Na preparação para o orgasmo patriótico do próximo sábado, os jornais fazem eco do que os seus congéneres britânicos andam a dizer. Parece que há quem chame aos rapazolas do sr. Scolari, "malfeitores" e "fingidos". Dar-se-ia o caso de a lustrosa "Aliança Inglesa" dever impôr, só por si, algum comedimento ao outro lado? Não me parece. Tirando o folclore casamenteiro anterior e outras peripécias menores, o pináculo da "Aliança" foi atingido nos séculos XVIII (1703), com o Tratado de Methuen, e XIX, com as invasões francesas e o "bloqueio continental". As indústrias manufactureiras da costa e de "luxo" foram arrasadas com o Tratado de 1703 cuja repercussão no interior foi diminuta. Ontem, como hoje, o "interior" não contava. Coube ao Marquês de Pombal "moderar" os efeitos da coisa com o estabelecimento da Companhia de Vinhos do Douro - criando uma área de capitalismo agrícola, na sequência da política fundiária do Marquês de Alegrete - e com o aproveitamento da mutação no "gosto" vínicola inglês em direcção ao nosso vinho do Porto, ainda no século XVII. Todavia, não chegou para compensar o "desequilíbrio" a favor da Inglaterra. A exportação dos nossos produtos vínicolas internacionalizou definitivamente a matéria, porém sem grandes contrapartidas para a incipiente indústria portuguesa. No meio disto tudo, andava naturalmente o ouro do Brasil e o olho dos ingleses nele. A sua utilização como meio de pagamento anulou os dramáticos esforços manufactureiros domésticos. Como sempre, o ouro "aguentava" o défice. O que se seguiu, também é conhecido. Por causa da "Aliança", Portugal "furou" o "bloqueio continental" ditado por Napoleão contra as exportações da Ilha, foi invadido pelos franceses e, depois, pelos "aliados" supostamente para nos livrarem dos franceses à conta da dita. Pelo sim, pelo não, os ingleses ficaram por cá, a corte pusilanimemente fugiu para o Brasil e, em 1820, deu-se a gloriosa "Revolução" que instituiu o "liberalismo" monárquico-constitucional e, a seguir, o "rotativismo", algo que continua "mais-ou-menos" no actual regime, com o senão da inferior qualidade da maior parte dos protagonistas. Tudo isto pode ser apreendido pela leitura das obras de Jorge Borges de Macedo, de Sandro Sideri (um livrinho muito interessante das "Edições Cosmos", intitulado "Comércio e Poder"), de Raul Brandão ("El-Rei Junot") e de Sttau Monteiro, a peça de teatro "Felizmente há luar". A Inglaterra, como lhe compete, tratou-nos quase sempre com desprezo, ou seja, como "malfeitores" e "fingidos". Por isso, estes jogos florais ligados à bola não têm importância nenhuma. Como diria Shakespeare, eles são o que eles são e nós, para não destoar, somos aquilo que somos. Depois de sábado, tudo ficará exactamente na mesma.
10 comentários:
Vamos lá ver...
... «excelente»
"Depois de sábado, tudo ficará exactamente na mesma."
Antes, e depois deste post,
"idem, idem, aspas, aspas".
Por acaso o meu filho estudou esta matéria no final deste ano lectivo, mas o programa de História até nem foi feito a pensar no mundial...
Com efeito,os "nossos mais antigos aliados"têm sido férteis em demonstrar a sua sobranceria,como aquando do ultimato de 1890.
Costumo dizer que com os ingleses não temos problemas pois temos esta velha aliança em que eles ficam com o ouro, os diamantes, o petróleo, o vinho do Porto, etc. etc. e nós ficamos com a bola. Um acordo simples em que todos ficam felizes. É claro, que não vai ser fácil, que vamos ter que suar, mas no final, não tenho duvidas que ganhamos.
Contra os bretoes marchar marchar.
Para não esquecer,
do Vasco Pumida Valente:
"Os Devoristas».
Um retrato do pós revolução de 1820.
Arripiante.
Correcção: «Pulido», VPV.
Vasco Poliamida Valente je dis.
Pérfida Albion
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