Para comemorar o solstício do verão, no final dos anos oitenta, eu costumava aparecer no magnífico terraço, com vista para o Tejo, da Manuela Cruzeiro. Era aí que ela recebia fraternalmente os "irmãos" e se celebrava uma cumplicidade antiga com os ciclos, a vida e os outros. Mais tarde, muito mais tarde, em Paris, recordo-me de subir a pé os Champs Elysées por volta da dez, onze da noite, e de avistar por cima do Arco e no céu limpíssimo e absoluto, a claridade nocturna do dia mais longo do ano. Nesse dia passei o final da tarde nos jardins do Palais Royal, onde uma orquestra tocava para um público inesperado em homenagem ao "dia da música". Isto passava-se perto do antigo gabinete de trabalho de André Malraux, esse genial e trágico parodista que foi braço-direito de Charles de Gaulle. Findo o concerto, atravessei o pátio das pirâmides do Louvre e avancei no sentido daquele crepúsculo luminoso e inesquecível. Agora estou apenas entre as estações que mais amo, a primavera e o verão. Parece-me que passaram séculos e não anos por cima daqueles solstícios. O tempo ajuda-nos a entender que o essencial são os instantes, não o durável. Esta "sabedoria" encontrei-a num muro sobre a praia deserta de Ostia, perto de Roma, onde alguém deixou escrito que a vida vale por aquele "attimo" - aquele momento - no qual se joga a eternidade. O terraço da Manuela Cruzeiro ou a felicidade sem rosto pelas ruas cheias de Paris, por exemplo, foram o meu "attimo" em longínquos dias mais longos. Como no título cruel de Vergílio Ferreira, tudo foi morrendo. A felicidade não se detém. Contorna e passa.
10 comentários:
Se fores a baixa pombalina hoje a tarde as perpendiculares (R. Comercio)estarao todas iluminadas e as paralelas (R. Augusta) estara completamente na sombra.Uma pequena perfeição maconica.
Ou será porque o Tejo fica a Sul de Lisboa e assim as ruas ficam-lhe perpendiculares? E o Sol à tarde se pôe a Poente? Os maçónicos sempre aproveitaram bem as condições que tinham, aqui não tinham hipótese de errar...
O post é lindo de qualquer forma!
A felicidade também volta.
... afinal não é só para o Post, está mesmo «morto»!!!.
... assim, só resta a eternidade para aquele "attimo" ... para “atenuar” os longínquos dias mais longos, então vividos, pelas ruas cheias de Paris ...
... mas o tempo tambem nos diz que o “duravel” é composto por “instantes essenciais” constituindo assim muitos “dias longos” – por vezes uma Vida!
... e, tambem depende do que queremos dela – da Vida - se “momentos” – se o “duravel”
... o “crepúsculo luminoso e inesquecível” – está lá – ontem , hoje, sempre ...
... o que acompanhava o “crepúsculo luminoso e inesquecível” é que deve ser a questão ...
(Há é verdade, não quería um nome?)
... a “saudavel doida”
... a partir de 21.Dez começam de novo a "ser mais longos"
... não há "volta a dar"
... é tudo uma "questão de tempo"
... pois, "Contorna e passa"
Eu agradeço-lhe a atenção, mas, sinceramente, entendo que estes posts não são comentáveis.São o que são. Ponto final.E não pretenda ver neles coisas que lá não estão.
Por gentileza, a que comentário se refere?
Realmente, não sei se será para mim, o comentário do autor do Blogue, mas não tinha percebido uma vez que, existe uma janela e, antes da mesma diz “Leave your comment” e, por consequência não tinha percebido que estes Posts não são comentáveis.
E, a questão de “pretender ver coisas que lá não estão” ainda percebo menos.
Peço então muita desculpa, p’los mais variados comentários que por aqui fiz.
E, como é ponto final, vou cumprir o seu desejo, retirar-me-ei, para não causar quaisquer mal-estar e/ou hostilidade, neste Blogue que havia elegido, como preferido
Cordialmente e,
Até sempre
"O essencial são os instantes"
Concordo. No passado, agora e sempre.
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