Estava a almoçar - sardinhas assadas - com uma amiga que me perguntou o que queria dizer a expressão x em latim. O sobrinho, de vinte e tal anos, andava a ler qualquer coisa do José Luís Peixoto e deparou-se-lhe a latinada. E, diz-me ela, não passa dali enquanto tudo não for bem explicadinho. Com Braga por fundo da conversa, ocorreu-me que ao moço talvez não fizesse mal a leitura do "Libertino passeia por Braga, a idolátrica, o seu esplendor", do Pacheco, o verdadeiro, o Luíz. Todavia, que sentido fará para um adolescente de vinte e poucos anos um Pacheco vintage, princípio dos anos sessenta, do "ala para angola é nossa"? Nenhum, porventura. E, no entanto, esse impromtu literário, escrito em Braga, a "16 ou 17 de Outubro, 1961", é, não no sentido piroso do termo, um marco. Delirante, inverosímil, impossível, escabroso, improvável e verdadeiro, porém, um marco. Os parágrafos finais são uma pequena epifania do êxito e do fracasso, em forma de magala, de um prazer por vir. Pacheco faz sempre sentido mesmo quando, apenas em aparência, não faz sentido algum. "Como a Natureza previu todas as nossas fraquezas e ausências, dotou-nos também com outro caralho para o cu detrás. Meto o dedo (médio?) todo no cu, bato a punheta. E a ejaculação, forte porque há dias que estou sem deitar nada cá para fora, dá-me contracções no esfíncter. Gozadíssimas. Venho-me imenso. Estou cada vez mais excitado. Cada passo na escada julgo que é o António que vem e me penetra e me obriga a chupar-lhe o delicioso caralho que não vi. Escândalo. Tribunal Militar. Vergonha. Filhos a saberem tudo. Loucura. Suicídio. Tomo meio Calmax. A pouco e pouco a corda vai-se aligeirando, estou melhor. Mas que vontade de ter pecado. De pecar. Como assim: de viver. Descubro que o êxito e o fracasso são uma e a mesma cadeia e em tudo. O êxito para cima, o fracasso para baixo, e quando digo baixo digo baixo: sujidões, dívidas, vergonhas, podridão, loucura. Mas o que torna tudo igual é que ambas as cadeias se encontram, nada a fazer, meus caros, daqui a cem anos ninguém se lembra. E a nossa lição-abjecção a quem aproveitará? Já tanto faz. Tanto nos faz."
10 comentários:
Estou chocado com o autor do blogue. Pensava que a sua formação moral o impedisse de recorrer a textos porcalhões como este!
Para quê uma coisa destas...?!!!
Que adiantou "isto", a transcrição de uma nojice deste calibre...?!!! Também vai na onda dos panegíricos a este Pacheco esquizofrénico que agora parece estar na moda...?
Francamente, para alimentar o blogue não haveria mais nada...?!
A minha total desaprovação para este "post"! Para quê este lixo...?!!!
Com que objectivo fez o autor do blogue a transcrição deste texto nojento?
Tão alto paira a inteligência, que nós, simples e comuns mortais, não descortinamos o porquê de texto tão ordinário e grosseiro...
Leitora habitual deste blogue, fico desconsolada - e atónita - perante esta porcaria do tal Luiz Pacheco...!
Verdadeitramente dispensável esta obscenidade tramposa...
A sua relação com a Santa Madre Igreja é que se me escapa...
Caro João,
Completamente de acordo com os três comentários anteriores. Não entendo o porquê da publicação do referido excerto de Luis Pacheco.
Leio este blogue diariamente e aprecio imenso as suas opiniões com as quais concordo frequentemente. Desiludiu-me com este post, mas continuarei a visitar o blogue.
Cumprimentos.
Até entendo, ou melhor, seguindo o preceito bíblico, não tenho que conhecer para saber, mas, vá lá, entendo o que o autor do blogue pretende ao colocar aqui esta pérola de um dos grandes autores portugueses de sempre. Mas, visto assim, cum carago, quase que me sinto culpado de achar que não gosto de apanhar ou ir ao cu de magalas ou outros do... género. E meter o dedo no cu também me parece pouco... excitante. Mas, postas assim as coisas, cada um que apanhe onde melhor lhe aprouver e se for apanhado nesses andaimes pela santa madre igreja, pois que salte, que salte que será sempre... acidente de trabalho!
Tentaram normalizar o Pacheco e o Cesariny. Do segundo, dizia o primeiro que era o Poeta dos Urinóis. Bom, sim, antes isso do que avatar da Política actual...
Nada contra, João. Bem pelo contrário! Muito me admiro que tantos ainda leiam a obscenidade lá, onde de facto ela não está. Que não entendam, de uma vez por todas, que não é o que entra pelos olhos ou pelo cu, para quem assim se consola, que nos torna impuros e obscenos: o que nos macula é a indiferença por tudo e por todos; é o arrefecimento do bem e da humanidade, do ágape entre os seres humanos.
Nunca leram o profeta Oseias, as expressões fortíssimas, escatológicas e pornográficas, com que a Bíblia hiperboliza a opressão e a injustiça contra os pequenos no sentido radical e evangélico de pequenos!
Coisas de argueiros e de traves, João. Vamos em frente!
E ENTRE DOIS VEZES DOIS E B-A BA
Nós mijavamos a assobiar contra o muro da escola
Os mestres tapando a boca
VOCÊS NÃO TÊM VERGONHA Nós não tínhamos
Quando a tarde caía subíamos à árvore
Onde de manhã cedo tinham colhido o morto. Vazia
Estava agora a sua árvore. Nós dizíamos: ESTE FOI-SE.
ONDE ESTÃO OS OUTROS? ENTRE RAMO E TERRA HÁ LUGAR.
Heiner Müller, tradução Adolfo Luxúria Canibal
'Venho-me imenso' - isto é magnifica prosa portuguesa. a par das produzidas por lilis claras e outras da mesma linha.
a personagem luiz pacheco é sem nenhuma dúvida muito interessante, a um tempo, insuportável de seguida. como todos, afinal.
depois, cada um escolhe a seu gosto o terreno onde se deseja movimentar onde colocar marcos grãos de areia.
cheio de sorte
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