Pareceu-me ler, de relance, na capa do Público num quiosque, que até ao final do ano o governo tenciona aprovar trezentos (300) diplomas que alegadamente concretizam a "reforma da administração pública". Não sei - porque não os contei- se o dr. Salazar, quando abraçou a pasta das Finanças e redigiu pelo seu próprio punho a "sua" reforma financeira e administrativa, chegou a pôr cá fora tanta legislação. Este exercício fútil que consiste em legislar, legislar e legislar, alterando, revogando e derrogando coisas, algumas das quais nem chegaram a afectar a "realidade", é um empedernido hábito nacional. Não necessariamente porque brota de um "pensamento complexo" - o legislador sabe lá o que é o "pensamento complexo" -, mas porque um jurista que se preze gosta de deixar a sua "leizinha" para a posteridade, mesmo que a posteridade só dure seis meses. Apenas a circunstância de a "reforma" começar desta forma, deve inspirar as maiores desconfianças. Depois de tanto "Simplex", de tanto "Prace" e de outras siglas que não me ocorrem, é preciso voltar aos bons hábitos salazaristas para "mudar" qualquer coisa. Atrofiar a administração pública com mais legislação no pressuposto de a "reformar", é uma espécie de "pescada de rabo na boca". Qual Lampedusa da Pampilheira da Serra, o governo "mexe" em alguma coisa para que tudo fique moderadamente na mesma. O método fala por si. O discurso também.
Adenda: Já li melhor. Uma "comissão técnica", supostamente essencial para o "PRACE, detectou "apenas" cerca de duzentos e cinquenta mil funcionários. Muita gente não lhe ligou nenhuma e pura e simplesmente não acedeu aos pedidos de informação da "comissão". Ficaram de fora, por exemplo, os professores e os magistrados judiciais. Em suma, o Estado não sabe exactamente quem trabalha para ele, onde e por que razão. Sem isso, vão reformar o quê?
8 comentários:
Não compreendo: a reforma da Justiça merece aplauso pelo simples facto de se anunciar (basta saber que vão ser trinta circunscrições...), mas a reforma da Administração Pública, só porque não está esmuiçada e justificada ao pormenor, já é liminarmente rejeitada.
E ainda nos queixamos da duplicidade de critérios de certas arbitragens?...
Vamos esperar para ver, talvez algo de bom saia dali.
"É preciso voltar aos velhos hábitos salazaristas". Nem mais!
Leitora mais ou menos fiel dos meandros da justiça, permita-me dar-lhe um conselho: aguarde para ver antes de aplaudir.
para saber quantos magistrados judiciais existem basta ir à página do Conselho Superior da Magistratura, estão lá todos, com nome e tudo...
Que eu saiba , os tribunais não estão integrados na administração central do Estado, por isso não vejo qual a ligação entre magistrados judiciais e o PRACE.
Claro, a. castanho, não percebe que o PRACE já mexe com o autor?
quando é para reformar os outros, especialmente, se for a justiça, é tudo muito bem, mas quando mexe com o nosso interesse, então é de desconfiar, ou não não fosse jg funcionário público...
Este último anónimo não sabe ler. Se soubesse, veria que eu não sou contra as "reformas" quando elas são a sério e obedecem a um pensamento coerente e lógico. Quem ouvisse ontem o ministro responsável por isto, ficaria ainda com mais dúvidas do que as que ele manifestou. O meu "interesse" é abstracto e não sou assim tão mesquinho ao ponto de me agarrar à minha "capela" que, aliás, não é nenhuma. Sempre entendi que o Estado se serve em qualquer lado. O que eu não aceito é que o Estado sirva para promover corporações, sejam elas quais forem. A medida da redução das circusncrições judiciárias é de elementar bom-senso. O resto não sabemos. Nem o governo.
Sim, e o Pai Natal e o Coelhinho da Páscoa também existem, e os bebés são trazidos de Paris pela cegonha.
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