6.10.09

AMÁLIA: FICAR NO CORAÇÃO DAS PESSOAS*



Por trás do espelho quem está
De olhos fixados no meus?
Alguém que passou por cá
E seguiu ao Deus dará
Deixando os olhos nos meus.

Quem dorme na minha cama
E tenta sonhar meus sonhos?
Alguém morreu nesta cama
E lá de longe me chama
Misturado nos meus sonhos.

Tudo o que faço ou não faço
Outros fizeram assim
Daí este meu cansaço
De sentir que quanto faço
Não é feito só por mim.

(letra: Luís de Macedo; fado de Joaquim Campos)


*Em Abril de 1985, na sua casa à Rua de São Bento, passei uma tarde a "entrevistar" Amália para o Semanário. Por lá passaram o João Belchior Viegas (que "arranjou" a entrevista), Maluda e algumas daquelas pessoas a quem Amália nunca dizia que não. "Gostava de ficar no coração das pessoas" foi o título desse trabalho fotografado pelo Alberico Alves. Julgou que fico. Anos volvidos sobre isto, porventura a dois do fim, no Palácio de Belém, recordei-lhe o episódio. Amália sorriu. Afastou-se mas voltou atrás para me dizer "meu querido, reze por mim que estou muito doente". Talvez não fosse isso. Talvez fosse mesmo isto. Só isto. Cansaço.

3 comentários:

Anónimo disse...

Jamais esquecerei a extraordinária ironia da sua resposta quando lhe disseram que o então Presidente da República Mário Soares estivera, por fim, numa cerimónia de homenagem a Pedro Homem de Mello. Disse ela, mais ou menos as seguintes palavras: "Ainda bem! Isso faz-me lembrar que, no dia do seu funeral, só lá estava eu".
Amália era uma extraordinária artista. Não haverá outra. É simplesmente inimitável. Por isso, embora compreenda bem o louvável desejo de homenageá-la, cantando os seus fados, sinto sempre uma enorme decepção. Os seus fados só ela os sabia interpretar. Qualquer outra interpretação decepciona. Era perfeita.

Anónimo disse...

Os mendigos da política que se arrastam por aí há 35 anos chamaram-lhe nomes, difamaram-na até mais não poderem e tudo por uma inveja e raiva inexcedíveis de uma mulher que não precisava do regime para nada e nada o regime lhe ofereceu e eles sabiam-no bem. O que não lhe perdoaram nunca foi ela não se ter misturado com a oposição traidora, corrupta, oportunista e traído o regime. Uma mulher, de tão grandiosa, que foi convidada para cantar na própria União Soviética tal a sua projecção mundial, coisa completamente imperdoável para a micro-gente da então oposição. Uma mulher que foi uma diva, única em talento, personalidade e arte, que os mete a todos num chinelo mesmo e sobretudo depois de morta. Agora que já não podem ferir mais a sua alma boa, que vêem que os portugueses jamais a esquecerão e cada vez adoram mais, se tal é possível, depois deles tudo terem feito para que tal não se viesse a verificar, agora estes insignificantes da política, hipócritas do pior, enaltecem-na e acham-na a maior. Cínicos, invejosos e profundamente maus, todos sem excepção eles sim mereciam ser ostracizados e difamados (com razão) e expulsos do país para todo o sempre. Um nojo de gente.
Maria

Anónimo disse...

Amália enquanto viveu, fez-nos esquecer o país de pulhas e traidores que temos, com a sua voz genuína cantava a tristeza e as alegrias deste povo sofredor, e o povo revia-se nela.
Foi uma grande Senhora.
Cps
S. Guima