7.5.07

LER OS OUTROS

"Finalmente, a cultura do Maio de 68 acaba de morrer pelo voto em Sarkozy. Tardou, mas aconteceu. Finalmente, os rodriguinhos, o redondismo dos floreados e o vão rocaille, o autismo, o estatismo, a falsa solidariedade e toda a ganga de boas intenções com resultados catastróficos - na economia, nas finanças, na educação, na imigração, na política externa - cairam por terra. Nos momentos de transe extremo, as nações exprimem-se contra as convenções e as delicadezas. Nos momentos em que se decide o importante, os fracos regimes entregam ao povo o veredicto de fazer história.
Do triunfo de Sarkozy, aqui muito estimado, retiramos três ensinamentos:
1) Derrotados o imobilismo e o poder político e cultural das esquerdas. A França mudou com tal rapidez que os detentores do poder e aqueles que a haviam endoutrinado durante quarenta anos não conseguiram reagir. Aliás, neste particular, os interesses votaram à esquerda, as ideias à direita.
2) Derrotados o extremismo e o populismo. Sarkozy eclipsou ou feriu com gravidade extrema a "direita fora do sistema". O homem que um dia destronou o populista Charles Pasqua - cujo discurso era, no mínimo, ordinário - retirou à FN a última possibilidade na cena política francesa. As forças anti-sistema têm uma função quando não há energia, sonho e projecto; não cabem quando a razão e o bom-senso prevalecem.
3) Triunfo da Europa e do Ocidente. Acabou a França amiga de todos os ditadores ubuescos, a França carregada de complexos de superioridade, expressa pela exaltação de diferenças etnográficas, a França incapaz de se identificar, mas sempre aberta aos fumos do fanatismo, a França isolada e patética que perdeu, fatia a fatia, o outrora protagonismo mundial."


8 comentários:

Arrebenta disse...

:-)
Também é verdade... também...

Anónimo disse...

Sarkozy ja começou a mudar de discurso. Antes a França nao tinha como vocaçao de acolher toda a miseria do mundo. Ontem disse-nos que a França tinha que ser tolerante, aberta aos outros, ser solidario com a Africa...
Antes dizia que tinha orgulho em que o chamasse "sarkozy l'américain", foi dizer ao Bush que lamentava a arrogancia francesa na decisao de nao acompanhar a expediçao ao irak. Ontem disse-nos numa postura bem mais "Gaulista" que a França nao ia permitir que os EU nao aceitassem o combate contra a poluiçao mundial, que a França era amiga dos EU mas que como amiga tinha o dever de dizer-lhe na cara a verdade...
Fez recuar a extrema direita mas ela nao esta desaperecida, esta ai. Fez recuar a extrema direita mas fazendo progredir as suas ideias e nao o contrario. A ideia do ministerio da identidade nacional foi do le pen, a ideia do combate contra maio de 68 foi de le pen... Vai ter que lhes dar de comer, caso contrario a Frente Nacional nao fara 10 nem 15 mas 20 ou 25 !
Por isso, penso que foi mais uma estrategia de acesso ao poder e que a sua maneira de gobernar vai ser totalmente diferente.

Por ultimo, e segundo um grande politologo Francês Dominique reynié, a França é cada vez mais um pais que envelhece, pessoas que dao muita importancia a seguridade, a autoridade, a moralidade e a protecçao. E nao é de estranhar que a maioria das pessoas que votaram em Sarkozy foram as de mais de 60 anos...

Concordo com as criticas a esquerda mas covem nao esquecer que a direita desde maio de 68 esteve ao poder a maioria do tempo. As culpas tem que ser partilhadas por tanto.

Filipe Tourais disse...

Isto é um delírio, só pode ser! Os interesses votaram à esquerda? Quem ganha com o resultado das eleições? Os interesses económicos que, através da precaridade laboral, lançam o risco inerente ao factor capital para o factor trabalho. Se lermos as coisas desta forma, torna-se óbvia a conclusão de quem ganhou, com a violência nas ruas a ajudar na opção securitária.

João Pedro disse...

Estou a ver que o autor blogue (dos Pequeninos, e não tanto o combustões, apesar de também aí haver muitos paradoxos) tem as suas simpatias políticas mais por um desejo do "politicamente incorrecto" e não tanto por razões ideológicas ou pragmáticas. Mais para baixo insulta Blair porque apoio a guerra do Iraque, esquecendo que o seu governo teve vários méritos, mesmo na política externa. Depois apoia Sarko, que deu esse mesmo apoio. Fantástico!

jpt disse...

peço desculpa, pouco percebo (e isto é um rodeio) da política francesa, menos ainda percebo da excitação que prá blogo-aí foi com tais eleições, mas ainda assim venho opinar, questionar:
esta sua citação é a ironizar com o post citado? ou é a subscrever? Caso seja segunda hipótese, leu bem o ponto 3? Foi nosso senhor jesus cristo que desceu À terra e os franceses votaram nele? ou foi um novo PR eleito em França, apenas?
não vai uma excitação demasiada?

cumprimentos

Anónimo disse...

Ou é da minha vista ou o resultado destas eleições ilustram um povo profundamente dividido em duas metades perfeitamente distintas, sendo que o «presidente de todos» ou a mágica «dissolução da base eleitoral do eleito», constituem uma das mais espantosas metafísicas políticas.
Eu por mim não concordo que se eleve o conflito ao topo do Estado.

joshua disse...

Tudo muito bem, mas a verdade é que, em França, e sobretudo no pós-Miterrand, lideranças fortes e coerentes é coisa para esquecer. Tem prevalecido a hipertrofia dos interesses contra a urgência da justiça e de um discurso que valha alguma coisa no que respeita à fiabilidade.

Goste-se ou não, por que motivo não há-de Sarko representar uma liderança de sinal mais em comparação com as figuras menores dos últimos anos, de Chirac a Zapatero.

Detestar por detestar, deteste-se o estilo feudal de Putin e respectivos tiques csaristas, estalinistas, absolutistas. Queixem-se disso, batam-se contra a brutalidade e a máfia que ali se transforma em política.

De Sarko, o escrutínio começa agora.

OLeãoRampante disse...

Estou a ver que este Sr. para si é um Deus. Caro bloggista, se fosse a si, esperava uns tempos... Não sei bem se para a França vai ser assim tão bom. Não se esqueça que as políticas terão que ser feitas para os habitantes da França, e não para os franceses. Outras maneiras há, de por as pessoas a trabalhar.