9.3.08

PAÍS PUSILÂNIME



«Os regimes, em Portugal, morrem de caquexia. Os médicos que o assistem estão tão doentes como o paciente. A desesperança de quem a tudo assiste estriba-se no reconhecimento da cobardia de quantos, conhecendo o desfecho, nada dizem. Portugal é, decididamente, um prodígio de sobrevivência. Conseguir viver tanto tempo com tão maus governantes e povo tão impassível perante a sua própria desgraça é coisa rara, digna de figurar nos anais do sobrenatural.»




Adenda: Só um país destes é que "comemora" a fuga da coroa para o Brasil. Chamam-lhe, para sossego e ignorância dos coevos, a chegada da corte ao Brasil. Raul Brandão, em El-Rei Junot, conta, com ironia e desprezo, as cenas protagonizadas pelos cortesãos, junto ao cais, em Lisboa, dias antes do embarque para a colónia. Os que agora embandeiram em arco com o grande feito, deviam ler o livrinho do Brandão. A pusilanimidade nacional não nasceu com estes democratas.

13 comentários:

Anónimo disse...

... a propósito dessa fuga, foi o próprio Bonaparte quem disse que o único Rei que o enganou foi D. João VI.

Anónimo disse...

O Rei "fugiu" dentro de território nacional(na época)? E se tivesse "fugido"para Vila Viçosa?E para os Açores? E as retiradas estratégicas,em termos militares,tambem são fugas?Então ha muitos heróis covardes,no seu entender.E como a estratégia é um conceito que não se limita ao campo militar,por que não o Rei usá-la?Essa sua patriótica auto-flagelação,como português(será isso?)parece deveras doentia,sr.Gonçalves.

Anónimo disse...

Raul Brandão também não era grande coisa.

josé ricardo disse...

acabei de ler precisamente a parte que faz referência - a corte junto aos cais. a comédia, como o próprio Raul Brandão sublinhava, é, em Portugal, infinita.

Anónimo disse...

Numa estada recente no Brasil, confirmei o quanto os nossos "irmãos" brasileiros nos apreciam.
Um guia turístico perante um grupo de excursionistas afadigava-se a explicar,com "todo o rigor histórico",como os portugueses uma vez ali chegados,se cagaram todos de medo dos indigenas e fugiram para o interior.
Assim começou a colonização do Brasil.
Nestas e noutras histórias,algumas nas escolas brasileiras, o português é apresentado como uma sub-espécie do género humano.
Tudo isto tem a sua graça, revelando a ignorância e boçalidade dos "nossos irmãos".
Mas semeiam uma imagem muito negativa a que se soma a que parte dos nossos compatriotas ainda se esmera em reforçar.
Sem branquear a verdade histórica,ponham os olhos na forma como os outros povos respeitam o seu passado comum.

Anónimo disse...

Essa citação de Napoleão está mal explicada. Convém saber um pouco sobre a época antes de opinar. Bonaparte sabia do plano de fuga, até porque fora feito em conjunto com os ingleses.

Nuno Castelo-Branco disse...

Todas as retiradas à pressa são inevitavelmente patéticas. Basta ler o que se escreveu durante a II Guerra Mundial, quando da chegada dos alemães à Haia, Atenas, Belgrado, Oslo e principalmente Paris. Enquanto aqueles que "fugiram" salvaram, pelo menos, a soberania e a dignidade dos Estados que titulavam, a França cedeu, negociou e assinou um armistício espúrio, caindo na mais vergonhosa prostração. É bem certo que após 1944, lá foi exacerbando os feitos de uma resistência assaz contraditória e muito mitificada, enfim, coisas de ex-grande potência. Quanto ao nosso caso, se virmos o que se passou mesmo aqui ao lado, em Espanha, concluiremos sem dúvida, que a tal "fuga" valeu bem a pusilanimidade. Valeu e bem, porque ainda - ainda! - somos independentes, pelo menos em termos formais. Quanto ao R. Brandão (decerto seria um daqueles que teria adorado espolinhar-se aos pés de um Junot, um querido francês, erigido em rei de pacotilha "a la José Bonaparte"), confesso não ser grande apreciador do género, mas suspeito que se estivesse vivo naquela manhã dos finais de 1807, teria sido um dos primeiros a atirar-se à água para embarcar, mesmo que fosse obrigado a atravessar o Atlântico dentro de um barril de biscoito ou gorgulho. Típico intelectual-barbaças como os que por cá andam a flanar fátuas vaidades na universidade... Sabes bem quem são e há quanto tempo dizem formar mentalidades.
Neste caso não estamos de acordo, João. Até porque quem tem embandeirado em arco, têm sido os brasileiros, uma vez que, como sempre, em Portugal a efeméride passou despercebida. O resultado do Benfica e as atribulações do Camacho são decerto mais importantes para os brios da nação.

Anónimo disse...

portugal é um pais de espantados histérico repetitivos. se isto se considerar doença...

sempre o mesmo espanto quando se pretende ter encontrado a 'chave' a explicação para o problema português. e essa explicação invariavelmente é um rol de trivialidades que desembocam na nossa incompetência indigência irresponsabilidade incultura ignorância. desses mesmos que notam estes nós de personalidade colectiva, temos também a noticia de alguns que eram mesmo bons e que iriam levar-nos, sei lá, aos píncaros, e que o povo, na sua ignorância, ignorou. (estou em crer que esses salvadores/homens lúcidos, não deviam ser portugueses, ou, se o fossem, não seriam nada daquilo que eram).
de acordo, uma história de amor é sempre uma história de amor diferente, por mais vezes que se repita.

Anónimo disse...

«Bonaparte sabia do plano de fuga, até porque fora feito em conjunto com os ingleses».

Essa agora, então e porque - porventura - o plano fora elaborado com os ingleses, Bonaparte sabia ?
Onde é que isso está dito, escrito ou sugerido ?

Bonaparte sabia tudo, claro, só não sabia é que não «lhe deitava a mão» ...

Zé Luís disse...

Bem resumido pelo Miguel e adendado pelo João. Parabéns a ambos.

Nuno Castelo-Branco disse...

João, só mais uns minutos de antena, p.f.
Junot tinha como missão.
1- Capturar a família real, apoderando-se da soberania
2-Capturar a frota que não era de todo negligenciável, especialmente após Trafalgar.
3-Apoderar-se do Tesouro do Estado

O invasor não conseguiu realizar uma única destas missões que para "Bonnie" eram absolutamente imprescindíveis. Não houve rendição do Estado. Não existiu qualquer abdicação em nome de "Bonnie" ou de qualquer general francês (lembrem--se do que aconteceu aos Bourbon espanhóis em Bayonne). Nem uma só colónia caiu em poder dos franceses e dos seus ALIADOS - há quem disso se esqueça - espanhóis.
Este plano de transferência remontava já aos tempos da Guerra da Restauração e esteve prestes a ser activado quando da invasão franco-espanhola (Guerra Fantástica), nos tempos de D.José I/Pombal. Não era novidade. Não há dúvida de que poderia ter sido executado de forma menos precipitada, mas o Regente pretendeu até ao fim - interpretem como quiserem - preservar a paz, através da diplomacia. No entanto e tal como o sr. Hitler, "Bonnie" não respeitava qualquer tratado assinado e isto, numa época em que o conceito de honorabilidade nada tem em comum com a actual diplomacia. O país foi saqueado, perdemos um inimaginável número de habitantes, mas as humilhações a que outros Estados - como a Espanha, Nápoles, Piemonte, Holanda, Prússia, Áustria, Dinamarca, entre muitos outros- tiveram que se submeter, Portugal esquivou-se. No Memorial de Santa Helena, o corso elucida-nos acerca deste revés que lhe arruinou os planos. Há ainda que sublinhar que, graças à corte no Rio, Portugal sentou-se na chamada Mesa Grande do Congresso de Viena, lado a lado com o RU, Áustria, Rússia, Prússia, Espanha e França. Foi a penúltima vez que foi diplomaticamente considerado como tal. A última, foi em Berlim, sob os auspícios de Bismarck. De resto, a história é bem conhecida e a vitória militar foi incontestável, tanto mais que em 1814, o exército dos "galos de combate" de Wellington, entrava em Toulouse. Nem tudo foi assim tão negativo, mas não me consta que tal surja esculpido em pedra no arco de l'Étoile. As tropas do Regente, fizeram muito melhor figura que as façanhas conseguidas pelos pobres diabos enviados por Afonso Costa para a Flandres (1917-18). Coisas da vida...

Anónimo disse...

Uma das coisas que aprecio em quem escreve texto de opinião é a coerência que, explícita ou implicitamente, é possível apreender no(s) texto(s).

Gostaria de perceber a coerência possível(?) entre os posts "Um país pusilânime" e "O bom pastor", pois a leitura que eu faço dá-me qualquer coisa que me diz que a bota não dá com a perdigota. Como é que o representante máximo de um país pusilânime é entronizado, quando é ele que está no centro da acção que leva a que o país seja considerado pusilânime? É espantoso! Será porque os posts foram escritos em dias diferentes?

Anónimo disse...

Se o D. João VI se tivesse deixado aprisonar, hoje estariam aqui a condená-lo por cobarde, imbecial e incapaz. Como não caiu na esparrela do Napoleão, é também condenado. Faz-me lembrar o ódio dos republicanos à Inglaterra. Depois de 1910, cairam de joelhos perante os ingleses e só Salazar correu com eles daqui para fora.
Pedro Matias
Lisboa