13.6.09

ANTÓNIO



diz-me que solidão é essa
que te põe a falar sozinho
diz-me que conversa
estás a ter contigo

diz-me que desprezo é esse
que não olhas p'ra quem quer que seja
ou pensas que não existe
ninguém que te veja

que viagem é essa
que te diriges em todos os sentidos
andas em busca dos sonhos perdidos

lá vai o maluco
lá vai o demente
lá vai ele a passar
assim te chama toda essa gente

mas tu estás sempre ausente e não te conseguem alcançar
mas tu estás sempre ausente e não te conseguem alcançar
mas tu estás sempre ausente e não te conseguem alcançar

diz-me que loucura é essa
que te veste de fantasia
diz-me que te liberta
de vida vazia

diz-me que distância é essa
que levas no teu olhar
que ânsia e que pressa
que queres alcançar

que viagem é essa
que te diriges em todos os sentidos
andas em busca dos sonhos perdidos

lá vai o maluco
lá vai o demente
lá vai ele a passar
assim te chama toda essa gente

mas tu estás sempre ausente e não te conseguem alcançar
mas tu estás sempre ausente e não te conseguem alcançar
mas eu estou sempre ausente e não me conseguem alcançar

não me conseguem alcançar
não me conseguem alcançar
não me conseguem alcançar

António Variações

No dia em que ele desapareceu, há 25 anos, encontrei-me à porta do Califa com um colega de curso para trocarmos apontamentos. Época de exames. Dois anos antes, num Verão antes do tempo, o Frágil abriu no Bairro Alto. O Variações iluminou muitas dessas noites para sempre mortas. Cortava barbas e bigodes e amanhava cabelos madrugada fora à frente daquele espelho gigantesco e belo que abria o Frágil para além de si próprio. Era um homem simples e humilde que, de certeza, se ia dar mal neste lugar frívolo em que tudo e todos se tornaram. Não sei se morreu feliz. Sei que foi amargamente feliz. Como toda a felicidade, a não ser a dos tolos, é.

5 comentários:

Karocha disse...

Foi meu cabeleireiro, durante muitos anos.
Era um homem notável!

radical livre disse...

por volta de 1982 cruzou-se comigo frente ao liceu Camões. levava uma capa amarela.
era um exótico louco. por mim sou a expressão do provérbio latino « em época de loucura, considerar-se imune é uma forma de loucura».
(na minha longínqua juventude aprendiamos a língua mãe- liamos Eneida e Catilinárias no original).

contrastava com os auto denominados intelectuais. estes fazem-me lembrar uma gravura da crónica de Nuremberga: o homem cuja cabeça é o sol que alumia o mundo (mann mit Sonnenkopf)

venho de dar um passeio a pé: os índios estão cada dia mais tristes.
eu «pobrete, mas alegrete»

fado alexandrino. disse...

Coloquei hoje no meu blog o disco com as suas melhores canções.
Particularmente tocante a canção dedicada à Mãe.

Anónimo disse...

a mistura autoritária, militar e presidencialista com uma vivência gay é uma contradição com a qual tendo a simpatizar. belo post

Anónimo disse...

Lembro-me de uma senhora muito tradicional, com um dos grandes nomes históricos de Portugal me dizer com admiração: "Que original que é este Variações". Inteligente, tinha percebido o grande dom dele, numa terra onde impera a mesmice. E essa originalidade era tão imensa que se impos e admirou todos, transversalmente: até hoje nunca ouvi dizer mal de Variações.