30.3.08

A MÁ EDUCAÇÃO

Em relação a esta "oferta", apenas duas observações. A maioria dos comentários que têm aparecido nos posts sobre a indisciplina nas escolas é de origem anónima. O anonimato é apenas mais um sintoma de que se pode ser pequenino (no pior sentido) eternamente. Dito isto, o livro vai para este professor - Jorge Carreira Maia, de Torres Novas, a quem peço o favor de escrever para sorumbatico@iol.pt, indicando morada para envio do livro - por este comentário:

«Uma das minhas experiências como professor é chegar a um espaço de convívio entre e alunos e ter o sentimento de que, muitos deles, nunca virão a saber seja o que for. A forma como gritam, como "falam", como se relacionam uns com os outros, a forma como estão sentados, etc., etc., indicia a natureza da coisa. E há desculpas que acho inadmissíveis. Dizer que a escola inclui todos os alunos, que há gente que vem de classes sociais baixas e outras tonterias do género. Os alunos comportam-se assim, de forma simiesca, porque politicamente se permite e talvez se queira que a escola se torne um lugar de expressão dos eflúvios afectivos da criançada. Se a tutela, que nome interessante, estivesse de facto interessada em tutelar as escolas, punha-as com ordem em três tempos. Parece que em Inglaterra estão a tratar do caso a partir da responsabilização dos pais. Em Espanha, uma mãe foi condenada a pagar uma indemnização de 14 000 Euros pelo seu filho ter sovado de forma drástica um colega. Parece que a senhora ainda tentou culpar os professores, mas os juízes não foram na fita e condenaram-na por não ter educado a criança. Em Portugal, parece que se prefere o simiesco ao humano.»

14 comentários:

Anónimo disse...

Parabens.
JB

joshua disse...

Olha, João, o prémio está muito bem entregue. É um excelente comentário o do meu colega Jorge, com a cara e o peito abertos.

Sabes, porque me conheces bem disto desde há mais de dois anos, que odeio anonimatos porque tendem a ser vazadouros de malevolência e maledicência gratuita, que para mim as Palavras, como actos performativos de originária predação da verdade, actos de coragem, necessitam de rostos, coisa que tu e tantos de nós, ousam apresentar de todas as vezes.

Deves ter reparado que não concorri a esta vossa iniciativa e poderia, porém fico feliz com tais ideias conjuntas, Portugal dos Pequeninos e Sorumbático. Que se repitam, caso a nenhum de vós onerem.

Aquele Abraço

PALAVROSSAVRVS REX

Anónimo disse...

Parabéns pela atribuição e merecimento do prémio.

E, a propósito de educação ...

À semelhança de outros países, os taxistas portugueses, além de um exame de 'boa' condução, deveriam ser examinados, com rigor, na disciplina de "BOA CONDUTA".

O profissional (?) alcoolizado que há dias atropelou umas crianças numa passadeira, está em liberdade e - PASME-SE ! - a conduzir a mesma viatura.

Este país, Portugal, não é um país de brandos costumes, mas sim um país de BANDALHOS COSTUMES.

Anónimo disse...

Inteiramente de acordo!

Anónimo disse...

Segundo ouvi, a famosa turma, de 29 alunos, tem 20 no vermelho, incluindo a actriz principal que apenas tem positiva a ginástica. Sendo assim, partindo do pricípio que esta não é representativa da qualidade da escola, será que se trata de uma espécie de "clube de falhados"? E terá sido preciso tanto alarido para as-entidades-responsáveis porem estas coisas do ensino nas calhas? Se o Primeiro Sócrates acaba de recuperar a alma, por que não aproveita a maré para acudir a todos os "desalmados" do nosso ensino?

Jorge Carreira Maia disse...

Não sabia da existência do prémio. Agradeço a amabilidade. O título é interessante: A escola explicada aos pais. Julgo, porém, que precisamos de ir mais longe. Hoje, precisamos de explicar a escola a toda a sociedade. Em primeiro lugar, à classe política. Não faz a mínima ideia do que é uma escola. Mas a desgraça não fica por aí. A classe política, nomeadamente a que tem tratado da educação, também não conhece o resto. Há muitos anos que descobri que o ME legisla para alunos, pais e professores que não existem. Umas vezes, fazem-no porque julgam que essas entidades são como eles acham que deveriam ser. Outras vezes, fazem-no para que, por decreto, passem a ser aquilo que eles gostavam que fossem. Mais de trinta anos de equívocos só podem levar ao que está a acontecer.

Peço desculpa pela ocupação de espaço. Aconselho apenas as pessoas que não trabalham em educação a olhar para as designações das escolas portuguesas: EB 1, EBI, EBI+S, EB2/3, EB 2/3 + S, ES, ES/3 e talvez mais algumas designações que me escapam. Só isto é já indício da profunda confusão que é o sistema educativo português. Para não falar no descalabro que é a estrutura curricular nacional e os próprios programas.

Cada novo governo, à esquerda ou à direita, introduz a sua utopia no sistema e esquece-se de apagar as anteriores. Resultado: a soma de múltiplas utopias é uma enorme distopia.

Cumprimentos,
JCMaia

Nuno Castelo-Branco disse...

Curto e incisivo, este comentário, merece o prémio. Uma vez mais, a escola não pode ser para todos. É para quem der provas de nela estar interessado. A escola não é uma anarquia nem uma linha de produção para a mitragem que um certo Bloco estimula para atacar gente indefesa e invadir propriedade alheia. Há por aí muita rua com buracos a tapar e esses alunos seriam um óptimo recurso mesmo à mão. Era só o que faltava! Basta.

Carlos Medina Ribeiro disse...

Como se vê pela imagem da capa, o livro é (ou pretende ser)humorístico, estando cheio de desenhos e gravuras (muitas delas antigas) cujas legendas foram "adaptadas" aos textos.

De qualquer forma, e independentemente do seu valor como obra "literária", este livro serviu para alguns momentos de convívio.

Obrigado, e um abraço a todos os participantes.

Carlos Medina Ribeiro disse...

O «Retrato da Semana», de António Barreto no «Público» de hoje, intitula-se «A balbúrdia na escola» e, na sua maior parte, é dedicado a "descascar" o famigerado ESTATUTO DO ALUNO.
Está no blogue dele, [aqui], e talvez valha a pena ler.

Anónimo disse...

A contradição entre «dizer que a "desculpa" das classes sociais baixas é uma tonteria» e a referência às «multas para os pais por não educarem os seus filhos» é engraçada.
Se realmente se acredita que o problema é da educação, e se quer multar os pais, então não se pode deixar de acreditar na relevância das classes sociais no problema, pois é entre elas que a "educação" é diferente.

Jorge Carreira Maia disse...

Não há qualquer contradição, lógica ou ontológica, entre uma coisa e outra. Fazer uma leitura classista do problema é uma forma de o ocultar e, muitas vezes, de o desculpabilizar. O problema é transversal e reside no facto de a comunidade já não saber qual o comportamento que as crianças devem ostentar na escola. Esse comportamento não nasce connosco, é imposto culturalmente, e é imposto coactivamente, passe o pleonasmo. As famílias ricas, remediadas ou pobres têm de saber que quando se entra numa determinada instituição se deve respeitar as regras dessa instituição. Mas para isso é preciso que essa instituição não seja despojada politicamente de regras. Um exemplo chocante: quem quer que entre nas Forças Armadas, rico, remediado ou pobre, sabe muito bem ao que vai. Nota: não sou militarista, embora tenha respeito pela instituição, nem julgo que a escola deva ser uma caserna. Basta-lhe ser escola.

Anónimo disse...

Pois é.
Mas quando se cumpre o serviço militar,todos cumprem o mesmo RDM.E funciona!!!
Se aplicarmos todas as tonterias que ouvimos nunca isto será um país.
Todas estas teorias descabeladas são puro delírio.
Goste-se ou não,não se consegue viver em sociedade sem regras verdadeiras e não de caca.
O país tem que seguir um rumo planeado pelos melhores de entre nós.
Entregar poder de decisão a rebanhos de oportunistas dá no que se vê,C A O S!

Anónimo disse...

No meio disto tudo e divergindo um pouco em relação ao assunto principal do post, talvez não seja descabido mencionar porque razão se recorre cada vez mais ao anonimato. Porque será?...Basta vermos com um mínimo de atenção o que está a acontecer ao nosso lado...pois é, os velhos tempos estão de regresso e isso é mau, muito mau. Por isso, eu recorro ao anonimato. Por isso, muita gente está a recorrer ao anonimato. Por medo, por puro medo. A liberdade de opinião, já era. Hoje, cada vez mais é uma treta traiçoeira e perigosa. Há umas dezenas de anos também era assim...

Anónimo disse...

Se é facto comprovado que as classes sociais se relacionam com o comportamento na escola e com a "educação" dos alunos (e igualmente com a indisciplina) então o debate sobre o problema tem de passar também por elas, sendo que não nos podemos reduzir à desculpabilização da indisciplina utilizando argumentos classistas. Consagrar um lugar à análise das classes («as classes não são meras posições em hierarquias de rendimentos»)é apenas mais um contributo relevante, mas sem pretensões de explicar tudo.

O diagnóstico parte do que é a realidade, e não do que deveria ser. É certo que se todos os miúdos fossem obrigados a ir para uma instituição escolar do tipo militar, talvez houvesse menos indisciplina. Só não me parece que a Escola vá mudar nesse sentido.

Temos de perceber o que é a Escola, para depois podermos agir sobre ela. O problema é que não podemos agir sobre a variável "classe". Temos então de mexer no resto. E nesse aspecto concordo com o jcm, a Escola tem de se reorganizar extensivamente, não implementando mais regras, mas fazendo cumprir as que existem.