acusação a dois jornalistas. Quanto às "fontes", nada. Antes que a patrulha de serviço comece a enterrar ainda mais o pobre dr. Moura, convém aclarar duas ou três coisas. Alguém verdadeiramente esperava mais deste inquérito? Com certeza que não. Alguém acredita verdadeiramente no processo onde estava integrado o "envelope 9"? Duvido. Em permanente "duelo", a investigação criminal e a investigação jornalística encarregaram-se de destruir metodicamente qualquer possibilidade de se estabelecer "a verdade", se é que existe alguma naquele malfadado processo. Atacar o elo mais fraco e mais fácil - os mensageiros - corresponde a encerrar da forma mais medíocre possível um mandato profundamente indigente e mal explicado. Culpa do dr. Moura? Não. Culpa de quem o nomeou e de quem o manteve.
O HÍBRIDO
Há seis anos, se não me engano, não houve parolo nenhum que não agarrasse numa bicicleta, numas alpercatas ou, sem nunca ter andado neles, recorresse aos transportes públicos para celebrar o "dia sem carros". Era o tempo em que reinava, directamente dos céus, o bonzinho Guterres. Sampaio, se a memória me não falha, andou a pé e de eléctrico. O país estremeceu, por um dia, de beatitude. Em suma, foram todos bem mandados e politicamente correctos. Eu, felizmente, estava em Marrocos e o folclore foi-me narrado ao telefone. Hoje tudo foi diferente. Acordei ao som de buzinas histéricas, andei em filas de automóveis e assisti aos habituais atrofiamentos. E, obviamente, não larguei o meu carro. A novidade veio do secretário de Estado do Ambiente, o Humberto Rosa que, nos tempos do D. Pedro V, jamais faria supôr onde ia acabar. Andou num "híbrido" e pôs o motorista a explicar o funcionamento da máquina que mandou comprar. Ao menos não foi hipócrita, nem híbrido, apesar do carro.
POIS
À minha frente, no "serviço público" de televisão, passam imagens da inauguração de um "centro de estágio" do Benfica. O sr. Vieira, cuja dificuldade em balbuciar uma frase minimamente articulada inspira piedade, "recandidatou-se" à presidência do clube e o evento teve foros de acontecimento nacional, com direito a uma "grande entrevista" pela sra. D. Judite de Sousa. Não admira. Na inauguração do referido "centro" estava parte do regime, já que o regime costuma confundir-se com os clubes de futebol e os clubes de futebol com o regime. Até o saudável outsider Medeiros Ferreira se deixou tentar. Do sr. Vara, da administração da CGD, ao dr. Bagão Félix, não deve ter faltado ninguém. Dantes, era o vinho tinto que alegadamente dava de comer a não sei quantos portugueses. Agora é a bola, a vermelha ou de outra cor qualquer. Qual é mesmo a nossa última "referência"? A Finlândia? A Noruega? Pois.
LOJA DE CONVENIÊNCIA
Graças à realidade, à fria realidade que nem sempre se conhece, o ministério da Cultura vai, felizmente, deixando de fazer sentido. "O MF já tinha dito que os orçamentos ministeriais de funcionamento para 2007 teriam um corte de cerca de cinco por cento. O da Cultura pode sofrer um corte global maior se houver ainda diminuição de verbas do PIDDAC - ontem, o Diário de Notícias avançava que o corte global no orçamento da Cultura seria de sete por cento, mas o ministério não quis comentar a notícia." Escreve-se assim no Público. E, se virmos bem as coisas, há algum sentido nisto. Afinal, no ano corrente, o MC só serviu como "loja de conveniência" para o comendador Berardo. Para fazer de "caixa", já existe outro ministério. Isabel Pires de Lima podia perfeitamente voltar ao seu Eça. Anda, aliás, a fazer-lhe alguma falta.
POLÉMICAS E IDEIAS
Talvez não fizesse mal aos pategos que andaram com o dr. Carrapatoso ao colo, a leitura deste calhamaço que reúne textos de António José Saraiva. E, se o conseguirem, tentarem perceber por que é que ele, no brilhante desalinho do seu pensamento, é um "moderno". Sobretudo ficava bem à miudagem dos jornais, das rádios e das televisões- à parte que é alfabetizada - procurar entender o país sobre o qual palreiam alarvemente todos os dias. Vendia-se nas FNAC's, em saldo, a 11 euros, ao lado do "best-seller" da pobre da Fátima Lopes de quem, felizmente, ninguém se lembrará daqui a uns anos. O volume é pesado. As polémicas e as ideias, como lhes competem, também.
PROVINCIANISMO
Quem aterrasse ontem em Portugal, ainda por cima com o engº Sócrates em Nova Iorque, podia julgar que o dr. António Carrapatoso era o chefe do governo português. Não houve órgão de "comunicação social" que se prezasse que não desse voz à "boa-nova" prometida pelos discípulos do prof. Karamba da Vodafone. O provincianismo é mesmo assim. Deslumbrado e, ele sim, irreformável.
Adenda: Amigos do Corta-Fitas: eu queria fazer um link para um texto do Pedro Correia ("as receitas dos santos milagreiros"), porém V. têm um "sistema de linkagem" que vai buscar tudo menos o que eu quero. Parece o "plano tecnológico". Todavia, a parte que mais gostei foi esta: "este notável do regime, que tem cerca de 80 por cento dos assalariados da sua empresa em situação de emprego precário, é daqueles que se propõem regenerar a pátria, sob o grito de guerra "Compromisso Portugal".
Adenda: Amigos do Corta-Fitas: eu queria fazer um link para um texto do Pedro Correia ("as receitas dos santos milagreiros"), porém V. têm um "sistema de linkagem" que vai buscar tudo menos o que eu quero. Parece o "plano tecnológico". Todavia, a parte que mais gostei foi esta: "este notável do regime, que tem cerca de 80 por cento dos assalariados da sua empresa em situação de emprego precário, é daqueles que se propõem regenerar a pátria, sob o grito de guerra "Compromisso Portugal".
21.9.06
LENDO OUTROS
Este, de facto, é o Cavaco Silva que eu gosto. O dr. Costa acompanha, não é verdade? E aquele senhor obscuro que tutela o Ambiente, terá direito a acompanhar o dr. Costa? É que o dr. Costa é muito cioso das suas ignições.
UMA RESPOSTA E ALGUMAS PERGUNTAS
A resposta à pergunta do post anterior veio de um leitor que deixou quase tudo "preto-no-branco". Só se pode desejar as maiores felicidades a estes novos servidores públicos. Não sei, no entanto, se estas admissões (53 e mais 104 para o ano, fora as relativas a outras carreiras que também aparecem via DGAP) correspondem à famosa tirada da "entrada-de-um-por-cada-dois-que-saem". De qualquer forma, merecem, já que, tanto quanto sei, pagaram o Curso (5 mil euros). Apenas mais umas questões. O que é que o dr. João Figueiredo espera obter com a ideia dos atestados médicos certificados pelo Serviço Nacional de Saúde? Menos baixas? Ajudar o dr. Correia de Campos a aumentar virtualmente a "produtividade" dos centros de saúde e dos hospitais, particularmente os psiquiátricos? Para além destas, subsiste a questão-chave que se prende com a "estratégia" do governo para a administração pública. É que a cada "entrada" destas corresponde à abertura de um "lugar a acrescer automaticamente no quadro de pessoal" do organismo onde estas criaturas vão assentar praça. Isto é, "por-cada-um-que-entra-abre-se-mais-um-lugar" no Estado. E, entretanto, com o "esticar" da idade da aposentação, há mais que ficam e que já podiam ter saído. Pode ser que tudo isto, afinal, seja o óbvio e eu o obtuso.
"Caro João Gonçalves, eu fui um dos nomeados nesses despachos. As nomeações a que se refere correspondem à colocação dos alunos da 6a edição do "Curso de Estudos Avançados em Gestão Pública", ministrado pelo INA, nos respectivos serviços, em virtude do disposto no DL 54/2000, que criou o dito curso. Entre as nomeações publicadas hoje e as publicadas no DR de 15 de Setembro, somos 53 novos funcionários públicos. Não precisa de ir para trás contar. E já agora, para o ano vêm aí mais 104 por esta via. Antes que o CEAGP dê em polémica gostaria de informar que a polémica já teve lugar no blogue Quarta República, quando outro leitor regular do DR reparou no despacho que abria vagas para a 7a edição do curso. Convido por isso o João Gonçalves e os leitores deste post a referir-se ao post e aos comentários escritos à época [neste link].
Vasco Campilho"
Vasco Campilho"
UMA PERGUNTINHA
Aproveitei o começo da "hora de almoço" para tentar perceber se o famigerado "Diário da República" electrónico funciona e de graça. Funciona e é de graça. Ao passar os olhos pela II Série - que, para quem não sabe, contém os chamados "actos da administração pública" - deparou-se-me um conjunto de "despachos" - completos ou em forma de "extracto" - através do qual são nomeadas para a categoria-base da carreira técnica superior do Estado - "técnicos superiores de 2ª classe" para "lugar a acrescer automaticamente no quadro de pessoal" para onde vão - pessoas da função pública mas de categorias ou de carreiras diferentes. É só ir aqui e ler, no que aos últimos trinta dias diz respeito. Por que é que eu refiro isto? O acesso ou o ingresso fazem-se através de um organismo chamado Direcção-Geral da Administração Pública que supostamente o PRACE - lembram-se dele? - iria extinguir. Não me vou dar ao trabalho de andar a ler os DR's para trás para contar esta gente. Os jornais que façam isso, se quiserem. Acontece que ainda há dois dias, com ar grave e fúnebre, o sr. Secretário de Estado da Administração Pública deu a conhecer os "números" dos funcionários do Estado - fora os que ele não conhecia e etc. - e conviria saber se estes "acessos" amanhados na distracção do Verão (os despachos chegam ao DR com umas boas semanas de atraso) também já estavam incluídos na contabilidade incipiente do dr. Figueiredo. Importava-se, pois, de nos elucidar acerca deste "instrumento de mobilidade" que obriga a criar mais lugares nos quadros de pessoal respectivos?
RAZÃO PÓSTUMA - 3
Mais uma vez no carro e no trânsito, aparece-me um jornalista do inefável Diário Económico a papaguear a "2ª Convenção" da rapaziada do "Compromisso Portugal". Estupidamente ou por mera ignorância - o que vai dar ao mesmo - o locutor do RCP pergunta ao outro se não é boa a existência destes "grupos de cidadãos" (sic) que procedem a "reflexões" em prol da pátria. É claro que o "colega" do DE se dezfez imediatamente em elogios às teses do "Compromisso". Quem escutasse este diálogo surrealista ainda podia pensar que o "Compromisso" era um grupo de amáveis filantropos. Realmente o dinheiro da publicidade pode muito.
RAZÃO PÓSTUMA - 2
"Enquanto presidente da câmara, Fátima Felgueiras terá encaminhado ilegalmente para o FC Felgueiras verbas que ultrapassaram os três milhões de euros. A acusação do Ministério Público responsabiliza também o ex-presidente Júlio Faria e cinco ex-vereadores da Câmara de Felgueiras pelo esquema de transferência de verbas para o clube. Faz hoje um ano que a autarca regressou do Brasil." Lê-se no Público. É para isto que os senhores "autarcas", os tais "de Abril", querem mais dinheiro dos impostos da carneirada? E agora vou tomar um duche e vestir-me para ir ao meu "controlo". Na realidade, vale a pena controlar alguma coisa neste país de merda? Como dizia o outro, "isto é só para safados". Não tenho feitio para isto.
UMA CERVEJA NO INFERNO
RAZÃO PÓSTUMA ?
Juntaram-se ao dr. Carrapatoso e respectivos compagnons de route, os drs. Nogueira Leite e Fernando Pacheco que pretendem "eliminar" 200 mil funcionários públicos. Estas duas almas foram minhas contemporâneas na Universidade Católica onde fizeram carreira académica na banda da economia. Nogueira Leite, que eu saiba, é professor catedrático da Universidade Nova e, consequentemente, funcionário público. Quanto a Pacheco, a última vez que o vi, foi numa reunião de uma coisa chamada "sistema de controlo interno da administração financeira do Estado" em que eu estava em representação de Rodrigues Maximiano, à altura Inspector-Geral da Administração Interna, e a que Pacheco presidia na qualidade de Secretário de Estado do Orçamento de Pina Moura. Pina Moura, aliás, apareceu no início do encontro para anunciar uma "reforma" (a escola das "reformas" está em todos os lados e em lado nenhum) e preparar os "dirigentes" presentes - penso que eu era o único que não possuía o estatuto - para o pior. O pior, mal sabia Pina Moura, veio um ano ou dois depois pela boca do seu primeiro-ministro que, entretanto, descobriu o célebre "pântano". Pacheco e Nogueira Leite foram secretários de Estado de Pina Moura, tendo o segundo abandonado o "barco" mais cedo. Já a amizade de Pacheco com Pina Moura fermentou ao ponto de estar ao seu lado na Iberdrola. Isto serve apenas para dizer o seguinte. Estes ilustres académicos foram governantes de Portugal pela mão de dois homens manifestamente "iluminados": o bonzinho Guterres e o ex-estalinista empresário Pina Moura. Que mal lhes pergunte - sobretudo a Pacheco que tinha a obrigação de "coser" o Orçamento de Estado -, o que é que os dois lá estiveram a fazer já que não viram necessidade de "eliminar" ninguém nessa altura? É que pouco tempo antes da passagem de ambos pelo governo - na saison Guterres 95/99 - o Estado tinha "engordado" precisamente à conta das promessas eleitorais do partido que ambos serviram na Praça do Comércio. Tenho tanta pachorra para estes moralistas de última hora como para o dr. Louçã ou para o sr. Carvalho da Silva. Dar-se-á o caso de Salazar ter tido razão quando confessou a Franco Nogueira, em 1966, que "isto é só para safados"? Já estou como ele. Não tenho feitio para isto.
20.9.06
DEIXEM-NOS EM PAZ
O João Morgado Fernandes resume bem a coisa. Seguia eu na 2ª circular, pela manhã, quando, nas "colunas" do automóvel, apareceu um jornalista do Diário Económico a explicar, como se fosse dele, a "proposta" do "Compromisso Portugal" para a segurança social. Parece que a ideia parte do dr. Carrapatoso que, aliás, é um homem cheio de ideias. Veja-se, por exemplo, as que transmitiu ao fisco em relação às suas dívidas fiscais ou a forma bestialmente imaginativa como os chamados "jornais de economia" e o dr. Nicolau, o do laço, tratam qualquer murmúrio do "Compromisso". O dr. Carrapatoso impôe, de facto, respeito. Eles todos lá saberão porquê. Mas adiante. O "Compromisso" gostaria eventualmente de tratar da famosa "concertação social" como os seus mentores tratam das suas empresas. Sucede que, por enquanto, ainda não foi restaurada a Câmara Corporativa do dr. Salazar, da engª Lurdes Pintasilgo e do prof. Freitas do Amaral. Mal ou bem, há um governo legitimado para governar e uma oposição legitimada para criticar. A segurança social, sendo uma questão de contas, é, antes disso, uma questão política, de opções políticas. Que eu tivesse dado por isso, o "Compromisso Portugal" nunca foi a votos. Donde, só posso desejar felicidades pessoais e profissionais ao dr. Carrapatoso e aos seus amigos. De resto, deixem-nos em paz.
DO BEM COMUM
O Carlos - permita-me que o trate assim depois daquelas coisas que não partilhamos - elogia eloquentemente o novo PGR, o ilustre dr. Pinto Monteiro, por justa contraposição ao dr. Souto Moura que nunca pareceu ter compreendido o que é que estava ali a fazer. Pinto Monteiro jura que não pertence à Maçonaria - como se isso fosse vitupério - mas, graças ao Jorge, fica-se a saber que foi, designadamente, presidente do Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol e membro do Conselho Jurisdicional da Associação de Futebol de Lisboa. É igualmente um "especialista" no combate à corrupção, coisa que eu pensava ser co-natural a quem exerce funções judicativas ou de investigação penal ou equiparada. Apresentar isso como uma extravagância, diz bem do estado a que a justiça - a do "pacto"- chegou. O que se deve esperar do futuro PGR é que encare as patologias do "sistema" e da sociedade - onde a bola não está excluída, bem pelo contrário - com a coragem, determinação, discrição e isenção que a salubridade da nossa vida cívica e dita democrática, exige. Para o bem da PGR e para o nosso. Ou seja, para o bem comum.
O NÚMERO E A SEMÂNTICA
O dr. João Figueiredo mandou contar os funcionários públicos. Apresentou umas contas divertidas. Fica sempre a possiblidade de haver uns quantos que não se sabe o que fazem ou o que ganham, nunca em números inferiores a dez mil, a vinte mil ou mesmo trinta mil. Depois revelou o que já se sabia. A Saúde e a Educação levam a maior fatia - médicos, enfermeiros, restante pessoal do SNS e professores -, e que a Justiça paga bem aos seus magistrados, os do MP e aos judiciais propriamente ditos. Tudo somado, teríamos à volta de quinze por cento do emprego nacional envolvido com o Estado, do central ou local, passando pela Madeira e pelos Açores. Esta percentagem só interessa quando comparada com outros países "similares" O problema é arranjar qualquer coisa similar a isto. No entanto, o mais interessante do exercício foi a semântica. João Figueiredo apareceu solitário, com um ar perfeitamente enjoado, como se viesse a público revelar um crime. No caso concreto, "o crime" da existência de x funcionários públicos - como se fosse uma categoria indivisa -, pedindo quase desculpa por isso. Ainda não cconsegui perceber se a secretaria de Estado da Administração Pública existe para "reformar" a dita, para "reformar" à força os funcionários ou para os perpetuar até serem pré-cadáveres. Dr. Figueiredo, um conselho de um amigo: da próxima vez que aparecer, ponha um arzinho mais satisfeito senão ainda o mandam à junta médica e, mesmo assim, não o deixam ir embora.
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