19.6.09

UM ESTADO SINO-SOVIÉTICO NA WEST COAST

A administração pública está praticamente paralisada por causa do SIADAP, o novo regime sino-soviético de "avaliação" dos funcionários públicos. Dirigentes máximos e dirigentes intermédios, passando por batalhões de "especialistas" à força, espremem-se para aplicar a maravilhosa invenção do governo do admirável líder, o mesmo que ainda há dois dias, na televisão e com ar amargurado, se lamentava do torpor burocrático do processo de avaliação dos professores. Mais tarde ou mais cedo estes regimes de avaliação perecerão às mãos da sua própria ineficácia e ineficiência. O texto que se segue foi escrito há mais de três anos. Nada mais há a acrescentar.

«O PS aprovou a proposta de lei do governo que fixa a aplicação do Sistema Integrado da Avaliação de Desempenho na Administração Pública (SIADAP). Entre outras coisas, e com a desculpa de que não se "mexia" nisto há décadas, o governo introduz um regime de quotas onde há lugar para os "menos bons" - por exclusão de partes -, para os "muito bons" - não podem exceder os 20% - e para os "excelentes", sempre menos de 5%. Só a ingenuidade ou o estado de beatitude é que podem levar alguém a acreditar nisto e a imaginar que tudo irá ser conduzido dentros dos parâmetros da isenção e da boa-fé. Não vai. Em primeiro lugar, este "sistema" é posto em prática, não pela sua validade ou bondade intrínsecas (que não são nenhumas), mas porque é necessário reduzir a despesa em promoções e em progressões "automáticas". Em segundo lugar, o "sistema" não tem nenhum tipo de coerência interna, nem podia ter, já que, dentro da chamada "função pública", coexistem vários registos diferenciados que o "sistema" pretende tratar da mesma maneira. Depois, o "sistema" destina-se a facilitar o nepotismo hierárquico e o caprichismo dos dirigentes que, assim, podem à vontade exprimir os seus pequenos ódios e as suas pequenas preferências. Até dispôem de "quotas" para o fazer. Finalmente as próprias "quotas" são um perfeito disparate e um convite à bufaria, à discricionariedade e ao carreirismo mais despudorado. Mesmo que existam mais de cinco por cento de "excelentes" ou de vinte por cento de "muito bons", o "sistema" obriga a "comprimir" artificialmente a "dotação" para cumprir a regra. Por detrás deste aparente lance de "modernização" e de "moralização" dos costumes administrativos, apenas espreitam o amiguismo e as práticas de "sovietização" dos serviços públicos. Nada mais.»

João Gonçalves, Portugal dos Pequeninos, Bertrand Editora, 2009.

9 comentários:

joshua disse...

O Nepotismo hierárquico, em última análise, conduzirá a grandes convulsões e a uma expressiva desmobilização que degradará o sistema. Por exemplo, e isto é simplesmente humano, com o Gulag Burocrático do famigerado Modelo de Avaliação, o estalinesco ME apenas logrou uma desmobilização da generosidade dos docentes, aquela que excede o estrito cumprimento dos deveres profissionais.

Por outras palavras, como é slogan no Bloco de Esquerda, as pessoas quando não estão primeiro, não há gestão que nos valha. Estes engenheiros de avaliações começam a olhar para os números. Não tardarão a contemplar a boa merda que engendraram. Está implantado o veneno amiguista, a injustiça das quotas, a tirania dos chefes, de lés a lés na administração pública, coisa que já se passava na coutada dos Interesses em que se movem certo PS e certo PSD.

radical livre disse...

sexa pm, quase sempre confundido com o eng. do largo do rato,
acaba de mudar de imagem.

os seus directores do espectáculo televisivo
encontraram uma "mosca morta" para o ajudar a
fazer "tabula rasa"

para o psiquiatra Plater
havia vários tipos de mentis
imbecilitas, consternatio, defatigatio, alienatio

o homúnculo parecia ter acabado de ler a enciclica g(l)audium e spe

no «manicómio em auto-gestão» continua o espectáculo « a nave dos loucos»

Anónimo disse...

Até o Grande Líder já pratica a auto-critica:"Estou muito contente comigo mesmo!".Ainda acaba como o Lin Piao-o tal do Ma(ri)o a Piao- ou o Primo.

garganta funda.... disse...

O Inginheiro da Treta transformou a West Coast of Europe num vulgar "quistão", ou seja na República Sucialista dos Pr'aquistão, liderada pela Sereníssima e Querídissima Insolência Sócrates.

No Turkemenistão o "SIADAP" de lá do sítio é menos estalinista.
Dizem-me...

sts disse...

Directo ao osso.Quando lhe dá, dá-lhe bem.

Anónimo disse...

Muito actual este post do JG. Efectivamente, este sistema do SIADAP lembra a burocracia soviética. Aonde é que os burocratas do regime foram desencantar tamanha preciosidade e tiveram tanta imaginação para parir este monstro. Estamos em Junho de 2009 e ainda prosssegue o processo de avaliação de 2008 pois as anomalias detectadas são aos milhares.

Anónimo disse...

Lá escreveram o sistema num papel e foi tudo...É bom para o compadrio e mais nada. Alguém sabe de um único serviço onde funcione?

Só há uma coisa a fazer lá mais para Outubro: correr com o humilde Sócrates.

Unknown disse...

O SIADAP em si até poderia ser uma coisa boa. O problema é que não tem nada a ver com o país real. Para funcionar seria necessária uma base de cultura geral muito mais ampla, bom senso, sensibilidade cívica, prestígio da funcionalismo, isenção política no exercício dos cargos públicos, etc. coisas que não existem em Portugal. Digo eu.

Anónimo disse...

"O siadap até poderia ser uma coisa boa". Talvez, caro Francisco. Mas o Siadap está mal desde o princípio: não é simplex, mas complex. O próprio Sócrates já reconheceu a excessiva burocracia. Onde foram descobrir as iluminárias que pariram tal sistema? Nos ex-membros do Comité Central da gloriosa URSS? E não me venha com essas tretas da sensibilidade cívica que começa por não existir naqueles que pariram tamanha enormidade.