6.3.08

A ÁRVORE E A FLORESTA

Haverá cerca de setecentos mil funcionários públicos. Dentro destes, há à volta de cento e quarenta mil professores. Mais de quinhentos mil funcionários, descontando juízes e procuradores, estão sujeitos a um "sistema de avaliação" criado, não para os "avaliar", mas para resolver um mero problema de despesa pública. Mesmo os "bons" e os "muitos bons" não têm nenhuma progressão garantida, nem na carteira, nem na carreira. Pelo contrário, tudo depende da "benevolência" e dos "gostos" de quem decide. E não consta que andem para aí todos os dias em vigílias e em manifestações.

8 comentários:

JCC disse...

Talvez os professores tenham motivos válidos para vigílias e manifestações. Não pensa, decerto, que gente como eu próprio, que se não manifesta há trinta e tal anos, o está a fazer por precisar de exercício, pois não? Se quer saber, eis algumas dicas: Avaliação de Desempenho, Estatuto do Aluno, Alunos Portadores de Deficiência, Gestão, Ensino Artístico... Serão razões suficientes? Acha que a sua comparação dos professores com os funcionários públicos que se não manifestam é pertinente?
JCC

Anónimo disse...

«tudo depende da "benevolência" e dos "gostos" de quem decide»
Absolutamente.
Assim o diz a nossa experiência.
A que viu o nome de um seleccionado ser levado a um órgão presidido pelo PR (Sampaio), depois de sujeito a um processo de averiguações sobre desvios de senhas de gazolina comprovadamente da sua autoria, ser promovido.
A general.
JB

Anónimo disse...

Tás a ver...ainda chegas a ministro a pastorear um rebanho. Ámen.

Tino disse...

Se calhar passa-se algo diferente com os professores.

Ou têm mesmo fortes razões para se manifestar ou não todos comunas da FENPROF...

Anónimo disse...

Podemos andar todos enganados em Potugal e afinal o Pinóquio ter razão...

Não é impossível...

Este ponto de vista foi ainda hoje defendido na TV por dois ministros.

Não é a primeira vez que acontece.

Lembram-se de Cristo?

joshua disse...

Docemente, esta noite, a Ministra sublinhou diante da Judite que na Avaliação do Desempenho Docente a classificação de Bom não obedeceria a quotas e se traduziria ulteriormente na retribuição do avaliado.

Docentemente, esta noite a Ministra exprimiu compreensão pela vida docente tal como está, sob as pressões concretas do terreno em que está, porque «trabalha-se mais, há um tempo superior de permanência nas Escolas, os contextos sociais de implantação escolar nem sempre são os mais favoráveis», reconhecimentos doces e mansos que eu nunca tinha escutado e me custa a associar a qualquer coisa de consistentemente sincero.

Se para este Ministério da Educação os professores são então os Taumaturgos Supremos de todos os Males da Sociedade e determinantíssimos no 'sucesso e no abandono escolar', se todos os males sociais e todo o insucesso Impende sobre os docentes, tudo está francamente errado nas premissas.

Quando o Ministério estabelecer protocolos com o Ministério da Justiça no sentido de se penalizar fiscal, judiciária e directamente os Pais Irresponsáveis, os Pais alheados da educação e negligentes em face do absentismo dos seus próprios filhos, quando se exercer finalmente o papel punitivo e a mesma exisgência sobre os cidadãos-pais, talvez o Tormento de Tântalo dos professores deixasse de ser o que é: punitivamente desmesurado para a quota de responsabilidade que lhes cabe efectivamente.

Talvez a vida dos demais funcíonários públicos não se tenha transformado no Inferno Concreto em que se converteu concretamente a Vida Docente, João. O item relativo à não-exclusão por faltas no Estatuto do Aluno é um atentado ao bom sono dos docentes, um convite ao laxismo e uma loucura injusta. Aos 'castigos e aos testes e exames como 'castigos' também se falta. E quanto mais pseudocastigos mais dignos de se lhes faltar.

Enfim, a Ministra dulcifica a forma e mantém aspero e indignante a substância. Gostava de a ver numa das turmas que eu já tive e ao José Miguel Júdice e ao José Pacheco Pereira e ao Miguel Sousa Tavares: para quem vive a anos-luz das angústias multidireccionais da docência, tal como se concebe agora, será fácil falar. Mas nisto como em tudo o feitiço alheado e desprezivo virar-se-á contra o feiticeiro.

Maria de Lurdes disse «não sei responder» quanto questionada se no lugar dos professores estaria na manif do próximo Sábado. O mal é precisamente que estes técnicos 'legislam' e 'reformam', esmagam e oprimem pessoas concretas atirando-lhes com o ónus completo(só se fossem wrestlers resistiriam a TUDO ISTO a sorrir ou joggingers na Praça Vermelha) porque não conseguem pôr-se no lugar do outro nem querem saber.

Também não quererei saber de me colocar solidariamente no lugar encurralado da Ministra Obstinada, Unilateralista e da voz dulcificada e impassível das entrevistas aflitivas.

PALAVROSSAVRVS REX

Anónimo disse...

Em que carreira da função pública se fez uma divisão em duas dizendo: os bons vão para aqui, o refugo fica onde está...
O refugo (2/3) ficou com as expectativas de carreira reduzida a 2/3.
Até admira como é que não fizeram uma revolução.

LR disse...

«E não consta que andem para aí todos os dias em vigílias e em manifestações»

Pois é, e se calhar são uns grandes parvos (ou demasiado dispersos) por não o fazerem!

(Aliás, somos)

O que se tem preparado dentro da AP é qualquer coisa de repugnante, que tem relativamente à questão dos Profs. 3 diferenças fundamentais:

-não tem associações de pais a observar e a envolver-se civicamente, convertendo parcialmente a questão dos Profs na questão de um número muito maior de pessoas. Mas atenção, pessoas com nome e rosto, activistas pelos filhos (e o que não fazemos por eles!)

- não têm o "patrão" longe, mas antes fisicamente mais perto de si, a controlar e monitorar os movimentos dos flagelados... Ora isto até aos intrépidos dificulta a vida, porque ninguém é suicida.

- Há muito menos corporativismo (prático) porque não há paridade comparável à dos docentes. Vive-se uma competição maior entre iguais (concursos, metas, 'status' interno). E mesmo quando há situações de crise, a súbita mas sincera solidariedade fraterna que emerge esbarra com uma arma invisível que se cruza decidida a cada passo, insidiosa e bem gerida lá do topo: "a valsa dos gabinetes"... (ou o insurrecto apanhado caso a caso com luvinhas de lã!)

Nunca vi uma americanização** da FP como esta, aos olhos de toda a gente, mas feita em nome dos princípios contrários.

Só que a coisa ou é demasiado opaca, ou as pessoas positivamente não a entendem.

P.Script -Quanto aos Profs, estou com eles. Também eu marcharia se não fosse colada aos sindicatos, mas aos colegas (como é o caso)!


**spoils system