Na Índia existe uma espécie de infra-casta que é designada profissionalmente por recolectores. Os recolectores andam pelas ruas, com umas cabaças à cabeça, e dedicam-se a - como o nome indica - "recolher" os dejectos que as castas mais elevadas aliviam ao ar livre. Faça chuva ou sol, os recolectores lá vão, na sua azáfama diária, com aquilo com que ganham o ordenado e que, em dias de tempestade, acaba por lhes escorrer pela cara abaixo. O governo português e a Ordem dos Advogados criaram a sua pequena "casta" de recolectores, desta feita de multas. Depois de ter desbaratado a defunta DGV, o governo percebeu que andava a perder dinheiro com multas enfiadas em processos que pararam. Com o concurso da Ordem, trinta e dois advogados vão "separar um mínimo de 1000 processos por dia, e fazer pelo menos 30 propostas de decisão diárias", sendo cada proposta "paga a 1,67 euros e cada lote de processos separados vale 50 euros." Se um jurista recolector cumprir um daqueles objectivos ganha no fim do mês cerca de 1050 euros. Sobre isto incidem os habituais descontos legais. Candidataram-se a esta edificante tarefa, para já, cerca de setecentos advogados. Considero que a profissão de advogado possui uma dignidade específica, inconfundível com esta bizarra "missão", tipicamente estadual, de evitar que multas, cuja legalidade na sua emissão é muitas vezes duvidosa, prescrevam. Todavia, no país das "novas oportunidades", em que tudo está a ficar cada vez mais insuportável, tudo é possível. Por isso não admira que os "mais qualificados" acabem a apanhar a porcaria dos outros.
16 comentários:
ao conde drácula do fisco nem os preservativos do noivo escapam ao imposto. futuramento só haverá casamentos de paneleiros
E assim se combate o desemprego: os obreiros da construção civil "saltam" para Espanha, onde laboriosa e honestamente ganham o seu sustento e o de suas famílias, que o seu País lhe nega, enquanto os advogados desempregados se dispõem a optar por "missões", de longe, menos nobres. Enfim, registem-se estes 50 empregos nos prometidos 150.000 e esperemos pela continuação deste "esforço" do Governo.
E é nisto que deu o PRACE, de que tanto e com enorme desfaçatez se orgulha o Sócrates!!!
Fica-se deprimido com um país destes. Setecentos advogados para esta «besogne» serve também para vislumbrar quantos "repositam" nas prateleiras das grandes superfícies comerciais ...
Muito bem visto.
Ora, a luminosa ideia deve ter surgido numa ocasional leitura acerca da medieval recolha de impostos porta a porta. Sugiro aos eméritos advogados, que comecem exactamente por ficarem de tocaia à próxima reunião da direcção do PS na sede do Largo do Rato. Não contentes em ir à dita cuja nos automóveis do Estado - e com o respectivo chauffeur também pago pelo contribuinte -, as excelências deixam-nos parqueados em local PROIBIDO, bem diante do palacete, onde o sinal de interdição é claro. Tens razão, João: somos todos iguais, mas uns são mais iguais que os demais.
A propósito, quem não conhece a "bolinha do escaravelho"? Adapta-se como uma luva a esta situação. Edificante...
Prezado João Gonçalves,
Aprecio demasiado o seu blog e a sua escrita para deixar passar em branco essa infeliz referência a uma suposta "sub-casta" indiana. Permita-me esclarecê-lo de que a etnologia do sub-contintente indiano é demasiado complexa e que a redução holística daquela sociedade ao príncipio das castas é uma intepretação desonesta, embora demasiado propalada pelo Ocidente.
A introdução etnográfica que faz ao seu meritório post está desadequada e só vem ofuscar o brilhantismo das sua análise.
Por favor, caro João Gonçalves, V. é bom demais para se deixar contaminar com essa epidemia contemporânea que é falar do que se não sabe.
Deixe lá o industão para os indianólogos e fale-nos daquilo que bem sabe, que isso já provou que faz muito bem feito.
Talvez um dia possamos encontrar-nos para conversar sobre a Índia. Até lá, registe um nome do maior antropólogo português vivo que é - ao mesmo tempo - uma referência mundial nos estudos sobre a Índia: José Carlos Gomes da Silva, catedrático jubilado do ISCTE.
Sinceros abraços.
1- Quanto aos recolectores de excrementos:
Julgo que é nas «Décadas da Ásia» que vem referida a velha profissão dos compradores de fezes humanas. Tratava-se de chineses que andavam pelas ruas a comprá-las para as usar como adubo.
A curiosidade é que, por motivos evidentes, eram os únicos mercadores que não apregoavam a sua actividade... Usavam uns paus, que batiam uns nos outros, e que faziam um barulho bem conhecido.
2 - Quanto ao assunto das multas:
Em Macau, pelo menos quando eu lá estive (em 1997), as multas não prescreviam:
Se não fossem pagas a tempo, "esperavam pelos seus donos" nos postos de Inspecção Periódica Obrigatória, de onde os carros não saíam sem estarem pagas.
-
NOTA adicional: recentemente, encontrei um amigo meu, em Castelo Branco, que trabalha(va) na DGV. Dentro daquelas "conversas de chacha" que se têm nessas ocasiões, perguntei-lhe:
«Então, pá, muito trabalhinho, não?».
«Nenhum» - respondeu-me ele «Estamos em remodelação. Vou lá todos os dias, mas não faço nada».
O que ninguém diz é quem foi que saiu e fechou a DGV assim... E olhe que o conhece bem...
É o espelho do regime: advogados necessitados subitamente transformados em coadjuvantes da função sancionatória do Estado, tudo sob os auspícios da respectiva Ordem profissional. Estranho país este...
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Obrigado
A advocacia tem, actualmente, três saídas:
1ª
A dos ricos, com suas grandes e vistosas sociedades de advogados, entre as quais, as três maiores, que devem ser sempre escolhidas pelo Estado para o "assessorar" e "defender" (segundo o Dr. Judice);
2ª
A dos pobres, com os advogados a trabalhar por “lotes” de processos para o desfavorecidos do Apoio Judiciário e, agora, para fazer o trabalho que o Estado, através da DGV , não consegue fazer a tempo e horas.
3ª
Cada vez mais rara e em extinção, a dos advogados independentes, que trabalham para a já raríssima senão mesmo extinta “classe média” e para as PME´s que ainda não faliram, ou não foram “comidas” num qualquer processo de fusão ou de aquisição.
A advocacia é o espelho da sociedade que temos!
Merda de sociedade, de facto e de direito!
O Sr. Dr. Marinho já nos tinha habituado a muita coisa, aliás, o País - País ainda se escreverá com letra grande, depois do "acordo" ortográfico ???? - está ávido de muita coisa...
Agora, a esta cena degradante decididamente não...
A minha empregada doméstica ganha suficientemente bem para não ter que ir despachar processos para a ANSR. Aliás, QUALQUER empregada doméstica ganha mais do que um desses "juristas"...
Será talvez curioso que alguém poste por aqui alguma dessas novas e Doutas decisões a proferir pelos novos "artesãos" do Direito...
Curioso: Supostamente, a DGV teria sido extinta e, em seu lugar, criada a ANSR ... Vistas as coisas, constata-se que o site da DGV se mantém activo e vivo ... Enquanto houver dinheiro..."siga a banda!"...
Caro João,
Num Pais em que muito Artesão trabalha "à peça", e sujeito à ditadura do "Orçamento mais barato", e está com sorte se receber sem grandes problemas o devido, não vejo que caiam os "parentes na lama" desses advogados por serem honradamente pagos "à peça".
Antes isso, do que terem alguma "diarreia mental" (é por causa da tal casta ...) legislativa, seja por via de Bruxelas ("ganda" desculpa ...), seja para "solucionar" algum caso mediático de momento, que nos conduzam a situações que, para ser cumprida a dita legislação, as colheres tenham ser de plástico, e etc...
Engraçado, o ponto a que chegámos. Já ninguém diz ou escreve Portugal, mas sim ..."este país"...! Sintomático.
A sopa dos pobres dos advogados...
E assim vão calando a voz ao Marinho, dando sopa aos que nele votaram e que estão famintos....
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